CVC Capital Partners quer captar US$ 1,33 bilhão em IPO – se o Oriente Médio deixar
Gigante de private equity lança oferta, desafiando um mercado que pode azedar a depender dos desdobramentos do conflito entre Israel e Irã
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 15 de abril de 2024 às 13:55.
Após anos de balão de ensaio, a gigante de private equity CVC Capital Partners lançou oficialmente hoje seu IPO na Bolsa de Amsterdã, com o qual pretende movimentar cerca de € 1,25 bilhão (US$ 1,33 bilhão).
O timing é delicado. A empresa fez sua primeira tentativa de oferta em novembro do ano passado, mas acabou desistindo por conta da eclosão da guerra entre o Hamas e Israel, que azedou o humor das bolsas ainda pouco amigáveis a novos entrantes.
Dessa vez, o IPO foi lançado no dia seguinte ao maior pico de tensão no Oriente Médio desde então, com os ataques diretos do Irã à Israel. O mercado, agora já mais bem estabelecido para IPOs, como o do Reddit, deu de ombros. Mas um movimento mais agressivo de Israel pode mudar a história.
“Olhamos para os eventos ao longo do fim de semana muito muito cuidadosamente”, disse o CEO Rob Lucas à Reuters.
“Mas as interações que tivemos com a comunidade de investidores nas últimas semanas foram muito fortes e nos deram a confiança de ir adiante hoje.”
A expectativa é concluir a oferta nas próximas semanas, com estreia prevista para maio – se as tensões no Oriente Médio deixarem.
O valuation ainda depende das conversas com investidores, mas fontes ouvidas pelo WSJ e pela Bloomberg apontam que a companhia mira um valor de mercado entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões.
É uma cifra um pouco superior aos US$ 11 bilhões pela qual a CVC foi avaliada em 2021, quando a gestora americana Blue Owl comprou uma fatia. Considerando também dívida, o valuation na época foi de US$ 15 bilhões.
No IPO, a Blue Owl já se colocou como compradora, com compromisso de adquirir até 10% das ações a serem vendidas na oferta. Já o GIC e o Kuwait Investment Authority, investidores de longo prazo da CVC, devem se desfazer de parte das ações.
Com cerca de € 120 bilhões sob gestão, a CVC é uma das poucas grandes firmas globais de private equity de capital fechado. Entre os ativos mais conhecidos de seu portfólio estão as empresas de esporte: a CVC é investidora da LaLiga, de futebol espanhol, e da LFP, equivalente francesa, por exemplo.
A companhia tem um escritório na América Latina desde 2016, mas tem sido cautelosa nos investimentos. Entre suas participações, estão uma fatia de 30% da Moove, divisão de lubrificantes da Cosan.
A listagem deve dar fôlego para CVC, menos pelo caixa que entra para novas aquisições, e mais por permitir que suas ações possam servir de moeda de troca para acordos, num momento em que as firmas de private equity buscam ganhar escala e ampliar seu escopo para outras categorias, como crédito e real estate.
A companhia está diversificando seus negócios. Em setembro, anunciou a compra do controle da DIF Capital, que tem US$ 16 bilhões sob gestão, com foco no setor de infraestrutura – um dos segmentos que tem grande potencial de crescimento em meio a teses seculares como a transição energética.
A CVC vem navegando bem num cenário desafiador para captações, com os juros globais em patamares elevados. Em julho do ano passado, levantou seu maior fundo de private equity, com € 26 bilhões.
Aos investidores, vai apresentar uma história de crescimento: os ativos que pagam fee, principal benchmark acompanhado pelos investidores, devem passar de € 100 bilhões em 2023 para algo em torno de € 140 bilhões ao fim do próximo ano.
O desempenho dos concorrentes também é um vento a favor da oferta. As ações da KKR sobem mais de 80% nos últimos 12 meses. No caso da Blackstone e da suíça EQT, por sua vez, o avanço é de mais de 40% no mesmo período.
A liquidez pode implicar um desconto em múltiplo, já que o float deve ser relativamente pequeno dado o tamanho da oferta.
O desempenho da oferta deve ser acompanhado por outros players da indústria. A General Atlantic, mais focada no mercado de growth, planeja ainda para este ano seu IPO nos Estados Unidos.
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.