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Localiza e Unidas derretem na bolsa: concorrentes vão ao Cade contra fusão

Empresas já perderam R$ 10 bilhões em valor de mercado desde que regulador iniciou análise da operação

Carros: força como maiores compradoras das montadoras preocupa concorrentes (Thinkstock/Thinkstock)
Carros: força como maiores compradoras das montadoras preocupa concorrentes (Thinkstock/Thinkstock)

Publicado em 8 de março de 2021 às 16:26.

Última atualização em 8 de março de 2021 às 18:22.

A fusão entre Localiza e Unidas (Locamerica) atraiu atenção da concorrência, que foi ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Ninguém menos do que a Movida, que nasceu dentro da JSL, e a Ouro Verde, controlada pela Brookfield, pediram a reprovação da combinação dos negócios, uma transação que foi anunciada como equivalente a R$ 50 bilhões.

O EXAME IN antecipou em 20 de fevereiro que a transação enfrentaria resistência no regulador da concorrência, inclusive, com pedidos que o negócio fosse bloqueado.

Além das duas rivais, a Ald Automotive, subsidiária do Societè Generale, que atua no fornecimento de carros alugados para clientes que estão com seus veículos parados em razão de sinistros e consertos, também pediu ao Cade para ser aceita como terceira interessada no processo que vai avaliar a união das empresas. E, por fim, a lista tem ainda a Fleetzil, locadora da própria Volkswagen.

A incorporação da Unidas pela Localiza já foi inclusive aprovada pelos acionistas de ambas as companhias em novembro do ano passado, mas aguarda aval do Cade para se concretizar.

Juntas, as empresas chegaram a valer mais de R$ 63 bilhões na B3. Mas atualmente somam R$ 53 bilhões. As ações tanto da Localiza quanto da Unidas lideram as maiores quedas do Índice Bovespa nesta segunda-feira — com desvalorizações de 8,3% e 7,5%, respectivamente.

A Movida, que é a terceira maior companhia no segmento de aluguel de carros, atrás apenas de Localiza e Unidas, pediu a reprovação. A Ouro Verde quer a aplicação de remédios ou a reprovação.

Juntas, Localiza e Unidas terão cerca de 70% da frota nacional de locação e perto de 75% da receita do setor — sem considerar as empresas que fazem exclusivamente gestão de frota terceirizada. A Movida tem uma fatia entre 10% e 15% e o restante está pulverizado entre milhares de empresas regionais.

Além das concorrentes diretas, o setor mais óbvio que sentirá os reflexos da transação desde o dia 1 é o de motoristas por aplicativo. A estimativa é que cerca de metade dos motoristas de alta frequência utilizem carros alugados. Dados da Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla) apontam que são cerca de 200 mil veículos.

Além disso, quase ninguém sabe, mas as locadoras de veículos representam 15% das compras anuais de carro — 13% nas mãos de Localiza e Unidas. Na Ford, por exemplo, esse mercado respondia por quase 30% das vendas, segundo estimativas, e elas também são clientes relevantes da Renault. Esse ponto foi alvo de queixas de todas as três reclamantes no Cade.

A Movida apresentou parecer de Kenys Menezes Machado, ex-superintendente adjunto do Cade. Logo na largada de sua avaliação, o especialista aponta: “o  ato de concentração envolvendo a Localiza e a Unidas é a maior operação do setor e não encontra paralelo na jurisprudência dos mercados envolvidos”.

A afirmação é explicada porque nas diversas transações anteriores notificadas ao Cade “foram sumários ou ordinários de baixa complexidade”. Dessa forma, não demandaram análise aprofundada em vários elementos de competição dos mercados de aluguel de veículos, terceirização de frota e venda de veículos seminovos.

De acordo com Menezes Machado, com a fusão entre as duas principais líderes de mercado, a pressão competitiva que beneficia o consumidor vai diminuir — por redução de preço, aumento de qualidade e incremento na satisfação do cliente.

Ele aponta ainda que juntas, Localiza e Unidas, teriam mais capacidade de “exercer práticas que podem gerar uma alocação indesejável (distorção) de recursos no mercado e, assim, prejudicar a concorrência por meio do exercício do poder de mercado, resultando em aumentos de preço e redução da qualidade dos serviços prestados, entre outros.”

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