Estáter, de Pércio de Souza, estreia sua aceleradora de startups, a Nébula
Projeto terá partipação do Voiter, LetsBank, IOUU, TRR e Seu Guru em ambiente de fomento para soluções financeiras e de crédito
Publicado em 12 de julho de 2021 às 12:18.
Última atualização em 12 de julho de 2021 às 14:05.
A certeza de que a lista das maiores empresas do mundo — e do Brasil — está em transformação e de que essa mudança vai se acelerar moveu mais um tradicional participante do mercado brasileiro em direção às startups e ao mundo da inovação. Pércio de Souza, da Estáter, que conquistou fama no mercado por ser o mentor de diversas das maiores fusões e aquisições do país, que já movimentaram quase R$ 90 bilhões, é o mais novo membro dessa comunidade.
Em agosto, começa a funcionar a Nébula, uma catalisadora de startups e negócios que tenham um objetivo comum: inovações na área financeira, em especial, relacionadas e complementares à concessão crédito. No prédio em que já fica a Estáter e boa parte das investidas de sua frente de gestão e participações, no comecinho da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, dois andares serão dedicados ao novo ambiente — os dois mais altos, por acaso.
Nébula, explica Pércio, é o berço das estrelas na astronomia. No dicionário, é fácil encontrar como sinônimo de névoa, o que faz parte do contexto vislumbrado para o projeto, um espaço em que todos respirem ideias inovadoras. No espaço criado pela Estáter deverão conviver empresas e startups. “Somos agnósticos em termos de modelo. O que buscamos é a parceria certa de ideias. Pode ser investindo ou apenas fazendo parcerias comerciais.” Mas a ideia é que nesse ambiente de co-working, as startups possam desenvolver seus projetos, ao lado de companhias que possam ter uma complementariedade nas operações.
O foco da Nébula será congregar ali startups que desenvolvam soluções que possam ser aplicadas para melhorar o acesso a crédito de microempresários e pequenas empresas. “Queremos desenvolver produtos e serviços financeiros para negócios que tenham receita anual que pode ir de R$ 30 mil a R$ 30 milhões”, conta, em entrevista ao EXAME IN.
O crédito para MEI, a sigla que define o microempreendedor individual, totaliza hoje cerca de R$ 170 bilhões, de acordo com os cálculos de Pércio. “Só que esse número não reflete a demanda real. É muito maior do que isso. O tamanho é esse hoje porque a taxa, o custo, é de pelo menos 15% ao mês. O Brasil tem mais de 40 milhões de MEIs, dá para acreditar?”, ressalta ele.
Atuar nesse ambiente de inovação, com um espaço voltado à criatividade, é uma ideia, um plano, que Pércio acalenta desde que decidiu, em 2019, passar uma temporada em Londres, “bebendo da fonte, do berço das fintechs”, e de onde retornou em fevereiro do ano passado quando a pandemia do novo coronavírus já se instalava na Europa.
“Quando eu fui para lá, achava que o setor financeiro viveria uma revolução de 50 anos em 5. Agora, já acho que será em dois. Esses movimentos começam de maneira mais fria, mas sempre passam por um agente acelerador. Nesse caso, foi inegavelmente a pandemia”, comenta ele.
Apesar de esperar um grande ajuste nesse mercado no curto prazo, dado o grande número de iniciativas existentes, segue firme na crença de que a revolução está a caminho. “Quando olhamos hoje as 20 maiores empresas do mundo, entre as dez maiores, oito se consolidaram com a revolução digital após o ano 2.000. Mas entre a 11ª e a 20ª posição, predominam empresas com mais de 40 anos. Isso vai mudar muito e muito rapidamente.”
“Mas não estamos buscando aqui reunir empresas que tenham só perspectiva de crescimento acelerado, retorno rápido. Não é esse o objetivo da Nébula”, corre logo para explicar Semi Kim, responsável por fazer a seleção do grupo que vai viver ali dentro da nuvem criativa, ao lado de Pércio. O objetivo dessa “catalisadora” — a palavra foi escolhida para substituir o que o mercado convencionou chamar de “aceleradora” — não é ganhar dinheiro pura e simplesmente com investimentos. Kim carrega 16 anos de experiência no setor financeiro, além de atuar como investidor anjo e ser um dos mentores da liga de empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
O projeto cria um ecossistema que fomenta oportunidades para as empresas investidas e geridas pela Estáter e para as próprias startups, além de empresas parceiras que também queiram conviver nesse ambiente.
Hoje, no portfólio de gestão da Estáter, estão o Banco Voiter (antigo Indusval) e o LetsBank (antigo SmartBank) — com a opção de deter 50% do capital de ambas, mais uma ação. A frente de gestão e participação da casa conta ainda com a TRR, que atua na área de seguros, a construtora curitibana Dapo, a Tecsis (ex-fabricante de pás eólicas e agora provedora de serviços para o setor) e a Hansplace, americana de tecnologia. Na área de tecnologia financeira, além do LetsBank e sua fintech de crédito para pequenas e empresas empresas IOUU, a Estáter investe na insuretech Seu Guru.
A crença de Pércio é que há inúmeras oportunidades no segmento de MEI que não são adequadamente aproveitadas, entre outras razões, pela ausência de dados. No ambiente de inteligência artificial, o acesso a dados cria grandes eficiências. No entanto, como o custo do crédito afasta muitos participantes, esse conhecimento acaba não se formando ou sendo muito raso, uma vez que muitas vezes a oferta de crédito é “monoproduto”.
A visão do fundador da Estáter, que há mais de uma década está muito mais seduzido pela gestão e empreendimento do que por conduzir fusões e aquisições, é que a Nébula pode permitir o desenvolvimento de soluções que coloquem crédito, seguro, produtos, proteção contra fraudes, software e muito mais acessível ao micro e pequeno empreendedor. Com uma cesta de serviços, na visão dele, é possível gerar um conjunto de dados muito mais acurados.
No coletivo que vai habitar a Nébula, Voiter LetsBank e TRR apoiam a iniciativa. A Seu Guru também já tem lugar garantido. Há atualmente 40 empresas candidatas a ocupar o 17ª andar. No total, devem ser selecionadas até dez para estarem presencialmente e um número equivalente para um ambiente online, de troca de experiências.
O andar superior, o 18º, é ainda mais aberto, um espaço para convivência e troca de ideias: poderão estar ali empresas que também usem startups em suas soluções e queiram atuar para desenvolvimento conjunto — chamadas de patrocinadoras, pois vão contribuir para a manutenção do custo do local —, e ainda também ONGs que visem a ampliação e o acesso de comunidades ao crédito. Uma mistura que o conceito de inovação pede e aprecia.
Como não poderia deixar de ser, o espaço é lúdico, tem biblioteca , a árvore e esteiras, passando por foodbikes e sala de videogame. Além de muito debate, a ideia é que o local seja usado para palestras e exposições de convidados. “Desde que fundamos a Estáter, em 2003, eu sonhava com isso de poder pensar e trocar ideias em torno de uma árvore, um ambiente mais propenso à abertura do pensamento. Vou realizar isso agora.”
Seu feedback é muito importante para construir uma EXAME cada vez melhor.
Saiba antes. Receba o Insight no seu email
Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade