No casamento de Azul e Gol, um impulso para a Embraer
Em teleconferência, Azul sinalizou a possibilidade de usar jatos E2 da fabricante nacional em algumas das rotas mais movimentadas da Gol para melhorar eficiência da frota
Rebecca Crepaldi
Repórter de finanças
Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 16:38.
Última atualização em 16 de janeiro de 2025 às 16:56.
A notícia sobre uma potencial fusão entre Azul e Gol não foi só boa para os papéis das empresas envolvidas, como está dando força para as ações da Embraer, que sobem mais de 2%, mesmo em um dia fraco para a bolsa.
A leitura é que, juntas, as empresas têm mais poder de fogo, o que reduz o risco de pagamento da Azul à Embraer – a companhia é um de seus principais clientes. Mais que isso, abre ainda a possibilidade de novos pedidos para o jato E2, diz Lucas Marquiori, do BTG (mesmo grupo de controle da Exame) em relatório.
“Em uma teleconferência com analistas ontem à noite, a equipe de gestão da Azul comentou sobre a possibilidade de usar jatos E2 em algumas das rotas mais movimentadas da Gol para melhorar a eficiência geral da frota”, escreve o analista.
Isso incluiria a famosa rota Rio-SP, entre Congonhas e Santos Dumont, onde a Gol utiliza seus aviões mais eficientes.
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A Azul já utiliza E2 nessa mesma rota, mas sua participação em Congonhas, em 25%, é atualmente inferior à da Gol, que tem 38% dos slots.
A Gol utiliza, atualmente, uma frota de modelo único com Boeings na rota Congonhas-Santos Dumont. Isso facilita a manutenção e operação, mas pode limitar a flexibilidade em rotas que não demandam aviões grandes, como em horários de menor movimento.
Não é esperado que os E2 sejam utilizados em horários de pico, pois a demanda nesses horários provavelmente excede a capacidade dos jatos pequenos. O uso, segundo o relatório, seria uma opção para complementar a operação de aeronaves maiores em períodos de menor demanda, como no meio-dia e à tarde.
Evidentemente, esses pedidos não seriam no curto prazo, devido às inúmeras incertezas envolvendo a aprovação da fusão, além de gargalos de oferta pela indústria de fabricantes de aeronaves (incluindo a Embraer), que está resultando em entregas consistentemente menores.
“Mesmo assim, uma vez que a nova empresa esteja devidamente formada e totalmente operacional, novos pedidos de E2 podem ocorrer se a gestão da Azul seguir adiante com a intenção de intensificar o uso das aeronaves em outras rotas.”
Por parte do governo, aumentar o uso de unidades produzidas localmente também pode aumentar seu capital político, acrescenta o BTG.
A potencial fusão também reduz os temores em relação à capacidade de pagamento da Azul, reduzindo as incertezas em relação aos recebíveis que detém contra a fabricante de aeronaves.
A fusão Azul com a Gol, caso se concretize, deve facilitar o acesso de ambas as empresas aos mercados de capitais, aponta o banco.
O cenário ainda não é de céu azul. Mas parece estar ficando um pouco menos nublado.
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Rebecca Crepaldi
Repórter de finançasJornalista formada pela Unesp, mestranda em Jornalismo Científico na Unicamp e especializada em Jornalismo Econômico pela FGV. Tem mais de 5 anos de experiência em redação com passagens pelo G1 e Estadão.