CVPar quer ser o banco dos gamers e mira 500 mil contas em um ano
Grupo com mais de 18 anos de experiência em crédito parte para crediário para fãs de jogos eletrônicos
Publicado em 22 de julho de 2022 às 16:22.
Última atualização em 22 de julho de 2022 às 16:23.
Ser um banco digital voltado ao público gamer. Essa é a missão do CVPay, criado pelo grupo CVPar, a ser lançado ao mercado no fim de julho. O projeto vem como uma iniciativa do grupo, que atua com crédito há 18 anos, para ir além da oferta de produtos tradicionais do setor para empresas (como FIDCs, por exemplo). Mais do que apenas se aproximar de pessoas físicas, o banco vai oferecer algo novo no mercado brasileiro: o crédito dentro de games. Enquanto o microcrédito para comprar um computador ou videogame já é amplamente difundido no país, o CVPay quer financiar consumidores de baixa renda com uma espécie de Buy Now, Pay Later. A finalidade do dinheiro? Comprar adereços dentro dos jogos a partir de uma linha de crédito que vai permitir a eles pagar essas pequenas quantias em até 90 dias. Os recursos para conceder crédito aos novos clientes virão a partir de um FIDC, a ser estruturado principalmente com recursos próprios.
Os planos de criar um banco digital vêm desde 2020, quando Cláudio Vale, fundador da CVPar, anunciou os planos de investir nesse mercado. É o capítulo mais recente da história da gestora com investimentos: tudo começou há dez anos, quando Vale, que é cearense, veio a São Paulo para estruturar seu próprio FDIC. Nesse meio tempo, a relação com os clientes do nordeste e do sudeste cresceu, bem como a empresa. O que nasceu como um fundo de crédito se tornou uma gestora que hoje também tem carteiras imobiliárias e multimercados. Hoje, o valor sob gestão da casa é de R$ 1 bilhão.
Oferecer crédito para que usuários possam ter acesso a jogos é uma estratégia ainda nova, sem um paralelo direto de comparação. O mais próximo do que a companhia oferece, hoje, seriam os jogos baseados em NFTs e que embutem algum tipo de crédito, como é o caso do Axie Infinity. Por outro lado, o mercado de acessórios adquiridos dentro de jogos (ou ‘skins’, no jargão) é notável. O principal expoente desse mercado é o de Counter Strike, no qual a venda de artigos que alteram a aparência dos jogadores dentro do game já se tornou um mercado bilionário.
Os preços não têm nada de acessíveis: uma rápida visita a um dos sites dedicados a esse comércio aponta itens que ultrapassam os R$ 10 mil. O principal atrativo dos itens para o preço é a exclusividade — uma vez que eles não alteram de forma significativa a performance dos jogadores dentro do game. Seria algo, em certa medida, parecido com os NFTs: produtos únicos e marcados de forma que seja possível reconhecê-los dessa maneira.
Em uma escala menor, mas ainda com um mercado bastante movimentado, está o mercado de skins do Valorant. As compras dos itens são feitas dentro do próprio jogo, usando a moeda virtual chamada Valorant Points. Periodicamente, novas coleções são adicionadas à “loja” do jogo.
Em um ambiente de aversão a risco e de resultados ruins para bancos digitais, com exemplos como o Nubank perdendo mais de 65% de seu valor de mercado, Jonatas Ortega, diretor da CVPar Investimentos, quer mostrar que a empresa está com os pés fincados no chão. Ao contrário de outros bancos digitais — que visam primeiro atingir uma massa de consumidores para depois se tornarem rentáveis — a gestora quer ser rentável já de largada com sua fintech.
Como o caminho até a rentabilidade como banco para gamers pode ser mais demorado e demandar investimentos, a CVPar vai operar de forma bem mais tradicional para garantir fluxo de caixa desde o começo. A partir da sua base de relacionamento com mais de 2.000 empresas, vai oferecer crédito consignado. Produto zero inovação, mas de baixío risco e retorno calculado.
“Não acreditamos em um modelo de não gerar resultado. A queima de caixa precisa ser pontual, pautada em desenvolvimento. Queremos seguir esses passos e já temos clientes. Por meio dos fundos de crédito, que contam com investimentos principalmente do próprio grupo, já tenho também o capital para fazer os empréstimos necessários. É um banco que vai dar resultado de maneira orgânica já no primeiro ano. Não vou consumir caixa em aquisição de cliente, porque já saio de largada com uma base grande daqui”, diz. A expectativa é que essa frente traga cerca de 200 mil contas. Até hoje, a empresa já investiu R$ 10 milhões para colocar a plataforma de pé e estima investir mais R$ 12 milhões nos próximos 12 meses.
Enquanto a operação de consignado gera caixa, a companhia vai investir para atrair e reter clientes do público em que acredita estar o maior crescimento para os próximos anos. Hoje, dados mostram que o Brasil tem 50 milhões de gamers. A fintech quer atrair pelo menos 300 mil deles para a plataforma ao longo dos próximos doze meses.
Como vai funcionar
Os clientes do CVPay poderão observar diferentes linhas de crédito e uma lista de jogos ‘conveniados’ assim que criarem uma conta no app do banco. Ao jogarem pelo menos um desses games e precisarem de algum tipo de crédito para comprarem equipamentos dentro do jogo, poderão voltar ao app do banco e selecionar a linha de crédito desejada.
O CVPay, em seguida, emitirá um boleto (que será pago em 30 a 90 dias) e fará, ele mesmo, o pagamento à empresa dona do jogo para liberar o item adquirido pelo cliente no game. Caso o consumidor fique inadimplente, o relacionamento do banco com os desenvolvedores também permite limitar o acesso dos clientes ao jogo.
A funcionalidade estará disponível em até 120 dias após o lançamento do app (ou seja, até o fim do ano) e o banco deve contar com pelo menos 10 jogos conveniados até lá, de acordo com Ortega. A estimativa do executivo é que o modelo se dissemine rapidamente entre consumidores que têm algum tipo de restrição no orçamento para continuarem jogando e que, em quatro anos, o banco digital possa ter um milhão de contas cadastradas, sendo a maior parte formada por gamers. O que também vai, de forma geral, tornar o modelo para o novo crédito cada vez mais assertivo.
“A partir do momento que eu consigo saber há quanto tempo uma pessoa está jogando, consigo ter uma ideia do nível de comprometimento dela e, dessa forma, aperfeiçoar o modelo de crédito. Quem joga há menos tempo, terá um montante disponível menor, enquanto quem estiver mais engajado pode ter acesso a valores maiores, por exemplo”, diz Ortega. O executivo afirma que o propósito é atrair não somente às gerações mais jovens, mas um público maior de jogadores interessados.
De olho em tornar a oferta fácil de entender e de se aproximar desse público, o grupo CVPar está fazendo uma série de investimentos em marketing. Em 2022, vai patrocinar o UCCONX, festival de cultura pop que trata de temas afins ao público gamer. Para entrar no evento e realizar pagamentos por lá, os participantes terão de criar uma conta no CVPay. Além deste evento, o banco patrocinará outros similares, como a CCXP e a Brasil Game Show.
“Eu nunca vou querer competir com quem desenvolve os jogos, mas quero agregar um público que hoje não consome determinados games por não ter dinheiro, crédito. Uma analogia possível é a seguinte: assim como o FreeFire se tornou popular por ser acessível do ponto de vista de que roda em todo celular, nós queremos tornar o microcrédito ao gamer uma ferramenta para democratizar o acesso aos jogos no Brasil”, diz Ortega.
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