Alta de juros, alta da Bolsa? Para o BofA, é mais fácil falar do que acontecer
Banco vê aumento de credibilidade em movimento do Banco Central, mas vê riscos para taxa de juros de longo prazo
Guilherme Guilherme
Repórter
Publicado em 13 de setembro de 2024 às 16:15.
O mercado se encontra em um cenário atípico, com investidores demonstrando otimismo em relação aos impactos da esperada alta de juros na bolsa de valores.
A tese predominante sugere que uma Selic mais alta contribuiria para ancorar as expectativas de inflação e reduzir a taxa de juros de longo prazo.
Com a queda dessas taxas, projeta-se lucros maiores para as empresas e, consequentemente, uma valorização das ações — uma situação atípica, mas que estaria prestes a acontecer na visão de boa parte dos gestores de ações, que veem os múltiplos da bolsa brasileiro muito depreciados.
Na prática, o cenário pode ser mais desafiador, de acordo com o Bank of America Merrill Lynch “A história sugere que essa tese é mais fácil de contar do que de se concretizar.”
O banco destaca que, das oito vezes em que o Banco Central elevou os juros desde 2002, apenas em três ocasiões a taxa de juros de longo prazo estava mais baixa seis meses após o início do ciclo de alta.
“Embora o aumento da credibilidade do Banco Central seja positivo, identificamos alguns fatores de preocupação com o ciclo de alta”, afirma o BofA.
Um dos fatores negativos, segundo o banco, é que a alta dos juros “provavelmente” já foi precificada pelos investidores. Além disso, a queda das taxas longas estaria atrelada ao cenário fiscal.
“Juros mais altos por um período prolongado implicam em uma maior relação dívida/PIB e riscos para o crescimento. As empresas enfrentarão maiores despesas financeiras, o volume de negociação de ações permanecerá pressionado, e os saques de fundos de ações podem continuar.”
O BofA projeta que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve elevar a taxa Selic dos atuais 10,5% para 12% até o fim do ciclo de alta. No entanto, o banco ressalta que há uma probabilidade de o ciclo ser mais curto do que o previsto, em razão do movimento inverso do Federal Reserve (Fed).
A expectativa é de que o Fed inicie seu ciclo de cortes na próxima semana, enquanto o Copom deve prosseguir com as elevações.
Apesar disso, o BofA acredita que o período de juros mais altos no Brasil será breve. O banco projeta que o Copom poderá começar a reduzir a Selic em setembro do próximo ano, um ano após o início esperado das altas.
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Guilherme Guilherme
RepórterFormado pela Universidade Metodista de São Paulo. Cobre mercado financeiro na Exame desde 2019. Também trabalhou na revista Investidor Institucional e participou do 9º Focas de Jornalismo Econômico do Estadão.