Efeito Champanhe: a revolução da T4F para a explosão pós-pandemia
Companhia perdeu 90% da receita e só 10% do caixa, conseguindo manter mais dinheiro que dívida no balanço
Publicado em 24 de maio de 2021 às 07:00.
Última atualização em 24 de maio de 2021 às 09:40.
Fernando Alterio é uma lenda do mercado de shows e eventos do Brasil. Ele próprio uma celebridade. Já viu e viveu de tudo nesse setor desde que participou da fundação do Palace Hall, na capital paulista, em 1983. Com seus quase 40 anos de experiência no ramo, está animado como se tivesse começado ontem.
“Meu negócio foi paralisado pela tragédia da pandemia em 13 de março de 2020 e eu trabalho mesmo assim todos os dias. Até me surpreendo com o tanto que estou trabalhando”, conta em entrevista exclusiva ao EXAME IN, sobre como a sua empresa, a T4F, se prepara para a explosão de animação que promete ser a retomada das atividades. “Apesar da tristeza dos acontecimentos, vamos sair disso uma empresa mais competitiva no ramo do que entramos.” Alterio tem 33% do negócio e é presidente executivo da companhia, que tem na lista de acionistas nomes como a gestora Velt e o Pátria Investimentos. Gente que entende de fundamentos.
“Efeito champanhe” é como diversos empresários estão chamando a expectativa da retomada de setores ligados ao lazer, turismo e entretenimento. Tudo que esteve suspenso desde que o novo coronavírus se espalhou pelo mundo. Trata-se de algo semelhante ao que se viu após o término da Segunda Guerra Mundial.
E Alterio já está com tudo planejado, atento ao estouro da rolha fora do Brasil. “Vamos viver o equivalente a quatro anos em 2022 e 2023 no setor”, acredita ele. “Na média dos últimos cinco anos, anteriores à pandemia, eram realizadas cerca de 58 turnês mundiais de grandes artistas. Para 2022, já estão previstas 167. É uma loucura.”
Mas ter planos para 2022 só é possível porque Alterio foi um dos empresários mais rápidos a se ajustar ao cenário. Passados doze meses de pandemia, mesmo sem atividade, ele tem apenas 10% menos dinheiro em caixa do que tinha antes.
O saldo passou de R$ 222 milhões para R$ 205 milhões ao fim de março, na comparação anual. A T4F é caixa líquido, ou seja, tem mais dinheiro que dívidas e compromissos e não só continua assim com ainda melhorou: a posição líquida saiu de R$ 59 milhões para R$ 74 milhões, nesse intervalo. Tudo isso com uma queda de receita superior a 90%.
Como? A agilidade e o pé no chão fizeram mesmo toda diferença. A T4F rapidamente reduziu quadro (48% já no começo da pandemia), entregou casas de espetáculo, aliviando custo de arrendamentos, e vendeu ativos. O total de funcionários da empresa está hoje 65% menor.
Mas a recuperação virá, se confirmadas as expectativas, de forma quase apoteótica. Nos cálculos de Alterio serão dois anos inteiros praticamente de paralisação. O Lollapalooza, um dos maiores festivais da empresa no Brasil, foi marcado para a última semana de março de 2022 — após dois anos suspenso.
Agora, Alterio começa a contar ao mercado sua revolução silenciosa nesse período. “A T4F vai deixar de ser uma companhia de shows e espetáculos para ser uma empresa de conteúdo, onde o carro-chefe serão os festivais”, explica.
Os sinais
“Vou contar o que está acontecendo lá fora”, começa ele, quando perguntado sobre como está a evolução fora do Brasil para deixá-lo tão evidentemente entusiasmado. Em seguida, lista o que tem visto: todos os eventos que estão sendo programados para ocorrer a partir de julho estão se esgotando em velocidade estonteante. Na Espanha, o Festival Primavera Sounds esgotou seus 220 mil ingressos em 24 horas. Nos Estados Unidos, 450 mil ingressos foram vendidos em um fim de semana para um festival na região de Austin.
E edição do Lollapalooza Chicago, prevista para fim de julho e início de agosto, vendeu todos os passes completos em duas horas e agora 80% dos tíquetes, quando considerados os separados que já foram comercializados.
Alterio diz que não é só ele que está acompanhando o movimento, os investidores também. “A Live Nation Entertainment já vale 25% mais do que valia antes da pandemia, depois de reduzir em 20% seu caixa no período. O enterprise value subiu quase 50%, portanto”, comenta o empreendedor, que assistiu suas ações também terem alta de 30% nas últimas semanas — mas com forte realizada nos últimos dias.
Listada na Nasdaq, a ação da Live Nation saiu de US$ 70, em janeiro do ano passado, para quase US$ 90, atualmente. A companhia vale US$ 19,5 bilhões. Mas, enquanto isso, na B3, a T3F estava avaliada em R$ 323 milhões, ou seja, quase 'um nada' a mais do que o caixa da companhia.
Os planos
O caminho traçado por Alterio para a revolução da T4F tem três pilares básicos: crescimento orgânico com a criação de novos festivais, aquisições — “temos mais de 20 M&As mapeados no Brasil, Argentina e Chile” — e atração para o país de grandes festivais realizados fora. De acordo com o empreendedor, a empresa tem como vantagem para esse momento a solidez financeira que conseguiu manter e o fato de ser uma companhia aberta, com acesso a capital — a única na América Latina.
Questionado se isso quer dizer uma potencial oferta pública de ações em breve ou privada, o empresário se limitou a reforçar que ser listada é uma vantagem. Para bons entendedores, a resposta é suficiente.
O foco em festivais, segundo Alterio, é fácil de ser explicado. “Os jovens gastam quatro vezes mais com experiências do que com aquisição de mercadorias. É esse o presente e o futuro.” Com esse norte, já entraram na lista de mercados novos a explorar a música eletrônica e o mercado de feiras e eventos Geeks. Além disso, a receita desse tipo de evento é recorrente, enquanto shows e turnês ficam a mercê dos desejos e capacidade criativa dos artistas.
Para dar suporte a toda essa revolução, a T4F também decidiu ter sua própria plataforma de tecnologia e comprou, no ano passado, a INTI, de venda de ingressos. O valor da transação não foi revelado, mas Alterio fala com prazer da estratégia associada ao movimento.
O objetivo é ter liberdade para desenvolver dentro de casa todas as ferramentas que o conhecimento do empresário vê como possíveis de serem acopladas para experiência de usuários. Comprar ingressos é apenas o começo da relação.
Dentro desse projeto, há um time dedicado à tecnologia “cashless” para os eventos. Ou seja, nesses festivais, o usuário já não precisa de dinheiro ou cartão. Ele tem uma pulseira, com um chip e créditos carregados ali dentro. Mas o objetivo é ir muito além e, com base em dados, melhorar a vida do público, dos patrocinadores e ainda alavancar receitas com o segmento de alimentos e bebidas. “Tem um mundo de coisas para fazer. Vai dar até para gerir fila de banheiro com tecnologia”, explica ele.
Alterio vai começar por aí a mostrar ele próprio a SHOW3. É o momento de acender os holofotes.
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