Na Multiplan, saída do OTPP vira ganha-ganha para acionistas
Família Peres vai adquirir parte das ações e restante será adquirido pela própria Multiplan via recompra de R$ 2 bilhões, aumentando retorno para investidores
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 20 de setembro de 2024 às 14:00.
Do limão, uma limonada – ou uma bela caipirinha. O que poderia ser um detrator para a Multiplan, a saída do Ontario Teachers Pension Plan (OTPP) do bloco controlador acabou se aprovando um gerador de valor.
A companhia anunciou que a fatia de 18,5% vai ser comprada tanto pela família Peres – reforçando o seu compromisso com o negócio –, quanto pela própria Multiplan por um valor total de R$ 2,5 bilhões – ou R$ 22,21 por ação, um desconto de 16% em relação ao valor de tela.
Do valor total, os Peres vão desembolsar R$ 471 milhões para aumentar sua fatia.
O restante, cerca de R$ 2 bilhões, virá na forma de um programa brutal de recompra de ações, com posterior cancelamento – o que aumenta a liquidez dos papéis e eleva o lucro por ação.
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Pelo valor fechado, a Multiplan está precificando os ativos a um cap rate de 13,7%, considerando a previsão de receita para 2025, um preço atrativo especialmente considerando o portfólio premium de shoppings da companhia.
A título de comparação, outras transações, como as feitas pela Allos na venda de parte de seus shoppings para fundos de investimento imobiliário (FII), avaliaram os ativos em 8%.
(O cap rate é uma razão da receita com aluguéis pelo valor pago pelos ativos – quanto menor, mais valorizado o empreendimento.)
“Foi o melhor cenário que poderia acontecer. Sem overhang e com criação de valor para o acionista”, diz um gestor que tem o papel no portfólio.
Na expectativa de uma resolução que incluísse recompra ou distribuição de dividendos extraordinários, o mercado já tinha antecipado parte do movimento.
Hoje, num dia negativo para o Ibovespa, a Multiplan negocia em baixa de 0,90%, a R$ 26,30 – ainda abaixo dos pares de shoppings, que caem com o aumento da taxa de juros de longo prazo.
O programa de recompra depende da aprovação de assembleia de acionistas, convocada para o dia 21 de outubro. Apenas os minoritários votarão, com abstenção da família Peres e do OTPP.
Após a conclusão do negócio, a família Peres deve sair de 26% para 35% do capital, enquanto o free-float vai passar de 55% para 65%.
A Multiplan vai precisar levantar dívida para fazer o programa de recompra, mas tem um espaço confortável no balanço para isso. A alavancagem, hoje em 1,3 vez dívida líquida/EBITDA, deve passar para 2,4 vezes.
“A companhia vai ter espaço para continuar seus planos de capex, principalmente por meio de expansões, de entrar em novos M&As, se necessário”, disse em relatório o analista Gustavo Cambauva, do BTG (do mesmo grupo de controle da Exame).
Segundo ele, mesmo com o negócio já precificado, a empresa ainda negocia a um múltiplo bastante atrativo, de 10,8 vezes em relação ao fluxo de caixa dos ativos para 2025.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.