Com venda da TAG, Engie reforça caixa para investir em renováveis e em transmissão
Companhia brasileira anunciou venda de 15% no negócio de gás, adquirido da Petrobras em 2019 — e não descarta novos desinvestimentos
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 29 de dezembro de 2023 às 12:51.
Última atualização em 10 de janeiro de 2024 às 12:15.
Em busca de dinheiro para fortalecer o caixa em meio a um pipeline extenso de projetos, a subsidiária brasileira da Engie vendeu participação de 15% na Transportadora Associada de Gás (TAG) para o fundo canadense CDPQ, levantando R$ 3,1 bilhões.
A venda foi realizada exclusivamente pela Engie Brasil, que ficará, ao fim do negócio, com participação de 17,5% no negócio. A matriz global não vendeu participação no negócio e, portanto, segue com 32,5% da TAG. O CDPQ — que já estava no negócio — atinge, com a transação, uma participação de 50%. A transação deve ser fechada no início de 2024.
O negócio traz um valor implícito de R$ 37,5 bilhões para 100% da TAG, diante de um enterprise value de R$ 33 bilhões na transação de 2019, enfatizando os ganhos da Engie Brasil com a venda anunciada ontem à noite. A transação deve gerar, ainda, pagamento de R$ 500 milhões em impostos, cujo efeito deve aparecer nos resultados do primeiro trimestre do ano que vem.
O dinheiro será usado principalmente para financiar o pipeline de investimentos de R$ 14 bilhões para os próximos dois a três anos, sendo R$ 11 bilhões em projetos em implantação, somados a um desembolso de R$ 3 bilhões relacionado a uma compra de seis ativos do GIP, anunciada em outubro.
Pelo menos três projetos se destacam: o Conjunto Eólico Santo Agostinho, com capacidade de 434 MW, o Complexo Assuruá, de 846 MW de capacidade instalada e o Complexo Assu Sol, de 752 MW de capacidade instalada. Em transmissão, o destaque é o projeto Asa Branca, que deve totalizar 1.000 quilômetros em linhas. Além deles, a Engie está de olho nos leilões de transmissão de 2024.
"Teremos a possibilidade de novos projetos nos leilões de transmissão de 2024, um de nossos principais focos. Sempre priorizando a disciplina financeira, retorno adequado e buscando retornos atrativos. É a maneira como criamos valor para os investidores", diz Sattamini.
Para financiar esses e novos projetos, não está descartada, para o futuro, a venda da participação remanescente no ativo de gás. "Existe sim a possibilidade de vender os 17,5% em boas condições de venda, se isso for de interesse estratégico nosso. Não é algo hoje dentro do nosso radar, mas é uma possibilidade", afirmou Eduardo Sattamini, CEO da Engie, em call com investidores.
Essa não é a única opção de capitalização na cabeça da gestão da empresa. Outras alternativas, como um possível follow-on e opções de dívida, foram mencionadas no call.
De acordo com os dados do terceiro trimestre, a Engie Brasil tem hoje uma alavancagem (dívida líquida/Ebitda) de 2,1 vezes, considerando os últimos 12 meses. A maior parte dos vencimentos está no longo prazo, com o pico de pagamentos entre 2029 e 2033.
"A venda de participação na TAG foi um low hanging fruit. É uma operação dentro de casa, com reciclagem de capital focada no nosso core business. Entendemos que estamos em um momento adequado, o que coincidiu com o interesse do nosso sócio de aumentar a participação no projeto. Foi a decisão que mais agregava valor para os acionistas nesse momento", disse Eduardo Takamori, CFO da Engie, no call.
O desinvestimento marca a mudança de estratégia pela qual a Engie Brasil passou ao longo dos últimos anos. A companhia adquiriu a TAG, em um consórcio formado junto com o CDPQ, em 2019 — por meio da privatização do ativo, que pertencia anteriormente à Petrobras.
O racional, na época, era o de formar uma plataforma completa de energia, somando o cronograma do governo de médio e longo prazo para os leilões de transmissão de energia ao transporte de gás natural. Foi um ponto que atraiu diferentes players para o segmento de utilities no país (pouco antes da Engie, a Brookfield comprou na mesma época uma rede de gasodutos no Sudeste).
Com o passar dos anos, porém, a subsidiária brasileira caminhou muito mais para o lado de geração renovável e de transmissão de energia, deixando o gás natural de lado. Desde 2016, a empresa investiu mais de R$ 20 bilhões em geração renovável e em linhas de transmissão.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.