"Manipulação" e "nefasta influência política": A dura carta de renúncia de Penido na Vale
Conselheiro renunciou apontando manipulação na decisão sobre comando da mineradora; leia carta de renúncia na íntegra
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 12 de março de 2024 às 11:14.
Última atualização em 12 de março de 2024 às 11:28.
No último capítulo da novela de sucessão do cargo de CEO da Vale, o conselheiro José Penido apresentou ontem sua renúncia ao cargo – citando "manipulação" e uma "nefasta influência política" no processo.
"No Conselho se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse", disse o agora ex-conselheiro em carta de renúncia apresentada à administração da empresa, a qual o INSIGHT teve acesso.
"Não acredito mais na honestidade de propósitos de acionistas relevantes da empresa no objetivo de elevar a governança corporativa da Vale a padrão internacional de uma corporation."
Como solução intermediária para um impasse sobre o novo comandante da mineradora, o conselho de administração da Vale decidiu na última sexta-feira (8) manter o atual CEO Eduardo Bartolomeo no cargo até o dezembro deste ano por 11 a 2 votos, enquanto a companhia trabalha numa lista de sucessores. Penido e Paulo Hartung foram os dois membros do colegiado que votaram contra.
Na reunião anterior, o conselho tinha ficado dividdo, com seis membros votando a favor da recondução de Bartolomeo, seis a favor da abertura de um processo de sucessão e uma abstenção.
Nos últimos meses, o governo tem feito forte pressão política em direção à companhia, principalmente via a Previ, que tem 8,6% das ações, com a tentantiva de emplacar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega ao cargo. A Cosan, que se tornou acionista da mineradora em 2022, também vem trabalhando para condução de um nome de seu agrado ao cargo. Luis Henrique Guimarães, que representa a holding de Rubens Omettos no conselho, é um dos nomes cogitados. Foi ele que se absteve na reunião que resultou em impasse.
Penido é conselheiro independente da Vale desde 2019 e um profundo conhecedor do setor de mineração. Foi por diretor da Samarco de 1992 a 2003, com 13 anos da cadeira de CEO, além de ter comandado o conselho da Fibria Celulose (depois fundida à Suzano) por 10 anos.
Leia a carta na íntegra:
Prezado Presidente,
Encaminho-lhe a minha renúncia ao mandato de membro independente do Conselho de Administração da Vale SA, para o qual fui eleito na Assembleia Geral de Acionistas da Vale, com mandato de maio/2023 a Abril/2025.
Apesar de respeitar decisões colegiadas, em minha opinião o atual processo sucessório do CEO da Vale vem sendo conduzido de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa, e sofre evidente e nefasta influência política.
No Conselho se formou uma maioria cimentada por interesses específicos de alguns acionistas lá representados, por alguns com agendas bastante pessoais e por outros com evidentes conflitos de interesse. O processo tem sido operado por frequentes, detalhados e tendenciosos vazamentos à imprensa, em claro descompromisso com a confidencialidade.
Não acredito mais na honestidade de propósitos de acionistas relevantes da empresa no objetivo de elevar a governança corporativa da Vale a padrão internacional de uma Corporation.
Neste contexto, minha atuação como Conselheiro independente se torna totalmente ineficaz, desagradável e frustrante.
Por isto apresento minha renúncia.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.