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Braskem vai usar emissão inédita de US$ 600 mi para pagar dívidas

Empresa tem como meta reduzir relação entre dívida líquida e Ebitda, hoje em 5,84 vezes, para 3,5 vezes

Braskem: Companhia começou a planejar emissão de bônus híbrido no fim de 2019, mas pandemia atrapalhou (Dado Galdieri/Bloomberg)
Braskem: Companhia começou a planejar emissão de bônus híbrido no fim de 2019, mas pandemia atrapalhou (Dado Galdieri/Bloomberg)

Publicado em 20 de julho de 2020 às 22:04.

Última atualização em 21 de julho de 2020 às 10:18.

A Braskem vai aplicar os 600 milhões de dólares captados no mercado internacional nesta segunda-feira com bônus híbridos — meio dívida, meio capital — no pagamento antecipado de vencimentos de curto e médio prazo. O objetivo principal da operação foi redução dos indicadores de alavancagem da empresa, explicou Pedro Freitas, vice-presidente financeiro e de relações com investidores, em entrevista ao EXAME IN. "Ainda vamos decidir quais compromissos serão pagos." O executivo contou que a emissão, inédita entre companhias brasileiras, começou a ser planejada no fim do ano passado, quando as agências de rating colocaram a nota de crédito da Braskem em observação negativa. Contudo, devido à pandemia, a oferta dos papéis teve de esperar. Não deu tempo: no começo do mês, Fitch e Standard & Poor’s cortaram o grau de investimento da petroquímica.

Embora em valores a operação seja uma troca de dívida, em alavancagem o efeito é positivo. Além de alongar, os papéis usados na captação têm uma particularidade: são contabilizados pela metade do valor pelas agências para o cálculo dos indicadores de saúde financeira. A emissão tem prazo de 60,5 anos e saiu a um custo de 8,5% ao ano. “Esse é mais um tijolinho nos nossos esforços de redução da alavancagem”, afirmou Freitas.

Questionado sobre o ineditismo da operação, o vice-presidente financeiro da Braskem destacou que a companhia é costumeiramente pioneira. “Fizemos a primeira emissão de bônus perpétuos, há cerca de 15 anos. O primeiro FIDC corporativo também foi nosso. E fomos a primeira ou segunda empresa a atender à Sarbannes Oxley (SOX)”, disse, referindo-se à legislação americana criada como reação às fraudes contábeis do início dos anos 2.000 com Enron e WorldCom. Ele explicou que o tipo de bônus usado é mais comum na Europa. Na Améria Latina, a Braskem é apenas a terceira empresa a adotar essa estrutura.

O setor enfrenta um ciclo de baixa, o que afeta drasticamente as margens de rentabilidade. A empresa, controlada pela Odebrecht em sociedade com a Petrobras, terminou março com 7,9 bilhões de dólares em dívida bruta, descontados os compromissos da operação do México, para uma posição de caixa de 2 bilhões de dólares. A relação entre a dívida líquida e o Ebitda acumulado de 12 meses fechou o primeiro trimestre em 5,84 vezes, em dólares, ante 4,71 vezes ao fim de 2019.

A meta almejada para a Braskem é, em um primeiro momento, alcançar 3,5 vezes nesse indicador para, então, buscar um índice de 2,5. Freitas prefere não fornecer prazos específicos. “Projeções existem para a gente errar, não é?”, descontrai ele. Contudo, explicou que os parâmetros com os quais trabalha são os das agências de risco: idealmente 2,5 de relação dívida líquida em relação ao Ebitda, podendo chegar a 3,5 nos ciclos de baixa, com prazo para ajustes entre 12 e 24 meses. O intervalo equivale ao fim de 2021, já que os alertas foram feitos pelas agências no fim do ano passado. Essa medida já esteve em 1,9, ao fim de 2017, e em 2,2, no fechamento de 2018. A piora foi concentrada no segundo semestre do ano passado.

Em novembro, a Braskem fez a maior emissão de dívida de sua história, 2,25 bilhões de dólares. Com os recursos, dos 3 bilhões de dólares que tinham vencimentos de 2020 a 2023, restou cerca de 1 bilhão de dólares.

Entre as iniciativas para melhoria dos indicadores financeiros, a Braskem também tem como meta cortar os custos fixos em 10% neste ano, na comparação com 2019, e os investimentos, em 25%, na mesma comparação. Freitas lembrou que terá impacto importante o início da operação da nova unidade nos Estados Unidos, que ocorrerá em breve. Até o momento, o projeto gerou apenas o aumento dos compromissos, mas ainda não agregou em geração de caixa. Outras iniciativas nessa direção incluem venda de ativos e um esforço para monetização de créditos tributários.

Confira abaixo as características da emissão dos bônus que os fazem ser considerados um título híbrido, misto de capital:

  • Prazo: 60,5 anos
  • Juros: a companhia pode optar por acumular o serviço da dívida — que neste caso é de 8,5% ao ano —  ao valor do principal
  • Restrições: se não pagar os juros, a companhia fica limitada a pagar dividendo mínimo e não pode fazer recompra de ações
  • Recompra: os bônus só podem ser recomprados após o quinto ano da emissão; após esse prazo, os papéis podem ser adquiridos pelo valor de face
  • Subordinação: os títulos são subordinados, o que quer dizer que ficam por último na fila de prioridade no pagamento aos credores, lugar típico do acionista

 

 

 

 

 

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