Na Americanas, uma fatura de ao menos R$ 7 bilhões para Beto Sicupira
Em conversas reservadas, o sócio de Lemann e Telles tem se queixado que gastaria até R$ 8 bilhões no processo de capitalização, conforme apurou o INSIGHT
Publicado em 20 de junho de 2024 às 17:31.
Última atualização em 21 de junho de 2024 às 13:19.
No aporte de pouco mais de R$ 12 bilhões a ser feito no próximo mês pelo trio 3G para capitalizar a Americanas, Beto Sicupira ficou com uma fatura bem maior que a dos sócios, de ao menos R$ 7 bilhões.
Documentos da recuperação judicial mostram que a Sawdog, veículo ligado a Sicupira, é responsável por 57,27% do valor total no aumento de capital. A Cedar, de Jorge Paulo Lemann, entraria com 29,69% ou R$ 3,7 bilhões, e a Samer, de Marcel Telles, com os 13% restantes, equivalentes a R$ 1,6 bilhão.
Em conversas reservadas, Sicupira tem se queixado que gastaria até R$ 8 bilhões no processo de capitalização, conforme apurou o INSIGHT.
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Como os aportes são feitos via veículos controlados por cada um dos empresários, não é claro se os demais sócios podem entrar com valores adicionais nesses veículos na condição de minoritários.
Sicupira sempre foi o acionista com maior exposição na Americanas. Os sócios sempre tiveram participações diferentes nos veículos que investiam nas companhias – mas essa foi a primeira ocasião em que eles tiveram que, de fato, fazer a partilha, dado o tamanho do rombo a ser coberto para manter a empresa funcionando após a fraude que tirou mais de R$ 25 bi da companhia.
Não é possível saber a fatia exata de cada um dos sócios, já que as participações estão todas debaixo de veículos de investimento constituídos fora do Brasil. Mas Sicupira era o único que aparecia como acionista também na pessoa física, com 2% dos papéis. Ao todo, juntos, os três investidores têm pouco mais de 30% da Americanas.
Ainda de acordo com fontes ouvidas pelo INSIGHT, a participação de cada um dos sócios na companhia não seguiu exatamente a proporção de sua fatia. No acerto entre os sócios, como Sicupira era o acionista com maior ascendência e supervisão sobre a varejista, coube a ele uma fatia maior na capitalização.
Do valor total de capitalização acordado para reerguer a companhia, cerca de R$ 5 bilhões já foram integralizados na forma de dois empréstimos DIP, voltado para financiar companhias em recuperação judicial.
Pouco menos de R$ 7 bilhões ainda estão em aberto e devem ser aportados no próximo mês, junto com uma conversão de R$ 12 bilhões em dívidas a ser feita pelos bancos credores.
Para além da fraude, o negócio foi, de longe, o pior investimento do grupo. O trio calcula que, desde que entrou nas Americanas, em 1982 (ainda como sócios do Garantia), perdeu R$ 33 bilhões, entre desvalorização das ações e aumentos de capital, já considerando o aporte a ser feito agora.
Na época da crise, a Americanas representava cerca de 3% do patrimônio dos sócios de referência.
Se o aumento de capital a ser integralizado no próximo mês não for acompanhado por minoritários, como parece ser o cenário mais provável, os três investidores ficarão com 49% da nova Americanas. Sicupira será o maior acionista, com 28,1%, Lemann terá 14,5% e Telles, 6,4%. Cerca de 48% ficarão com os credores, na sua grande maioria bancos, e outros 3% com minoritários que já estão na base e serão diluídos.
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Acompanhe:
Antonio Temóteo
Repórter especial de MacroeconomiaRepórter desde 2011, especialista em economia brasileira, fundos de pensão e política monetária. Passagens por Correio Braziliense, UOL e Agência Estado.
Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado
Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.