Aporte da Ultrapar traz alívio pontual, mas Hidrovias do Brasil ainda tem desafios no horizonte
Companhia de logística cancelou aumento de capital e ganhou socorro com adiantamento de R$ 500 milhões do acionista de referência: uma solução de curtíssimo prazo, segundo analistas
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 13:05.
Última atualização em 27 de dezembro de 2024 às 13:06.
Na Hidrovias do Brasil, uma solução de curto prazo jogou ainda mais luz para os desafios de longo prazo.
Com condições macroeconômicas adversas e pela desvalorização de suas ações, a empresa optou pelo cancelamento de um aumento de capital privado que visava captar entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,5 bilhão e daria reforço de caixa em momento de pressões financeiras.
Diante do embróglio, um dos caminhos encontrado pela Ultrapar, sua acionista de referência, foi adiantar R$ 500 milhões em um Acordo de Futuro Aumento de Capital (AFAC). Veio o alívio pontual, mas ficou clara a ausência de soluções estruturais.
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O aporte da Ultrapar é essencial para mitigar as pressões de liquidez imediatas, considerando que a Hidrovias tem um pagamento de dívida significativo, de cerca de US$ 150 milhões (aproximadamente R$ 925 milhões), previsto para janeiro de 2025.
Contudo, a empresa terminou o terceiro trimestre de 2024 com R$ 758 milhões em caixa e uma expectativa de queima de recursos no quarto trimestre devido a problemas operacionais, como restrições de navegação em seus principais corredores logísticos. Essa situação elevou preocupações no mercado quanto à capacidade da companhia de honrar seus compromissos.
Para os analistas da XP Investimentos, o AFAC é visto como um desenvolvimento positivo, já que oferece a alternativa de menor custo frente a uma emissão de dívida mais onerosa que seria esperada nesse cenário.
A decisão de adiar o aumento de capital também reflete o ambiente desafiador enfrentado pela empresa. O preço das ações, fixado em R$ 3,40 para a oferta, caiu para R$ 2,80, tornando a emissão "out of the money" e reduzindo o interesse de investidores.
Em meio à incerteza, o AFAC firmado com a Ultrapar oferece um alívio temporário e sinaliza o comprometimento do acionista majoritário com a recuperação da companhia.
Ainda assim, analistas apontam que soluções mais robustas são necessárias. Entre as alternativas especuladas estão a venda de ativos, que pode representar até 20% da receita, e uma eventual incorporação pela Ultrapar, que já detém 40% de participação na empresa.
Segundo a equipe de analistas do Citi, sem a emissão de novas ações, a alavancagem da Hidrovias deve permanecer elevada, possivelmente acima dos covenants financeiros da companhia, o que adiciona incertezas ao plano de expansão.
A alavancagem da Hidrovias é outro ponto de atenção. Com uma dívida líquida equivalente a 6,1 vezes o EBITDA no terceiro trimestre de 2024, a expectativa é de que o aporte da Ultrapar reduza esse indicador para 5,3 vezes.
Um novo aumento de capital, esperado para o primeiro trimestre de 2025, poderia reduzir ainda mais esse número para um patamar entre 3,5 e 4,1 vezes, dependendo do tamanho da captação.
No entanto, a execução dessa estratégia dependerá de condições de mercado mais favoráveis e da capacidade da companhia de recuperar a confiança de investidores.
Embora o AFAC forneça um alívio imediato, a ausência de detalhes claros sobre o plano de expansão e reestruturação financeira mantém uma visão cautelosa, destaca o time da XP.
Olhando para o futuro, os desafios permanecem. A Hidrovias tem uma carteira de clientes concentrada, com apenas três empresas gerando mais de 60% de sua receita em 2023, além de estar exposta a riscos climáticos e à volatilidade do mercado de commodities.
Por outro lado, o comprometimento da Ultrapar e as medidas para flexibilizar a estrutura de capital, como o aumento no limite de venda de ativos, podem oferecer alguma estabilidade no curto prazo.
Ainda assim, a falta de um plano claro de expansão e reequilíbrio financeiro continua sendo uma preocupação central para analistas e investidores, como destacado tanto pela equipe da XP Investimentos quanto pelos analistas do Citi.
Embora mantenha uma "visão cautelosa" para o curto prazo da Hicrovias do Brasil, a XP segue com recomendação de compra do papel. O Citi mantém uma recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 3,80, um prêmio de 36% sobr eo último fechamento.
Nesta sexta-feira, 27, os papéis da companhia de logística caem 1,79%, para R$ 2,75. O papel acumula perda de 25% em 2024.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado