Redação Exame
Publicado em 15 de julho de 2024 às 06h11.
O relatório climático “Rings of Fire” (Anéis de Fogo), divulgado pela Associação Britânica para Esporte Sustentável e pela organização de direitos humanos FrontRunners, constatou que existe a possibilidade das Olimpíadas 2024, que acontecerão em Paris entre os dias 26 de julho e 11 de agosto, serem as mais quentes da história, superando a edição de Tóquio, que até então detém o recorde, com temperaturas que ultrapassaram os 34 graus na época.
O verão francês teve início no dia 20 de junho e permanecerá até o dia 22 de setembro, ou seja, durante todo o período dos jogos. Na mesma época do ano anterior, a capital francesa registrou picos de temperatura de mais de 40 graus. Para 2024, a expectativa é que a onda de calor se mantenha. Isso gera um alerta para os atletas, afinal, competir nessas condições pode gerar riscos como desidratação, insolação, tontura, desmaios e até a morte.
De acordo com a Dra. Flávia Magalhães, médica e nutricionista que trabalha com esporte há 20 anos, o maior perigo do calor exacerbado para os atletas é a hipertermia, que ocorre com um aumento elevado da temperatura corporal, podendo levar a quadros graves como confusão mental e até mesmo problemas cardiovasculares.
“É necessário muito cuidado com a hidratação diária e com a supervisão. Por meio da urina conseguimos verificar se o atleta encontra-se hidratado, desidratado ou hiper-hidratado. Assim, são realizados ajustes antes dos jogos e treinos. Quanto maior a temperatura, maior o desgaste. Caso seja identificado um quadro de hipertermia, é necessária a intervenção imediata para o resfriamento do corpo, colocando gelo em axilas, virilhas e, se possível, submergir o indivíduo na piscina gelada para proporcionar um resfriamento mais rápido”, explica a médica.
O relatório “Rings of Fire” ainda compartilhou cinco recomendações para que os organizadores do evento possam combater a onda de calor sem prejudicar os atletas: estabelecer um calendário inteligente, adequando cada modalidade ao melhor horário para a sua prática; manter os jogadores em segurança, hidratados e com limites para a exposição ao calor; conscientizar a todos sobre as questões ambientais e mudanças climáticas; impulsionar a colaboração entre entidades esportivas e competidores em campanhas climáticas; reavaliar o patrocínio de empresas que não atuam 100% em conformidade com o meio ambiente.
Marina Stefani, fisioterapeuta esportiva associada à Sonafe - Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e Atividade Física, acredita que, apesar do alerta que traz a onda de calor, ainda é viável a realização dos jogos, desde que haja uma adaptação climática prévia entre os atletas e uma reposição de sais, eletrólitos e água durante as competições, para manterem sempre a hidratação adequada.
“As condições climáticas são muito variáveis. Não temos como definir se cada vez mais a temperatura se elevará, apesar de isso ser uma tendência, por conta do aquecimento global. Caso o local do evento tenha o histórico de grandes temperaturas, é preciso que haja medidas para preservar os atletas, seja mudar a data, alterar algumas atividades para locais fechados, realizar as provas em horários alternativos ou tendo algum esquema de climatização e hidratação adequado para todos”, aponta a profissional.
Tendo em vista essas variações climáticas e a iminente onda de calor que afetará o evento, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) tem atuado ativamente para que os atletas brasileiros possam estar em perfeitas condições durante os Jogos.
“Pequenos detalhes fazem a diferença. Por isso, o COB não pensou duas vezes e decidiu alugar aparelhos de ar-condicionado para a instalação nos quartos da delegação brasileira, que ficará na Vila Olímpica. Não podemos correr o risco de os atletas, no momento mais importante de suas carreiras, não conseguirem descansar e estarem sujeitos a temperaturas elevadas nos quartos. É um custo elevado, mas entendemos como extremamente importante e iremos priorizá-lo para garantir condições adequadas para o descanso do Time Brasil”, ressalta Joyce Ardies, subchefe de missão do Comitê Olímpico do Brasil.