Pachama capta mais R$ 45 milhões para a IA dos créditos de carbono
Com cheque da brasileira Positive Ventures, startup usa tecnologia para garantir integridade dos offsets florestais
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 13 de dezembro de 2023 às 15:43.
Última atualização em 10 de janeiro de 2024 às 12:19.
A Pachama, uma startup que usa tecnologia aplicada para geração e monitoramento de créditos de carbono florestais, acaba de captar US$ 9 milhões (ou cerca de R$ 45 milhões) com uma tese que cruza duas das maiores macrotendências mundiais: sustentabilidade e inteligência artificial.
Uma extensão de uma série B de US$ 55 milhões anunciada no ano passado, o novo aporte conta com um cheque da gestora brasileira Positive Ventures, voltada para investimentos de impacto – com foco em clima, educação e saúde.
“Já tínhamos investido na Pachama em 2021 e agora a startup é a maior posição de nosso primeiro fundo”, afirma Fabio Kestenbaum, sócio-fundador da Positive Ventures.
A captação foi liderada pela T. Capital, braço de corporate venture capital da Deutsche Telecom – maior empresa de telefonia da Europa – e foi acompanhada também pela Lowercarbon, gestora americana que já era investidora da companhia.
No captable da Pachama estão outros fundos renomados na tese climática, como a Breakthrough Energy Ventures, de Bill Gates, e o Amazon Climate Pledge Fund, da Amazon. Ao todo, a startup já captou US$ 88 milhões.
Fundada em 2018 pelo argentino Diego Saez, a Pachama é uma plataforma de tecnologia que usa dados de satélite, drones e inteligência artificial – usando dados de amostras do solo, por exemplo – para identificar os melhores hotspots para geração de créditos de carbono, seja de restauração ou conservação florestal.
Além disso, o sistema permite o acompanhamento do projeto, garantindo que ele realmente está removendo carbono da atmosfera ou evitando emissões. É uma demanda cada vez maior dos compradores de crédito, preocupados com diversos projetos nos últimos anos que acabaram não entregando os benefícios esperados – e se tornaram um pesadelo de relações públicas.
“Ao longo do último ano, o mundo reconheceu a importância de garantir integridade, transparência e impactar os mercados de carbono, e é nisso que a Pachama vem trabalhando desde sua concepção. Esse capital adicional vai nos permitir continuar avançando nessa missão crítica”, diz Saez.
A Pachama começou fornecendo sua tecnologia para os principais desenvolvedores de créditos de carbono, para garantir o acompanhamento do processo de forma mais acurada e menos manual. Mas vem avançando na cadeia.
Lançou um marketplace de créditos de carbono, permitindo a negociação entre os vendedores de projetos que usam sua tecnologia e os compradores que buscam compensar suas emissões. Hoje, centenas de clientes, do porte de Salesforce e Nespresso, usam a plataforma.
No mercado em geral, 2023 foi marcado pelo ceticismo dos compradores, com a queda no volume de créditos de carbono de origem florestal em meio a diversos escândalos de credibilidade de projetos florestais.
Na contramão, o volume de créditos aposentados (ou seja, comercializados e efetivamente usados para compensação) na plataforma da Pachama subiu 57% no terceiro trimestre frente ao mesmo período do ano passado.
A Pachama também vem atuando num modelo em parceria com empresas, nos quais faz a identificação e o monitoramento de programas próprios de créditos de carbono. É o caso do Mercado Livre, que tem um projeto de restauração de florestas chamado Regenera América, com US$ 23,7 milhões em investimentos previstos e dos quais a Pachama é parceira estratégica.
Agora, a companhia está partindo para a captação de fundos específicos para fazer a originação dos créditos de carbono do zero. “O maior gap que se tem é de créditos de carbono de qualidade. A demanda é grande, mas a oferta é pequena e é nesse mercado que eles querem entrar”, diz Kestenbaum, da Positive.
A Pachama tem projetos em 17 países, mas o Brasil é um de seus principais mercados, por conta do potencial de geração de créditos florestais no país.
O investimento foi feito via o primeiro fundo captado pela Positive Ventures, que fez aportes também em empresas como Eureciclo, de créditos de reciclagem, além de teses voltadas para a saúde, com a OyaCare, rede de clínicas voltada para o público, e Labi Exames.
Neste ano, a gestora lançou um novo fundo, de R$ 125 milhões, três vezes maior que o anterior. Segundo Kestenbaum, 80% do capital veio de investidores do primeiro veículo – principalmente family offices e investidores nacionais – e outros 20% vieram de novos investidores dos Estados Unidos, Europa e América Latina.
“Tecnologia para restauração da biodiversidade e combate às mudanças climáticas estão no centro da tese de investimentos do novo fundo”, afirma o gestor.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.