Natura: Venda da The Body Shop entra em fase final – e desconto não surpreende
Transação deve ficar “substancialmente” abaixo de 400 milhões de libras, menos da metade do valor pago na aquisição em 2017
Publicado em 30 de outubro de 2023 às 10:38.
Última atualização em 27 de dezembro de 2023 às 17:48.
Dois meses após anunciar que estava colocando a The Body Shop oficialmente à venda, a Natura &Co confirmou hoje que está em negociações exclusivas com a firma de private equity europeia Aurelius Group. O timing foi mais rápido do que o mercado previa, mas tudo indica que vai receber bem menos do que pagou à L’Oréal para comprar a marca em 2017.
Segundo a emissora britânica Sky News, que tinha antecipado a notícia no fim de semana, o valor negociado deve ficar “substancialmente abaixo” de 400 milhões a 500 milhões de libras esterlinas (algo entre US$ 485 milhões e US$ 605 milhões). Há seis anos, a Natura pagou cerca de US$ 900 milhões para comprar a The Body Shop da L’Oréal.
Apesar do desconto na venda, o valor não deve surpreender o mercado. Uma pesquisa divulgada há algumas semanas pelo Itaú, mostra que o buyside não tinha grandes expectativas pelo valuation da transação: a maior parte, 36,4%, esperava um valor entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões. Apenas 6,1% acreditavam em ofertas acima de US$ 400 milhões.
As ações da Natura &Co abriram o pregão em alta de 2,40%. “A essa altura é menos uma questão de quanto a Natura vai receber e mais uma questão de passar a régua do negócio, que queima caixa, e focar de fato na operação da América Latina. Nos últimos anos, o processo de expansão e internacionalização foi uma grande distração para o que a companhia realmente sabe fazer”, aponta um gestor que tem o papel.
A Natura já tentou colocar a The Body Shop à venda no ano passado, mas as propostas recebidas não agradaram – e não seriam suficientes para entregar a desalavancagem necessária à época. Nesse cenário, a empresa preferiu se desfazer primeiro da Aesop, sua joia da coroa em termos de crescimento. A venda foi anunciada em abril, por US$ 2,5 bilhões, e concluída no fim de agosto.
Em entrevista após os resultados do segundo trimestre, o CEO Fábio Barbosa afirmou que o “caminhão de dinheiro” que estava prestes a entrar no balanço reduziu a pressão sobre a companhia e que não era preciso ter pressa para vender a The Body Shop.
Mas, ao que tudo indica, o apetite pelo ativo não era dos melhores. Ainda segundo a Sky News, o Aurelius desbancou outros dois fundos de private equity britânicos. Não houve ofertas de estratégicos e nem de gestoras mais tradicionais no cenário global. Quando comprou a The Body Shop, a Natura competiu com players como CVC e Advent.
Calcada no varejo físico, a The Body Shop vem perdendo receitas e queimando caixa, numa situação agravada pela Guerra da Ucrânia, que machucou os resultados no seu principal mercado, a Europa. “A marca esta mais ‘cansada’. Também aumentou a competição de players com a mesma proposta de valor e eles ainda queimam caixa com essa divisão”, observa um analista.
Em entrevista após o segundo trimestre, Barbosa e Guilherme Castellan, CFO do grupo, reforçaram que estavam “revisando o diagnóstico” da The Body Shop. De acordo com os dois executivos, era preciso “despoluir o visual das lojas” com redução de itens (SKUs) e avaliar a presença física.
Mas mesmo melhorias obtidas ao longo da primeira metade desse ano não foram suficientes para deixar o negócio mais saudável. A receita no primeiro semestre ainda é 14,4% menor do que o mesmo período do ano anterior, a R$ 1,65 bilhão, com margem Ebitda de apenas 5,8%.
Neste ano, a companhia recrutou Ian Bickley, ex-CEO da Coach e que fazia parte do board da Natura &Co para pilotar a reestruturação.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado
Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.