Com megacampus em São Paulo, Ânima aposta em universidade para creators
Em investimento de R$ 40 milhões em parceria com Agência Califórnia, grupo de educação quer profissionalizar a influência – em mercado endereçável que passa dos 20 milhões de brasileiros
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 10:22.
Última atualização em 22 de janeiro de 2025 às 10:25.
Dona de instituições de ensino tradicionais, como a São Judas e a Anhembi Morumbi, a Ânima Educação está fazendo uma aposta ousada numa nova vertical, com o lançamento de uma universidade voltada exclusivamente para o mercado de creators – os produtores de conteúdo digital que estão revolucionando o mercado de trabalho e a forma como se consome em todo o mundo.
É um projeto ambicioso, com investimento de R$ 40 milhões, que envolve um campus de 13 mil metros quadrados na Vila Leopoldina, em São Paulo, e quer se consolidar como um polo de criatividade para a nova economia.
A empreitada foi idealizada pela Agência Califórnia, especializada em marketing de conteúdo com 10 anos de estrada e que já gerou mais de 40 bilhões de views de maneira orgânica nas redes sociais, em projetos para clientes como Ambev, YouTube, Google e Smartfit.
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É dela a ideação da FitDance, plataforma de aulas de dança que já nasceu como negócio e tem 16,7 milhões de inscritos no YouTube.
Trata-se de uma sociedade 50/50, em que a Ânima responderá por metade dos aportes e da receita – que virá tanto dos cursos quanto de parcerias com marcas e empresas interessadas se posicionar e extrair mais valor da creator economy.
“É uma megatendência, uma oportunidade de profissionalizar hoje um mercado que cresce vertiginosamente e está transformando toda a economia”, afirma Paula Harraca, CEO da Ânima.
A iniciativa faz parte da , que vê a possibilidade de dobrar de tamanho nos próximos anos e está reforçando suas verticais de B2B e ‘novos negócios’, para além do ensino superior tradicional – onde se diferencia com uma estratégia de instituições de qualidade e valor agregado, de maior tíquete médio.
Enquanto o mercado de ensino superior tem um potencial de R$ 50 bilhões em receitas, as novas verticais podem dobrar o mercado endereçável, nas contas da empresa.
Emprego dos sonhos
A aposta na creator economy amplia o mercado endereçável da Ânima. Num dos mercados mais engajados em redes sociais do mundo, 20 milhões de brasileiros já são ‘creators’ de alguma maneira, de acordo com dados da Factworks for Meta.
Se há 10 ou 20 anos atrás, o sonho das crianças era ser jogador de futebol ou atriz de novela, uma pesquisa da consultoria inflr, 75% dos jovens no Brasil aspiram se tornar influencers.
Na chamada Creators Academy, haverá cursos maiores, de até um ano, ensinando disciplinas que vão desde redação e roteiros, a ética e saúde mental, passando pelo entendimento dos algoritmos e tendências das principais plataformas e aulas de oratória e técnicas de vídeo.
Mas a oferta englobará também cursos trimestrais e imersões mais pontuais, focadas no público de profissionais liberais, como médicos, arquitetos e corretores de imóveis, que hoje veem como um imperativo ter uma presença digital para atrair mais clientes e monetizar melhor seus negócios – e hoje são bombardeados por ‘mentores’ e ofertas digitais de qualidade muitas vezes duvidosa.
A ideia é trazer uma oferta de conhecimento estruturada e com chancela, numa espécide de flagship, com cursos de margem elevada.
“Estamos falando de tíquetes médios altos, de R$ 5 mil a R$ 30 mil”, diz Harraca. A empresa pretende levar a oferta aos seus próprios alunos em condições diferenciadas, fazendo com que os profissionais que saem das suas salas de aula já saiam versados nessa forma de fazer negócios.
Bebendo da experiência da Ânima na educação executiva, com marcas como HSM e Singularity, haverá ainda programas voltados para empresas, executivos e empresários interessados em entender melhor e se aproximar desse mundo.
No mundo das 'collabs'
Num business plan conservador, está sendo considerado apenas a receita com cursos.
Mas há ainda uma outra linha de faturamento potencial, de parceria com marcas interessadas em conectar com esse público, via ativações no campus, por exemplo – além de projetos especiais que podem ser desenvolvidos via o hub.
Aqui, a experiência da Califórnia ajuda a extrair mais valor. “Imagine uma empresa que tem uma força de vendas grande, de vendas diretas, espalhada pelo Brasil. Ela tem um exército de creators, que precisa ser mais bem formado, para destravar negócios”, aponta Fabio Duarte, fundador da Agência Califórnia e que será CEO da Academy.
“Muitas marcas querem falar como os creators, mas acabam botando os pés pelas mãos. Podemos ajudar a fazer esse tipo de ideação, aproximando e alavancando a cocriação.”
Apesar do foco ser na economia digital, a Creators Academy aposta num modelo calcado também presença física – o modelo chamado de ‘figital’.
Numa economia baseada na ‘collab’, a proposta é que o polo de São Paulo sirva como ponto de imersão e conexão entre criadores, empresas e as plataformas de conteúdo. No campus ‘instagramável’, que será inaugurado em abril, haverá espaço amplo para eventos, e estúdios para podcasts, videocasts e um live commerce.
O plano é alcançar outras áreas do país – inicialmente via eventos, mas numa fase posterior usando os polos da Ânima em todo o Brasil.
Na grade de professores, além de acadêmicos, estarão grandes personalidades da economia criativa, afirma Harraca --- sem adiantar nomes em específico, com a ideia de fazer um ‘buzz’ quando eles forem anunciados.
Em um mundo inundado de ofertas digitais, a aposta é que esses atributos sejam capazes de atrair um público mais qualificado e a estruturar melhor o mercado.
“O payback para o aluno é rápido”, afirma Bruno Duarte, cofundador da Agência Califórnia e irmão de Fabio.
Segundo ele, hoje um em cada três creators no país tem no trabalho sua única fonte de renda. Mas 25% não ganham nada e o restante só tira um dinheiro extra e não o seu sustento.
“Hoje, só a influência não basta. É preciso saber monetizar a influência e transformá-la em oportunidade de negócio.”
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.