Com crédito mais caro, dona da Brastemp quer dobrar exportações a partir do Brasil
Após 2024 forte, Whirlpool aposta no mercado externo e em produtos mais baratos para driblar efeito de juros mais altos no segundo semestre


Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 26 de março de 2025 às 16:24.
Última atualização em 26 de março de 2025 às 17:14.
Em 2024, a Whirlpool Brasil, dona das marcas Brastemp e Consul, voltou a ver crescimento mais acelerado das suas vendas.
O faturamento da companhia subiu 12,6% e chegou aos R$ 13 bilhões, consolidando o mercado brasileiro como o segundo maior dentro do grupo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Já o lucro líquido mais do que triplicou, passando de R$ 254 milhões em 2023 para R$ 911 milhões ao fim de 2024.
O resultado, diz Gustavo Ambar, general manager da Whirlpool Brasil, deixa a fabricante de eletrodomésticos “confortável” para 2025, mas ainda atenta para como o consumo deve se desenrolar ao longo do ano.
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A expectativa da empresa é de que o primeiro semestre seja de crescimento de vendas de pelo menos um dígito.
O problema está a partir do segundo semestre – quando parte do mercado já projeta juros básicos acima do patamar de 15%, o que tende a frear o consumo de produtos altamente dependentes de crédito como os de linha branca (geladeiras, fogões e máquinas lava-roupa, por exemplo).
Por isso a empresa está estudando seu pipeline de investimentos. Ao longo dos últimos dois anos investiu R$ 850 milhões, sendo grande parte destinada à renovação de seus parques industriais – algo na ordem de 3% a 4% da receita.
No primeiro semestre, esse percentual deve seguir parecido. Para depois é que “não há clareza”, diz o executivo.
“Não significa que vamos tirar o pé do Brasil, mas significa que sejamos talvez mais criteriosos nas escolhas. Naturalmente, se a coisa for para o lado mais difícil, talvez nós tenhamos que calibrar isso, mas estamos confiantes de que temos tempo para reverter.”
Parte das escolhas criteriosas da empresa passa por aumentar a fatia de exportações das fábricas no país. Hoje, esse percentual é de apenas 2% a 3% do que é produzido. A meta de curto a médio prazo, conta o executivo, é dobrar esse montante.
Os países da América Latina são os principais destinos, com destaque para Colômbia e Argentina – onde no último ano o desempenho melhorou pela redução da hiperinflação, que passou de 212% para 117%.
“Estamos bem posicionados para aumentar nossa competitividade e expandir nossas exportações, aproveitando a modernização das plantas e a melhoria na eficiência”, diz Ambar.
De olho no mercado interno, a companhia também quer se adaptar a um momento de consumo menos aquecido.
Enquanto espera que o governo decida por “algum estímulo de crédito ou qualquer forma de subsídio que melhore a confiança do consumidor”, a Whirlpool vê as duas marcas principais como vantagem para jogar nas duas pontas de consumo: das classes C e D com Consul e A e B com Brastemp.
“Somos a única multinacional do Brasil com duas marcas genuinamente brasileiras e com força de marca nas classes em que se posicionam. O interessante disso é que de acordo com os ciclos econômicos ou mesmo com as questões microeconômicas, conseguimos balancear o papel dessas duas marcas”, afirma o executivo.
Mas a adaptação do portfólio também é um caminho. Especialmente para o consumidor de Consul, a capacidade de caber no bolso é essencial, defende Ambar. Ele exemplifica: uma geladeira que pode ter até 10 prateleiras pode ser relançada com seis ou oito prateleiras, diminuindo a quantidade de material utilizado e tornando o produto mais barato.
“Podemos tirar, por exemplo, funcionalidades de produtos que o consumidor não utiliza. É uma forma de trazer condição para o consumidor de classe C e D renovar seus eletrodomésticos”, afirma Ambar, que diz haver, ainda uma demanda latente por renovação do parque brasileiro de eletrodomésticos.
Os lançamentos também fazem parte dessa estratégia -- e funcionam. Nos últimos dois anos, a companhia lançou mais de 40 produtos, que responderam por mais de 60% da receita e deixaram a demanda não esfriar.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado