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Política monetária

Na contramão: Por que o Citi ainda aposta numa guinada dovish do Fed

Dados do mercado de trabalho estão poluídos, aponta o banco, e a tendência é que tanto empregos quanto inflação cedam; casa prevê corte de 125 pontos-base no segundo semestre deste ano

Citi: banco projeta 125 pontos-base de corte em 2025 (citi/Divulgação)
Citi: banco projeta 125 pontos-base de corte em 2025 (citi/Divulgação)
Rebecca Crepaldi

Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 14 de janeiro de 2025 às 15:32.

Última atualização em 14 de janeiro de 2025 às 20:50.

O horizonte para o primeiro corte de juros nos Estados Unidos parece estar cada vez mais distante, com as taxas dos títulos de 10 anos do Tesouro americano batendo próximas dos 5% – o maior valor em quase duas décadas, fazendo a bolsa americana devolver grande parte da alta desde a eleição de Donald Trump.

Após números do payroll, relatório de empregos não-agrícolas do setor privado, virem muito acima do esperado, tornou-se praticamente consenso no mercado que o Fed irá manter os juros na próxima reunião.

As apostas para o primeiro corte de juros de 2025, segundo a plataforma FedWatch, do CME Group, migraram de maio para junho. Em visões mais agressivas, há quem diga que o Fed poderá não cortar juros neste ano — ou, até, iniciar um ciclo de aperto monetário.

O Citi, no entanto, está indo na contramão – e afirma que ainda há espaço para cortes de 125 pontos-base neste ano. Os dados mais fortes no mercado de trabalho devem levar a manutenção na reunião de janeiro e também na março, aponta o banco.

"No entanto, em nosso cenário base, acreditamos que há evidências que o mercado de trabalho está gradualmente se enfraquecendo e que a inflação está desacelerando, levando o Fed a realizar uma série de cortes nas taxas mais tarde neste ano", disse em relatório assinado pelo economista-chefe para os Estados Unidos Andrew Hollenhorst.

Para o Citi, os dados de emprego têm vindo com ruídos e estão sendo submetidos a revisões, o que deixa os analistas “relutantes em interpretar demais qualquer mês isolado”.

O relatório aponta que o emprego no setor de serviços continua sustentando as contratações, mas os empregos na indústria estão diminuindo, enquanto o emprego na construção está fraco – tendências estas que podem continuar com esses setores em contração.

“As autoridades do Fed provavelmente serão mais convencidas pela recente estabilidade da taxa de desemprego na faixa de 4,0%-4,2%”, afirma o Citi.

Para o banco, um enfraquecimento contínuo do mercado de trabalho fará o Fed a retomar os cortes de taxa em maio e, em seguida, continuar reduzindo nas reuniões consecutivas à medida que o desemprego começar a subir acima dos níveis consistentes com o “pleno emprego”.

Mesmo que a taxa de desemprego permaneça na faixa atual de 4%, o Citi ainda espera que o Fed adote um caminho mais “dovish” (favorável a juros mais baixos) do que o que o mercado está precificando.

Isso por conta das perspectivas para a inflação. A expectativa é que o indicador de preço continue caminhando em direção na meta, especialmente por conta da menor pressão dos preços para habitação, que tem pressionado o PCE. "Com os preços das casas aumentando mais lentamente agora e os aluguéis já esfriando há algum tempo, vemos mais riscos de que os preços para habitação fiquem abaixo do esperado."

O dado mais importante virá nesta quarta-feira, 15, quando será divulgado o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês). O Citi prevê um aumento de 0,228% mês a mês no núcleo do CPI, com risco de alta em categorias como tarifas aéreas, que podem ser mais fortes do que os 0,3% projetados na comparação mensal.

No entanto, o banco afirma que, como evidenciado em novembro, mesmo um aumento mais forte de 0,3% ainda pode ser consistente com uma inflação mais moderada do núcleo do PCE, o que ainda está alinhado com a tese de cortes neste ano. “Com base em nossas expectativas finais para vários componentes do CPI e do PPI, estamos projetando um aumento de 0,20% mês a mês na inflação do núcleo do PCE em dezembro.”

Os analistas do banco reconhecem que as incertezas em relação às políticas de Trump, tanto em relação a tarifas quanto imigração, tem deixado alguns diretores do Fed mais conservadores em cortar juros. "Mas acreditamos que o ambiente macroeconômico na segunda metade do ano vai superar essas preocupações."

O alto nível dos juros futuros também é um dos fatores que pode tornar o banco central americano mais propenso a uma virada dovish, caso haja qualquer surpresa em relação aos indicadores de atividade.

"Por enquanto, os policymakers provavelmente estão vendo as taxas de longo prazo mais altas no mercado como reflexo desta força da economia, e não sentem a necessidade de reagir com uma política mais dovish. Mas yields altos sustentados por longo período e declínios adicionais nos preços das ações podem fazer com que os diretores fiquem mais tentados a fazer uma guinada dovish a qualquer sinal de enfraquecimento do mercado de trabalho e dos empregos."

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Rebecca Crepaldi

Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Jornalista formada pela Unesp, mestranda em Jornalismo Científico na Unicamp e especializada em Jornalismo Econômico pela FGV. Tem mais de 5 anos de experiência em redação com passagens pelo G1 e Estadão.

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