"Entramos 2024 com a corda no pescoço", diz CEO da Gerdau
Gustavo Werneck diz que competição "predatória" com aço chinês tem levado empresa a fechar capacidade e demitir no Brasil e que, no longo prazo, investimentos podem ser realocados em outros países, como o México
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 21 de fevereiro de 2024 às 13:28.
Com números fracos no quarto trimestre, a Gerdau encerrou 2023 refletindo a dificuldade de lidar com a importação de aço no país, que bateu recorde no último ano. Sem desaceleração da entrada dos produtos estrangeiros, em especial o aço chinês, o ano de 2024 não começa com perspectivas melhores. "Entramos 2024 com a corda no pescoço", definiu Gustavo Werneck, CEO da companhia, em entrevista a jornalistas.
A Gerdau tem sido uma das principais porta-vozes do que considera uma "competição predatória" com o aço chinês. "Nossa expectativa é de que o governo pudesse ser mais célere nas medidas. Há danos claros nos resultados que apresentamos agora", diz Werneck. No quarto trimestre de 2023, o lucro líquido ajustado da companhia caiu 45% para R$ 732 milhões, com as vendas caindo 18%, para R$ 14,72 bilhões.
De acordo com o executivo o problema não está exatamente na demanda. Embora não haja um crescimento de encher os olhos e a indústria também venha patinando, ele diz que a demanda segue estável. O problema está mesmo na competição com o aço chinês, que chega a preços mais baixos em meio aos subsídios do governo local às exportações.
"São exportações a preços inferiores ao custo e esse aço vai para países que não adotaram medidas de proteção, como o Brasil", afirma Werneck. A empresa tem reforçado o pleito do setor siderúrgico, feito por meio do Instituto Aço Brasil, para a elevação da alíquota de importação para 25%. Em fevereiro, houve recomposição de tarifa para alguns produtos, como tubos e vergalhões, mas a alíquota ficou no patamar de 12,5%, considerado insuficiente pelas indústrias do setor.
Em paralelo, a empresa já tomou a decisão de entrar com processos pedindo a investigação de medidas anticompetitivas. Werneck e o CFO, Rafael Japur, não quiseram definir para quais produtos entrarão com os processos. O problema, no entanto, está no tempo de análise e na incerteza, segundo eles. "O prazo de 18 meses passa longe de atender nossa demanda. E nossa preocupação é de que nesses processos novos mais uma vez o grupo de interesse técnico determine pela não aplicação [de punição]", diz Werneck.
Com o cenário ainda complexo no mercado interno, a Gerdau precisou fazer ajustes na operação brasileira. Na última semana, demitiu 100 pessoas da unidade de Pindamonhangaba (SP), chegando a 1000 demissões nos últimos meses. Mas os cortes podem continuar.
"Estamos acelerando a questão de fechamento de capacidade e demissão de pessoas. Usamos todos os mecanimos possíveis, na expectativa de que teria uma decisão em fevereiro, mas não temos mais como postergar", argumenta o CEO. Atualmente, a empresa está operando no país com capacidade de 62%, um patamar "muito baixo", de acordo com os executivos. O ideal, dizem eles, seria estar a pelo menos 80%.
Se a pressão continuar, Werneck diz que investimentos podem deixar de ser alocados no Brasil e migrar para outras operações que estão tendo melhor desempenho, como a do México, favorecida pelas exportações aos Estados Unidos.
Ainda assim, a empresa anunciou capex de R$ 6 bilhões em 2024, acima do que esperavam analistas dos bancos de investimento. "O capex de R$ 6 bilhões em 2024 pode desapontar o investidor e limitar a geração de fluxo de caixa livre", escreveram os analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME), que previam um anúncio de R$ 5,5 bilhões.
"Poderiam imaginar que faríamos uma redução de capex pela pressão de importação, mas nosso investimento é feito pensando no longo prazo", defende Werneck. De acordo com Japur, a maior parte dos investimentos em 2024 vão para as operações de mineração em Minas Gerais. O segundo grande projeto é a expansão de bobinas a quente em Ouro Branco (MG), explica o CFO.
Com o operacional mais fraco, a companhia fez um trabalho mais forte de controle de capital de giro, o que reforçou a geração positiva de fluxo de caixa livre, para R$ 1,28 bilhão, o que foi destacado como ponto positivo nos relatórios do BTG Pactual e da equipe do Safra.
Mesmo com um resultado mais fraco, a companhia manteve um payout acima de 30%, destaca o CFO. Com pagamento de R$ 2,64 bilhões em dividendos, o payout da Gerdau ficou em 44%.
Com uma desvalorização de mais de 18% em 12 meses, a ação da Gerdau ganhou fôlego nas primeiras horas de pregão desta quarta-feira, 21. Perto das 12h30, o papel subia 1,92%.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado