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No Nubank, um call fora do consenso – e um sinal amarelo na qualidade do crédito

XP elenca três indicadores que mostram aumento no perfil de risco e podem colocar ROE de 40% no Brasil em xeque

Nubank: Ações avançam mais de 130% em 12 meses, com múltiplos bem superiores aos dos incumbentes (Foto: Divulgação) (Nubank/divulgação/Divulgação)
Nubank: Ações avançam mais de 130% em 12 meses, com múltiplos bem superiores aos dos incumbentes (Foto: Divulgação) (Nubank/divulgação/Divulgação)
Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 7 de março de 2024 às 12:21.

Última atualização em 7 de março de 2024 às 12:22.

Com crescimento vertiginoso da receita e da rentabilidade, o Nubank se tornou o queridinho dos investidores, com alta de mais de 130% na Nyse nos últimos 12 meses e múltiplos em bolsa muito superiores aos dos incumbentes.

Num relatório divulgado hoje aos clientes, no entanto, a XP acendeu uma luz amarela sobre a qualidade do portfólio de crédito, especialmente no cartão de crédito, que ainda responde por boa parte dos resultados do roxinho.

“Temos dúvidas sobre a sustentabilidade do ROE [retorno sobre patrimônio] de 40% das operações do Brasil, escreveu a equipe liderada por Bernardo Guttmann.

O que mais chama atenção dos analistas é um indicador específico: o percentual da carteira de cartões de crédito do banco que está gerando receitas com juros. Quando os clientes pagam em uma prestação ou no parcelado sem juros, eles geram para o banco apenas a taxa de intercâmbio.

No momento em que começam a ter dificuldade para pagar as contas, no entanto, pagando o mínimo da fatura e não o valor total, eles passam ser clientes de empréstimo, pagando juros. Em outras palavras, antes de dar o default, esses clientes se tornam mais rentáveis para a instituição financeira.

No Nubank, o percentual do portfólio de cartão de crédito que estava na carteira de juros era de 20% ao fim de 2022, abaixo da média de 26% do Sistema Financeiro Nacional (SFN) como um todo. Em 2023, a situação se inverteu: ao fim do ano, essa taxa no Nubank era de 30%, enquanto a do SFN caiu para 23%.

“O risco percebido do caso parece estar aumentando sem um aumento correspondente no conservadorismo das provisões, uma prática comum no setor financeiro. Como resultado, os investidores deveriam demandar retornos mais elevados para compensar os riscos mais elevados”, alertam os analistas.

O XP tem recomendação neutra para os BDRs do Nubank, com preço-alvo de R$ 7,7. Os papéis são negociados hoje próximos a casa dos R$ 9,20.

Antes de qualquer coisa, a XP deixa claro que não vê nenhuma manobra ou ilegalidade nas práticas do Nubank: está tudo dentro dos conformes com a regulação. Mas o risco é que, em algum momento, o banco tenha que fazer uma provisão maior para fazer frente a esse perfil mais arriscado de crédito, pesando sobre a última linha do balanço.

Segundo a XP, a direção do Nubank vem sinalizando que seu objetivo não é minimizar a inadimplência, mas otimizar os retornos. “O banco faz um trabalho excelente provendo empréstimos a segmentos que não tinham acesso ao crédito, mas há alguns sinais de crescimento acelerado que nos chamam atenção.”

Além da porcentagem de clientes de crédito gerando receita com juros, outro sinal amarelo vem do aumento das taxas cobradas no portfólio de empréstimos. Ela deu um salto em meados de 2022, num momento em que o Nubank estava reprecificando seu portfólio. Mas, a partir do segundo trimestre de 2023, houve um novo aumento mais ‘isolado’. “Esse salto pode refletir um aumento da percepção de risco”, diz a XP.

Outro fator que o banco está acompanhando de perto são as baixas de créditos não performados.

Com uma carteira de crescimento mais elevado, o Nubank tem uma política diferente dos incumbentes para dar baixa em créditos não performados: enquanto os bancos mais tradicionais fazem essa limpeza para créditos em default a mais de 360 dias, no Nu, ela acontece após 120 dias.

De novo, nada fora do que prevê a regulação. Mas o resultado é a base de comparação fica prejudicada, já que o índice de inadimplência, medido pelo NPL, que leva em conta apenas a carteira ativa, tende a ser menor que a da concorrência. Nesse sentido, os write-offs seriam uma proxy melhor do comportamento da carteira.

“Reconhecemos que a modelagem de risco é um campo complexo e que certas decisões de negócios podem impactar as práticas de provisionamento”, diz Guttmann. “Contudo, acreditamos que as práticas recentes para endereçar potenciais questões de deterioração da qualidade de crédito aumentam o risco do caso”.

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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