Tom Brady, jogador de futebol americano (Ron Jenkins/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 15 de outubro de 2024 às 17h50.
De acordo com o The Athletic, um dos maiores jogadores da história do futebol americano, Tom Brady, está muito perto de se tornar sócio minoritário do Las Vegas Raiders. O astro depende apenas da aprovação de 24 dos 32 proprietários de franquias da NFL, que irão se reunir para decidir sua entrada nesta terça-feira, 15.
Esta não é a primeira vez que Brady faz este tipo de investimento. Em outubro de 2023, o ex-atleta comprou uma parte minoritária do Las Vegas Aces, time da WNBA. E em agosto deste ano, ele também assumiu uma parte minoritária do Birmingham, time da segunda divisão do Campeonato Inglês.
Os investimentos do astro seguem um movimento cada vez mais recorrente entre as celebridades, que estão aplicando suas fortunas nos mais diversos esportes. Há praticamente um novo caso a cada mês.
No mundo da música, Ed Sheeran adquiriu 1,4% do seu time do coração, o Ipswich Town, que subiu para a Premier League este ano, através de ações da Gamechanger 20 Ltd. Anteriormente, Sheeran foi patrocinador da equipe desde 2021.
“Esse tipo de investimento de grandes nomes do esporte é algo bastante comum fora do Brasil. Lá, atletas e celebridades investem regularmente em outras modalidades, o que contribui para o desenvolvimento e profissionalização de novos mercados. Esse movimento só acontece em ambientes com alta segurança jurídica e estabilidade de mercado”, afirma Leonardo Cavarge, especialista em estratégia de negócios no esporte e Diretor Financeiro da World Poker Federation.
Cavarge ainda completa ao dizer que um exemplo concreto desse cenário no Brasil é o caso de André Akkari, uma referência mundial no poker, que investiu na FURIA, que se tornou uma das principais organizações de eSports do Brasil. “Esse tipo de iniciativa não apenas reforça a confiança dos investidores no país, mas também impulsiona setores emergentes como os eSports e abre portas para que outras celebridades enxerguem o Brasil como um destino atraente para seus investimentos”, finaliza.
No Brasil, o caso mais emblemático é o de Ronaldo Fenômeno, que é sócio majoritário do Real Valladolid, da Espanha, desde 2018, quando comprou 51% das ações do clube por 30 milhões de euros (aproximadamente R$ 141 milhões). Neste ano, o cantor Gusttavo Lima comprou o Paranavaí, time da segunda divisão do Paraná, investindo R$3 milhões por 60% da SAF.
Um dos investimentos mais conhecidos é o da dupla de atores Ryan Reynolds e Rob McElhenney, que compraram o Wrexham AFC, do País de Gales, em 2021 por 2,5 milhões de dólares. Pouco tempo atrás, os atores comparam 24% da equipe da Alpine, equipe da Formula 1, em parceria com o grupo de investidores Otro Capital, que também inclui astros do esporte como Patrick Mahomes e Travis Kelce, do Kansas City Chiefs, Trent-Alexander Arnold, lateral do Liverpool, e Anthony Joshua, do boxe.
Nas pistas da F1, o heptacampeão Lewis Hamilton é um dos sócios do Denver Broncos, da NFL, desde 2022, via Walton-Penner Group, em uma venda recorde. Anteriormente naquele ano, o piloto demonstrou interesse em comprar o Chelsea, e até chegou a se juntar com Serena Williams e outras figuras do mercado para fazer uma oferta, que acabou não sendo a escolhida, e perdeu para o atual dono do clube, o empresário Todd Boehly.
Na opinião dos especialistas em gestão esportiva, o investimento de atletas consagrados, artistas e outras personalidades do mundo, pode trazer um movimento financeiro, de imagem e reputação que podem ser benéficos ao mercado, desde que, é claro, sejam bem administrados.
"Assim como uma empresa, é preciso ter eficácia e domínio para gerir projetos deste porte e com tantas particularidades, o que não deve ser um problema para esse grupo de pessoas, pois as celebridades já funcionam como verdadeiras instituições, por terem uma equipe de profissionais técnicos gerindo sua carreira. Eu vejo com bons olhos, e acredito que esse fator possa potencializar ainda mais as operações, já que que estamos falando de segmentos com milhões de fãs e seguidores, e a superexposição acaba sendo quase que orgânica", aponta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.
"Quando uma celebridade decide investir em uma entidade esportiva, imagina-se que seja para agregar pela imagem, pelo investimento financeiro e/ou por ajudar através do planejamento/estratégia. Nesses casos, e se a celebridade tem visão empresarial e experiência, vejo como positivo. Entretanto, existe o risco dessas pessoas resolverem investir e se envolverem com uma entidade sem experiência empresarial, e com direcionamentos equivocados mais baseados na emoção e no ego", analisa Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo.
"Mesmo a compra de um percentual irrelevante no processo decisório, se feita por uma celebridade, gera repercussão que extrapola o próprio noticiário esportivo, e gera interesse, ainda que em sub-produtos dos clubes e suas marcas. Veremos ao longo dos próximos quatro anos pelo menos dezenas ou mesmo uma centena de celebridades da indústria da música e do cinema incorporando a sua carteira de investimentos participações minoritárias e pontuais entre os seus ativos alternativos. É um movimento sem volta de propaganda implícita desses ativos, agora financeiros", explica Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo cantor Jay-Z, que gerencia a carreira de centenas de atletas.
"Acredito que todas as partes só têm a ganhar, com uma visibilidade que extrapola os padrões de marketing e publicidade. É importante notar que em muitos desses casos, essas celebridades adquirem clubes menores, com alguma ligação emotiva e pessoal, mas em ligas e países desenvolvidos e que podem trazer a potencialização de receitas, seja com a própria exposição ou através de novas parcerias", acrescenta Joaquim Lo Prete, Country Manager da Absolut Sport no Brasil, agência de experiências esportivas.
"É um movimento que aumentou muito no pós-pandemia. Levando em conta a boa gestão, é uma associação que só tem a ganhar. Os clubes, quando adquiridos, se tornam fortalecidos por um comprador que possui credibilidade em seu ramo, disposto a impulsionar ainda mais seus rendimentos. Do outro lado, uma instituição esportiva tem o poder de atrair milhões em receitas, com exploração da ativos principais do, novos negócios em arenas e patrocinadores. Se bem sucedido, os ganhos com imagem são infinitos", complementa Ricardo Bianco Rosada, fundador da consultoria brmkt.co, que atua nas áreas de Estratégia, Branding, Marketing e Desenvolvimento de Negócios.