Rumor indica eventual interesse de Nasser Al-Khelaif, dono do Paris Saint-Germain, da França, na SAF do Atlético-MG (Xavier Laine/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2022 às 09h52.
Se até um ano atrás a SAF (Sociedade Anônima do Futebol) era vista com descofiança, hoje ela já caminha para se tornar uma tendência no futebol brasileiro. Nesta quarta-feira, 28, uma notícia que movimentou os bastidores foi de um eventual interesse de Nasser Al-Khelaif, dono do Paris Saint-Germain, da França, na SAF do Atlético-MG. Ligado à família real do Catar, o empresário controla a Qatar Sports Investments.
Não é a primeira vez que um grande grupo estrangeiro demonstra interesse pela equipe atleticana. Há algumas semanas, o fundo norte-americano Fenway Sports Group, que é dono do futebol do Liverpool, da Inglaterra, e possui como um de seus acionistas o astro de basquete Lebron Jame, também teria demonstrado interesse.
Em meados deste ano, o Galo fechou contrato com a EY o BTG Pactual para administrar o fundos de investimentos e viabilizar a montagem da Sociedade Anônima do Futebol (SAF).
Dentro deste cenário, o Bahia foi o último deles a anunciar a proposta oficial do City Football Group, dono do Manchester City e outras filiais, pela compra da SAF do clube. Por 90% dos direitos da equipe, o grupo vai fazer aporte de R$ 1 bilhão, com 50% sendo destinado à compra de jogadores, 30% ao pagamento da dívida e 20% para investimentos em infraestrutura, base e capital de giro. Agora, a proposta precisa ser aprovada pelos órgãos competentes de governança do clube baiano.
Um dos trechos da nota divulgada em conjunto pelo Esporte Clube Bahia e o City Football Group diz quais serão os principais objetivos: "as prioridades incluem o fortalecimento do desempenho das equipes masculina e feminina em campo e o sistema de categoria de base em todos os níveis e idades, visando o objetivo de jogar um futebol de primeira linha na Série A do Campeonato Brasileiro e em competições continentais."
Só neste ano, América e Coritiba também criaram esse modelo de governança. Já o Vasco firmou acordo com a 777 Partners para um investimento de R$ 510 milhões até o fim de 2023. Os R$ 70 milhões restantes foram abatidos do empréstimo-ponte concedido em março.
"É um novo momento, de um dinheiro que entra inicialmente para que algumas das dívidas sejam quitadas, e que dá fôlego para aumentar nossas receitas. Esperamos, com isso, investir na parte técnica, ter melhor performance em campo, o que automaticamente vai atrair mais torcedores para os estádios, novas parcerias e patrocinadores. Vai agilizar todo o processo de uma maneira um pouco mais rápida. É um círculo virtuoso", explica Luiz Mello, CEO da SAF do Vasco.
Em dezembro de 2021, os precursores em anunciar as vendas foram Cruzeiro e Botafogo. O clube mineiro foi comprado pelo ex-jogador Ronaldo por R$ 400 milhões - pelos próximos cinco anos e 90% das ações. Já o Botafogo concluiu a venda de 90% da Sociedade Anônima de Futebol, com aporte de R$ 400 milhões sendo investidos ao longo de três anos, ao empresário norte-americano John Textor.
Naquela ocasião, especialistas apontaram que o modelo adotado pelo clube botafoguense havia sido o mais organizado. "Tenho convicção de que foi feito naquela ocasião o maior projeto de reestruturação do futebol brasileiro, com mudança das práticas e os benchmarks do futebol. Aplicamos tudo o que tinha de melhor no mercado: gestão contenciosa do caixa, realinhamento de receitas e despesas para dar sustentabilidade ao negócio e reestruturação de todas as dívidas", explicou Jorge Braga, CEO do Botafogo, durante o processo de transição para a SAF.
"Por isso sempre enxerguei como o melhor produto de investimento. O Botafogo sempre teve uma reputação de marca, uma visibilidade no mundo inteiro, com um histórico gigantesco. Tem um conjunto de ativos muito relevantes, desde as sedes ao histórico de formação de atletas, direitos econômicos, muito relevante. Então, na minha opinião, esse conjunto tornava o Botafogo o produto de investimento do futebol mais interessante no Brasil naquele momento”, completou o executivo.
A primeira instituição a se tornar SAF entre os clubes da Série A, no entanto, foi o Cuiabá, que já era clube-empresa desde a sua fundação, e apenas aguardava a aprovação da nova legislação do futebol brasileiro, que ficou vigente a partir de agosto de 2021.
Comandado desde 2009 pela família Dresch, o clube possui um modelo de gestão eficiente e exemplar. Para Cristiano Dresch, vice-presidente do clube, a SAF pode continuar sendo um divisor de águas para o futebol brasileiro.
"A SAF é o grande movimento dos últimos anos no futebol brasileiro. Essa lei veio para conseguir salvar os clubes mais tradicionais que estavam à beira da falência e é o 'motor' que vai transformar o Campeonato Brasileiro em uma Liga. Acredito que, se a maioria dos clubes se tornarem SAF, vai haver uma pressão maior para que a Liga saia do papel. Foi uma lei que chegou no momento certo e que vai nos colocar em uma posição muito melhor do que já temos hoje", avalia.
Recém promovido à Série B do Campeonato Brasileiro e um dos times mais tradicionais do interior de São Paulo, o Botafogo de Ribeirão Preto também tem o projeto de clube-empresa consolidado desde 2018. A agremiação é supervisionada pela Trexx Holding, empresa de investimentos liderada por Adalberto Baptista. "Trabalhamos com um planejamento consolidado, com métricas financeiras e grandes objetivos dentro de campo", aponta o dirigente.
A tendência para que novos times anunciem a trasformação para o modelo SAF é enorme. Um deles, por exemplo, é o Atlético Goianiense, que está em processo final para a criação e tem o advogado Eduardo Carlezzo, sócio do Carlezzo Advogados, como um dos responsáveis. Segundo ele, a entrada do City Football Group é mais um divisor de águas para a realidade do país.
"A vinda do City Football Group no Brasil traz enorme repercussão internacional e sem dúvida tem condições de aumentar o interesse do investidor estrangeiro pelos clubes nacionais. Há ainda muita água para rolar por debaixo desta ponte e outros negócios relevantes podem ser anunciados nos próximos meses", explica ele.
Além do Atlético Goianiense, é de conhecimento público que grandes agremiações como Atlético-MG, Fluminense e Athletico Paranaense também estão acompanhando de perto este movimento e muito próximos de anunciarem a transformação.
"Não resta dúvida que a transformação dos clubes em empresa é um movimento sem volta, que está transformando a organização do futebol nacional. A chegada de investidores estrangeiros tende a ser um elemento muito positivo neste contexto, sobretudo pelo perfil daqueles que estão desembarcando no país até o presente momento", complementa.
Outra agremiação bastante tradicional do país, e que vem colocando as contas em dias sob a gestão do presidente Yuri Romão, o Sport analisa com carinho a possibilidade de implementar a Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Apesar de não ter recebido ainda nenhuma proposta formal, o mandatário do Leão conta que o processo de reestruturação que ele tem feito é o primeiro passo para este novo caminho.
"Não resta dúvida que a SAF é essencial para o funcionamento do futebol brasileiro. Um projeto como esse precisa estar estruturado para que saia do papel, e é isso o que estamos procurando fazer, com muito estudo e análise do mercado", conta.
Um dos principais líderes para a criação de uma nova liga no Brasil e responsável por mudar o patamar do Fortaleza desde que assumiu a presidência, em 2018, Marcelo Paz entende que a SAF não deve ser vista apenas como salvação.
"Somos um clube com gestão equilibrada dentro e fora das quatro linhas, com pés-no-chão. Por enquanto estamos observando e conversando bastante, mas ainda não fizemos nenhuma movimento mais efetivo para virar SAF", explicou.
Centenário e considerado uma das grandes forças do futebol paulista, a Portuguesa aprovou a criação da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) no clube mudança para SAF em agosto deste ano, e agora passa pelo processo de valuation, que detalha quanto vale o clube.
"Tudo está sendo feito com bastante rigor, com uma equipe de especialistas e advogados, que detalhe toda a viabilidade econômica do clube e a avaliação do passivo. Desta maneira vamos definir a busca por um investidor apropriado", explica o mandatário lusitano, Antonio Carlos Castanheira.
Para Luiz Mello, CEO do Vasco SAF, além da questão financeira, a implementação deste novo modelo de negócios vai permitir que se mude o foco político para o de governança
"Vai aplicar conceitos em cima de estratégias claras, destravando alguns processos e facilitando para que possamos acessar o mercado com profissionais de diferentes áreas, especialmente em projetos que envolvam a parte financeira e de infraestrutura. O Vasco tem um enorme potencial para que isso aconteça", complementa.
Diante de tudo isso, alguns especialistas ainda pontuam que a expectativa não pode ser maior do que a razão nesses casos. Especialista em negócios do esporte, Armênio Neto explica que é necessário que todas as partes estejam bem alinhadas, e que os torcedores tenha paciência.
"Pode parecer que do dia para a noite tudo vai se transformar, mas nem sempre é assim que funciona, e mesmo na Europa temos alguns exemplos de que pode ser a médio ou longo prazo. Para clubes que são comprados por investidores, muito em razão das altas dívidas acumuladas, esse processo pode ser ainda maior. Para ter gestão profissional, é preciso ter esse equilíbrio", afirma o executivo, que finaliza.
"Todo clube é uma marca e toda marca tem história e atributos valiosos. No caso de um clube de futebol, a falta de competitividade ao longo do tempo causa impactos que enfraquecem torcida, receitas e, por fim, faz com que a história seja sinônimo de passado, não de força. Do mesmo modo ao contrário, sucessos recentes tendem a deixar a marca do clube mais valiosa e confiável. Tudo isso está na balança e é colocado em questão no momento de fechar negócio e trazer bons valores".
VEJA TAMBÉM
Entenda o fenômeno das figurinhas raras do álbum da Copa do Mundo
Quando começa a Copa do Mundo 2022 (e por que a FIFA antecipou a abertura)?