No GPA, pressão da dívida cai e foco é rentabilidade. Resta convencer o mercado
Prejuízo líquido das operações continuadas ficou 15,9% menor no segundo trimestre, chegando a R$ 272 milhões; margem bruta chegou ao maior patamar desde 2020
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 6 de agosto de 2024 às 19:47.
Última atualização em 6 de agosto de 2024 às 20:09.
O GPA colocou o pé no acelerador para reduzir a alavancagem e voltar a ser um negócio rentável. Agora resta convencer o mercado de que não é uma mudança pontual, mas, sim, estrutural.
No fim de junho veio o episódio final dos desinvestimentos. Vendeu os postos de gasolina, sendo a grande maioria para o grupo Ultra, dono da rede Ipiranga.
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Com a venda de todos ativos non core, que incluem, além dos postos, a Cnova e o colombiano Éxito, e, também, com a venda da sede e de alguns terrenos e imóveis, a empresa passou de uma alavancagem de 10,6 vezes no segundo trimestre de 2023 para 2,8 vezes ao fim de junho deste ano.
Ainda que reconheçam as melhorias recentes, os analistas sell side continuam recomendando neutralidade em relação à ação.
Para o Itaú, que retomou a cobertura em maio, não há perspectiva de lucro no médio prazo. Para o Citi, a operação agora é mais simples, o que é positivo. Mas também não é possível projetar uma melhora maior da última linha e a geração de fluxo de caixa livre ainda é mais limitada. No segundo trimestre, o fluxo de caixa livre operacional caiu de R$ 220 milhões para R$ 63 milhões.
“Do nosso lado, vamos continuar fazendo consistência de entrega. As melhorias têm sido contínuas, superando o planejamento que anunciamos em 2022”, defende Marcelo Pimentel, CEO do GPA.
A companhia projetava chegar ao fim de 2024 com margem Ebitda entre 8% e 9%, uma meta que acabou suspensa à época do follow on, no início deste ano.
Ainda assim, o que estava nos planos já saiu do papel. No segundo trimestre, com Ebitda ajustado de R$ 396 milhões, a margem chegou a 8,8%, 3,1 ponto percentual acima do mesmo período.
O indicador já reflete ganhos operacionais. A receita líquida cresceu 2,5%, para R$ 4,49 bilhões, ficando abaixo das projeções de mercado, mas com a companhia conseguindo conter o ritmo de crescimento dos custos. O lucro bruto foi 9,9% maior, com uma margem de 28,2%, 1,9 ponto percentual a mais do que um ano antes e maior patamar desde 2020.
Além disso, a linha de despesas cresceu apenas 1,5%, representando 20,4% das receitas, 0,2 ponto percentuais a menos do que no segundo trimestre de 2023. “Reflete a melhora da estratégia comercial e a nossa disciplina com as despesas”, diz Pimentel.
Ao fim do período, a última linha do balanço foi um prejuízo líquido das operações continuadas de R$ 272 milhões, 15,9% menor do que um ano antes. No consolidado, o prejuízo líquido ficou 21,9% menor, a R$ 332 milhões.
Os números poderiam ser melhores, não fosse o cenário macroeconômico, acredita o CEO. Ainda assim, argumenta que “os fundamentos melhoraram” e os ganhos não são marginais.
Com especial foco na bandeira Pão de Açúcar, o GPA segue apostando em consolidar sua posição no mercado premium. Para isso, adotou estratégias claras.
Quer adensar a participação no mercado de São Paulo e abrir mais lojas de proximidade, sob a bandeira Minuto Pão de Açúcar. Em 12 meses, foram 51 lojas abertas no total, com a grande maioria sendo das lojas menores. No segundo trimestre, das 10 inaugurações, uma foi de supermercado e outras nove de Minuto Pão de Açúcar.
Não é à toa. O formato de proximidade reportou um crescimento de vendas em mesmas lojas de 6,9%, contra 3,4% do geral, excluindo efeitos de sazonalidade.
Também tem investido no programa de fidelidade, o Pão de Açúcar Mais, que ganhou três níveis (cliente mais, gold e black) para aumentar a recorrência, a rentabilidade e intensificar o relacionamento com os clientes. Ao fim do segundo trimestre, o NPS, indicador que mede a satisfação de um cliente, chegou a 86, um recorde.
O Pão de Açúcar Mais também é relevante para duas outras fontes de receita da companhia.
Uma é o e-commerce, que cresceu 15,6% e chegou a uma penetração das vendas totais de 12,6%, agora sem penalizar as margens. “Tem rentabilidade de duplo dígito. Se consolida como canal rentável para nós”, destaca o CEO.
A outra alavanca de receita para o GPA impulsionada pelos dados e análises possíveis com o clube de fidelidade é a operação de retail media, que engloba tanto a venda do espaço de mídia nas lojas quanto o fornecimento de inteligência comercial para os fornecedores.
A companhia ainda não abre tantos números da divisão, mas destaca que no primeiro semestre registrou 90 fornecedores com 200 campanhas.
Futuro com o Casino
Ainda com 22,5% das ações do GPA, o Casino já sinalizou que não pretende mais ter negócios na América Latina. No entanto, em resposta ao INSIGHT, negou ter contratado assessoria financeira para vender a participação.
“Como o grupo se retirou da América Latina, agora considera a sua participação no GPA como um investimento e administra esse investimento como qualquer investidor faria. Ou seja: compra, mantém e vende de acordo com o que ele julgar melhor em determinado momento”, diz em e-mail enviado pela comunicação do grupo francês.
A potencial venda da fatia em Bolsa é uma das possibilidades no radar dos investidores, que veem a saída dos franceses como positiva. Recentemente, o chileno Cencosud, que opera o Giga Atacado, negou notícias de que estaria negociando a compra do stake.
O GPA também não comenta as decisões dos acionistas.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado