Na Armac, upgrade da Fitch coroa a tese
Agência de rating vê crescimento com desalavancagem e cita “capacidade de transformar investimento em EBITDA”
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 17 de outubro de 2023 às 15:41.
Última atualização em 18 de outubro de 2023 às 17:06.
Enquanto a maior parte das companhias que vieram a mercado na safra de IPOs de 2021 foi pega de surpresa pela disparada na taxa de juros, a Armac, que atua no aluguel de máquinas de linha amarela (tratores, escavadeiras e outros equipamentos pesados), é uma das poucas que conseguiram ir na contramão.
A companhia – que vem investindo mais de R$ 1 bilhão por ano para expandir sua frota num ritmo impressionante, de pouco mais de mil máquinas em 2020 para quase 10 mil máquinas ao fim junho – recebeu um upgrade da Fitch na sua nota de crédito, que saiu de A+ para AA-. A perspectiva é estável.
No relatório de análise, a agência cita a “gradativa diminuição dos riscos de execução do plano de crescimento da companhia” e de “sua capacidade de transformar investimentos em EBITDA”.
Com o perfil de dívida alongado, com vencimentos mais importantes apenas a partir de 2028, a Armac não pretende acessar o mercado tão cedo. Mas, mais do que baratear o custo de capital, o aval da Fitch consolida a nova fase da companhia, que não depende mais dos recursos do IPO ou de crédito para financiar seu plano ambicioso plano de expansão.
De acordo com a Fitch, a Armac quer ampliar em 60% sua frota até 2025, chegando a 15 mil máquinas e R$ 1,3 bilhão de EBITDA contra os R$ 450 milhões do fim do ano passado.
“O acesso à capital foi um divisor de águas. Primeiro, da Gávea, como private equity antes do IPO, depois o próprio IPO. Em seguida, o sucesso na alocação de capital permitiu as outras rodadas, que foram via dívida, e agora é o próprio fluxo da companhia que leva para essa expansão”, aponta o CFO Cássio Castardelli.
Fundada há quase 30 anos a partir do negócio de terraplanagem de José Augusto de Aragão, a Armac foi uma empresa relativamente pequena até pouco anos atrás, quando os dois filhos egressos do mercado financeiro – José Augusto e Fernando, hoje, respectivamente, chairman e CEO –, decidiram trazer profissionalização e escala.
Com um modelo de negócio único no setor, a companhia trabalha com dois principais diferenciais. O primeiro é que ela aluga as máquinas em contratos de longo prazo junto com o que chama de serviços de retaguarda, de operação e manutenção, adaptados às complexidades das indústrias com as quais trabalha.
Cerca de 60% da receita vêm de clientes chamados de ‘alta complexidade’, como agronegócio, bioenergia e logística – a companhia opera, por exemplo, máquinas que abastecem moagens de cana de açúcar e geração de energia de biomassa e carrega e descarrega navios de grãos e fertilizantes. (A outra parte da receita vem principalmente de infraestrutura, em várias verticais, como construção civil, rodovias, e saneamento.)
O segundo diferencial é que a Armac aposta na manutenção das máquinas para garantir a maior vida útil, de forma que seu retorno depende menos de uma estratégia de giro dos ativos, ou seja, de comprar bem e revender a bons preços após alguns anos de uso.
Partindo do DNA do patriarca, obcecado com a mecânica, a Armac verticalizou a atividade, com um exército de mais de mil mecânicos em oficinas próprias e instaladas nos clientes.
“Somos o maior comprador de linha amarela da América Latina, de longe, e conseguimos ótimos preços, mas essa não é minha principal vantagem”, diz. “A questão é que compartilhamos a mesma máquina em vários contratos, com manutenções preventivas, e fazemos a reciclagem das peças, em vez de descartar”.
Apesar de ser líder do setor, a Armac tem menos de 5% do mercado de máquinas de linha amarela, ainda muito pulverizado em pequenos players menos estruturados – o que a posiciona para crescer em meio a tendência de terceirização da atividade observada nas empresas brasileiras.
Nesse cenário, a Fitch aposta que, mesmo com investimentos próximos de R$ 1 bilhão ao ano nos próximos três anos, a companhia vai conseguir gerar caixa suficiente para reduzir a alavancagem hoje em 2,5 vezes o EBITDA para algo mais próximo de 2,3 vezes ao fim de 2024. A expectativa é de margens operacionais na casa dos 50%.
“Nossos covenants com os bancos são de 3,5 vezes a dívida líquida. Mas nossa estratégia é gerir a companhia com sobra, porque além de ser saudáveis, deixa uma série de opcionalidades abertas, para fazer uma compra de mais escala de máquinas com bons preços, por exemplo”, afirma Castardelli.
Isso aconteceu no segundo semestre do ano passado, quando a Armac investiu R$ 800 milhões em máquinas num bom espaço de tempo, para aproveitar uma oferta acordada com as fabricantes na época da pandemia.
O desembolso pesou sobre o retorno no primeiro semestre, já que, ao contrário da praxe da companhia, uma parte das máquinas ainda não tinha contratos atrelados e demorou um pouco mais para entrar em operação. A taxa de utilização dos equipamentos, que gira em torno de 80% a 85%, caiu para 70% – trazendo alguma preocupação ao mercado.
“A gente levou basicamente entre 60 e 90 dias para colocar todas essas máquinas para trabalhar. Estávamos implementando quase todas, mas a gente não tinha 90 dias de receita no primeiro trimestre, o que já começou a se normalizar no segundo. Foi um movimento consciente e não uma questão de demanda”, diz Castardelli.
No ano, as ações da Armac sobem 20%, cotadas a R$ 12,59. Desde o IPO, no entanto, os papéis acumulam baixa de 25%.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.