No venture capital, a euforia passou e mercado ficou mais profissional – boa notícia para o Pátria
Para Pedro Melzer, head de VC do Pátria, mercado brasileiro vive agora momento de maior sofisticação e de oportunidades, com preços adequados de entrada e negócios mais resilientes
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 20 de outubro de 2024 às 09:25.
Última atualização em 21 de outubro de 2024 às 14:37.
O ‘oba-oba’ que se viu no mercado de venture capital de 2019 até 2022 não existe mais, mas a animação está, sim, de volta ao mercado – agora numa espécie de otimismo cauteloso, segundo Pedro Melzer, head de venture capital do Pátria.
“Obviamente não são os mesmos números, mas há alguns bilhões de dólares sendo alocados em venture capital na América Latina e no Brasil”, diz Melzer, que chegou ao Pátria no fim de 2022, quando a gestora brasileira comprou a Igah Ventures.
Saiba antes. Receba as notícias do INSIGHT no seu Whatsapp
A gestora de risco trouxe consigo aportes em negócios como CRM&Bonus, Infracommerce e Unico. São mais de US$ 300 milhões sob gestão em três fundos e mais 5 veículos de co-investimento.
O setor aprendeu na marra. De 2019 até o início de 2022 o mercado viveu tempos de bonança, com uma enxurrada de capital, mas a crise do Silicon Valley Bank e a guinada dos juros no mundo e no Brasil mudaram o cenário.
Agora, segundo Melzer, o mercado brasileiro – ainda jovem quando comparado a países mais desenvolvidos, como o norte-americano – está passando por um processo intenso de amadurecimento.
“Houve um certo exagero na alocação de capital em algumas empresas que não estavam preparadas para receber investimentos de fundos. Agora os ajustes e correções necessárias começam a ser feitos.”
Em 2021, quando o setor vivia a euforia, os investimentos superaram os R$ 51 bilhões investidos. Em 2023, esse montante já era de apenas R$ 7,4 bilhões em todo o ano. Mas os números só vieram um pouco melhor, de fato, no segundo semestre, quando os aportes somaram R$ 4,5 bilhões.
No primeiro semestre de 2024, o montante chegou a R$ 3,1 bilhões, 7% acima do reportado no mesmo período de 2023.
Para Melzer, o que o mercado brasileiro vive agora é um momento de maior sofisticação. É um mercado em que a infraestrutura instalada no Brasil permite adoção de tecnologia em massa, com 70% da população conectada por seus smartphones.
Também tem uma base de capital bastante relevante ainda entrando aqui, enquanto o investidor está muito mais rigoroso em suas alocações e os empreendedores têm maior convicção sobre os seus projetos, explica o fundador da Igah.
“A grande diferença que vemos ao comparar com alguns anos atrás é que existe um ambiente mais profissional para as tomadas de decisão. Hoje o ambiente está mais sustentável, mais profissional, mais duradouro. Vamos ter uma leva de empresas mais duradouras agora no mercado”, diz.
Por isso, Melzer vê se abrir uma oportunidade para gestores que, como ele, estão no venture capital com olhar de longo prazo. "Quem tem um programa de venture capital na sua filosofia de investimentos entende que estamos vivendo um momento muito precioso para construir isso, porque há preços adequados de entrada e um grupo de gestores maduros, com track record de terceiro, quarto, quinto fundo, e cases de desinvestimentos muitos expressivos", diz.
Nesse período, em que o gestores tiveram de aprender com erros, ficar mais cautelosos e ter soluções criativas, muitas das saídas de invetimentos saíram da rota tradicional de mercados de capitais e foram para vendas para estratégicos.
Foi o caso da corretora Avenue. A Igah foi a primeira investidora institucional na corretaora de Roberto Lee, que teve 35% vendidos para o Itaú em 2022. "Foi uma venda espetacular que ainda estamos realizando em diferentes janelas, mas é um exemplo específico de que hoje bônus ativos entregam um valor no seu respectivo mercado."
De acordo com Melzer, mesmo com o ritmo ainda recuperação do mercado de VC, as transações se mantiveram mais frequentes para bônus ativos. "Nos últimos 12 meses, devolvemos cerca de R$ 120 milhões para os nossos investidores."
Nos critérios de decisão de investimento, a saúde dos fundamentos da empresa-alvo são o principal elemento observado — um critério que o Igah e o Pátria já tinham em comum, de acordo com Melzer. O negócio pode, sim (e muito provavelmente vai), passar por um período de queima de caixa, mas tem que ter "economics saudáveis" e, à medida que atinge uma escala mínima, ser autossustentável.
"Olhamos com profundidade os empreendedores que estão à frente do negócio, para saber o nível de expertise e de conhecimento que eles têm naquele setor. Tanto que a média dos empreendedores que nós investimos hoje é uma faixa etária um pouco mais elevada, em que eles têm profundo conhecimento nos seus respectivos setores."
Ainda assim, a chegada ao Pátria, no fim de 2022, foi uma virada de chave. Deu "maior para olhar as oportunidades", diz Melzer. À frente da divisão de venture capital do Pátria, que passa de US$ 40 bilhões sob gestão, o time do fundador da Igah pode mirar negócios em diferentes estágios.
Se eventualmente, ele acha ma empresa de alto crescimento e que o fundo de VC tem um cheque limitado para fazer, dentro do Pátria eles conseguem montar veículos e convidar os investidores para participar de um veículo específico para participar dessas empresas.
Além disso, acrescenta Melzer, a Igah e o Pátria tinham um overlap quando se observa os setores de interesse. Um exemplo é o setor de saúde, em que a Igah investiu em algumas health techs, como a Labi, de serviços laboratoriais, ou a Conexa, plataforma de telemedicina.
"Então, hoje nós temos o benefício de, quando analisamos uma empresa no âmbito do venture capital, ganhamos de presente a inteligência do setor como um todo, dado a escala do private equity, que olha a cadeia inteira."
Além das healthtechs, no radar da divisão de VC do Pátria estão startups de softwares nichados, que têm baixa integração e potencial de ganho de escala, além do setor agro, com startups voltadas para clima e soluções ambientais. O setor de varejo, um dos que o Pátria é bastante ativo no private equity, também está na mira, com empresas que atuem em ganhos de eficiência e combate a fraudes.
Tudo isso sempre observando se há um componente de inteligência artificial no negócio. "Mas menos IA do ponto de vista de como um produto e muito mais como ferramentas que estão usando IA para melhorar a eficiência na ponta."
Saiba antes. Receba o Insight no seu email
Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade
Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado