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Mercados

Fã ou hater? Gavekal dá o Oscar de ‘pior mercado’ para o Brasil

Favorito, real perde o título de pior moeda para o iene japonês

Oscar de pior mercado: "sentimento de frustração é palpável nos corredores da Faria Lima", diz relatório da Gavekal (Oscar/Reprodução)
Oscar de pior mercado: "sentimento de frustração é palpável nos corredores da Faria Lima", diz relatório da Gavekal (Oscar/Reprodução)

Publicado em 15 de janeiro de 2025 às 16:35.

Última atualização em 15 de janeiro de 2025 às 16:52.

And the Oscar goes to... 

Enquanto os brasileiros esperam com apreensão – e muitos memes – a indicação de Fernanda Torres à melhor atriz na maior premiação do cinema mundial, a Gavekal decidiu aproveitar o hype e ir no caminho oposto, premiando as performances mais lamentáveis do mercado financeiro no ano passado.  

Uma espécie de ‘Framboesa de Ouro’, a sátira que consagra os piores filmes.  

Para a surpresa de ninguém, o vencedor da principal categoria foi o Brasil, com uma queda mais de 20% no valor dos títulos de dívida e de 30% nas ações, quando considerada a performance em dólar. Isso para não falar da desvalorização do real.  

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Quem assina o relatório publicado hoje é o cofundador Louis Vincent-Gave, que costuma ser bastante construtivo com o mercado brasileiro. Ele mesmo faz o mea culpa: “Eu tenho estado, e continuo otimista em relação aos títulos de dívida brasileiros. Portanto, essencialmente, eu estou andando em círculos nessa recomendação. Meu otimismo funcionou bem em 2022 e 2023, mas foi um desastre em 2024.” 

Segundo ele, o desempenho só não foi o fim do mundo porque, de certa forma, os ativos devolveram os ganhos do ano anterior. “Mas o sentimento de frustração é palpável nos corredores da Faria Lima”, pondera.  

A grande questão é: dá piorar?  

Os ativos brasileiros – sejam as taxas de juros, ações ou câmbio – já precificam um cenário bem ruim, pondera o economista.

"Provavelmente, a única maneira de as coisas piorarem seria o Brasil enfrentar algum tipo de crise constitucional ou política”, escreve.  

Por outro lado, ele vê grandes chances de as coisas ficarem melhores – especialmente conforme se aproxima a próxima corrida presidencial.   

“No momento, parece provável que Lula, enfrentando problemas de saúde, idade avançada e números ruins nas pesquisas, não se candidate novamente. Assim, nesta época do próximo ano, é possível que o mercado comece a precificar uma guinada à direita na política brasileira.”  

Nossa economia é muito dependente de commodities, ele pondera. “Mas, conforme entramos em 2025 com preços de energia em alta e a China continuando a sinalizar sua determinação em dar gás ao crescimento econômico, um colapso nas commodities parece improvável.” 

O comportamento dos preços do petróleo também pode ser um vento a favor para o Brasil.  

“Hoje, meu otimismo [com o país] se baseia em parte no valor que está sendo oferecido  — muitos poucos mercados de títulos líquidos oferecem o mesmo tipo de taxas reais que o Brasil — e em parte na minha crença de longa data de que o maior risco para os mercados de títulos em todo o mundo seria um aumento renovado nos preços de energia.”  

Nesse sentido, os títulos brasileiros tendem a superar os títulos do Tesouro dos EUA quando os preços do petróleo sobem, diz Gave. “Pelo menos, isso aconteceu em 2007, e novamente em 2011, 2018 e 2022”.   

Iene, energia renovável e França: os ‘vencedores’ das demais categorias 

Como o prêmio principal já ficou com o Brasil, parece que a “academia” da Gavekal decidiu abrir espaço para outro candidato na categoria de “pior moeda” (no qual o real provavelmente concorreu com força).

O prêmio foi para a moeda japonesa que não só se desvalorizou, mas com uma volatilidade impressionante, marcada por um pico em meados do ano (quem lembra da ameaça de uma nova Segunda Sangrenta?), apenas para fazer um novo tombo no terceiro trimestre.  

Na categoria de pior mercado desenvolvido, o vencedor foi a França. O mercado de ações francês teve um ano para esquecer, ficando atrás de outros mercados europeus. Esse desempenho decepcionante foi parcialmente atribuído a desempenhos negativos das gigantes francesas, incluindo LVMH, L'Oréal e TotalEnergies. 

A incerta situação política e fiscal da França pesou. “A decisão surpresa do presidente Emmanuel Macron, em junho, de dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições legislativas significa que qualquer governo agora estará refém do populismo de direita ou da esquerda radical”, escreve Gave. 

E aqui não cabe otimismo. A confiança continua a se deteriorar e a aposta do economista é de que ainda vai ser preciso uma crise significativa para a população francesa entender que gastos públicos e aumento de impostos não vão solucionar o declínio econômico do país.  

Entre os setores, o vencedor (ou seria perdedor?) foi o de energias renováveis. Se 2023 já havia sido um ano decepcionante para as ações de energia alternativa, 2024 veio pra jogar a pá de cal. Os papéis de companhias desse segmento caíram mais de 30%.  

Em 2021, o relatório da Gavekal "The Energy Question" trazia um gráfico que mostrava a boca de jacaré que se formava, com potencial de crescimento. Mas essa “boca” não só se fechou, como as curvas se inverteram.  

E há algumas razões para isso. A escalada dos conflitos geopolíticos, com as relações se estressando tanto com Rússia e Oriente Médio, fizeram os países ocidentais adotarem políticas energéticas “mais realistas”. Com a volta à energia nuclear, a promoção do gás natural e ate mesmo a reabertura de usinas de carvão.  

A eleição de Trump e a ascensão de lideranças de direita em alguns países desenvolvidos também passam a indicação de que os eleitores ocidentais estão cada vez mais cansados da “sinalização de virtude”.  

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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