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O poder das SAFs: sete dos 10 primeiros colocados na Série A adotaram esse modelo de gestão

Lei que viabilizou transformação dos clubes em Sociedade Anônima do Futebol completou três anos neste mês de agosto

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 27 de agosto de 2024 às 17h40.

Última atualização em 27 de agosto de 2024 às 17h55.

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A transformação dos clubes em Sociedade Anônima do Futebol que completou três anos de vigência neste mês de agosto comprova que a mudança de gestão e a injeção financeira com novos reforços e encurtamento das dívidas já se tratam de uma realidade positiva.

Sete dos dez primeiros colocados na Série A do Campeonato Brasileiro deste ano adotaram o modelo SAF, sendo que três deles estão no G6: Botafogo, Fortaleza e Bahia. Os outros quatro são Cruzeiro, Atlético-MG, Athletico e Vasco.

No caso de Botafogo, que depois de muitos anos chegou às quartas de final da Copa Libertadores; de Bahia, classificado às quartas de final da Copa do Brasil, e Cruzeiro, também garantido às quartas de final, mas da Copa Sul-Americana, os clubes são protagonistas em investimentos para contratações na janela de transferências do meio do ano, com um valor total de cerca de R$ 370 milhões gastos.

Líder do Brasileirão, o Botafogo é o principal destaque em contratações na janela de transferências do meio do ano. Gerido pelo empresário americano John Textor, o alvinegro gastou cerca de R$ 185 milhões, com as chegadas de Thiago Almada e Matheus Martins. O meia argentino foi a maior contratação da história do futebol brasileiro e custou R$ 124 milhões aos cofres alvinegros.

Já o Cruzeiro investiu R$ 184 milhões na janela do meio do ano, com a compra em definitivo de Matheus Pereira e com as chegadas de Kaio Jorge, Lautaro Díaz, Jonathan Jesus, Fabrizio Peralta, Matheus Henrique, Wallace e João Marcelo. Estas movimentações mais agressivas no mercado são reflexo da gestão de Pedro Lourenço, empresário que é o novo dono da SAF do Cruzeiro desde o final de abril.

O Bahia, por sua vez, desde que mudou o seu modelo de gestão para Sociedade Anônima de Futebol, em 2023, com parceria e aporte financeiro do Grupo City, já investiu mais de R$ 150 milhões em contratações. Somente para a temporada de 2024, o clube investiu milhões com as chegadas de Everton Ribeiro, Caio Alexandre, Carlos de Pena, Santiago Arias, Victor Cuesta, Oscar Estupiñán e Jean Lucas. Com os reforços de peso, a equipe briga na parte de cima da tabela desde o início do Campeonato Brasileiro e está classificada para as quartas de final da Copa do Brasil.

"Desde a implementação das SAFs, observamos um aumento significativo nos aportes de capital local e internacional nos clubes brasileiros. Esse influxo de investimentos não apenas estabiliza financeiramente as equipes mas também abre portas para um crescimento sustentável a longo prazo. A rentabilidade potencial é imensa, dado o mercado brasileiro de futebol, que é um dos mais apaixonados e engajados do mundo. Com uma gestão profissionalizada e transparência financeira, as SAFs têm a capacidade de transformar o cenário esportivo no Brasil, tornando-se altamente atrativas para investidores globais", afirma Fernando Lamounier, head de marketing da Multimarcas Consórcios.

Na temporada atual, outra das SAFs que tem sido protagonista dentro de campo é o Fortaleza, que faz sua melhor campanha na história do Brasileirão por pontos corridos, ao ocupar o segundo lugar na tabela, à frente inclusive do atual campeão Palmeiras. Mais recente em comparação com as outras equipes, a criação da Sociedade Anônima do Futebol do Leão do Pici se deu em 2024. CEO da SAF do Fortaleza, Marcelo Paz, explica que o novo modelo de gestão do Tricolor foi pensado para impulsionar o momento de crescimento que o clube vive, com campanhas de destaque nos cenários nacional e internacional.

“Optamos por realizar essa mudança para o modelo de Sociedade Anônima do Futebol porque entendemos que seja um caminho que renderá grandes frutos à instituição, e que poderá fortalecer ainda mais o grande momento que vivemos. O Fortaleza busca se atualizar constantemente para seguir crescendo e brigando por grandes conquistas em todos os cenários possíveis, a partir de uma gestão saudável, responsável e uma profissionalização da estrutura”, destaca.

Em vigor há três anos, a Lei Das Sociedades Anônimas do Futebol foi publicada no Diário Oficial da União no dia 9 de agosto de 2021, com a previsão de incentivos para que os clubes de futebol se transformem em empresas e possam pedir recuperação judicial, podendo negociar as dívidas por meio da Justiça. Também estabeleceu normas de governança e instituiu meios de financiamento da atividade futebolística.

“Esse arcabouço jurídico permitiu que os clubes pudessem se reorganizar financeiramente podendo renegociar sua dívida, além de favorecer as SAFs no pagamento mensal de um tributo unificado, limitado a 5% sobre as receitas mensais, excluindo-se a receita com transferências de jogadores. A partir do sexto ano da constituição da SAF, alíquota de 4%, em ‘regime de caixa mensal’, sobre todas as receitas, inclusive sobre a receita com transferências de jogadores”, destacou José Francisco Manssur, sócio do escritório CSMV Advogados e um dos autores do projeto de lei que criou a Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Com a possibilidade de mudança na maneira de administração de instituições do futebol, algumas delas se destacaram não só pelo investimento em contratações mas também em áreas como infraestrutura e profissionalização. Nesse sentido, especialistas avaliam como a transformação de clubes em SAFs mexe com a indústria do maior esporte do país e impacta o mercado brasileiro. Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo, destaca alguns dos ganhos.

“Além dos impactos positivos que observamos no departamento de futebol de alguns times no Brasil, as SAFs têm obtido êxito em influenciar a indústria do esporte no país como um todo. Quando observamos a valorização financeira de clubes ao adotarem esse modelo de gestão, não estamos vendo apenas um único benefício a essas instituições. O que realmente estamos presenciando é uma movimentação em todo ecossistema, desde o engajamento com o público até a reformulação estrutural do clube”, avalia Fábio.

O Cuiabá, primeiro time a se tornar SAF no Brasil, é um dos exemplos de como o modelo de gestão pode gerar grandes resultados no âmbito financeiro e esportivo. O clube se manteve na divisão de elite pelo quarto ano consecutivo, algo que jamais havia acontecido em sua história, e também de forma inédita passou a disputar a primeira competição Sul-Americana da vida do Dourado.

Segundo balanço divulgado pelo clube, o Cuiabá obteve receita bruta superior a R$ 168 milhões em 2023. O valor, 45% maior do que no ano anterior, é algo inédito na história do time. Dentro das quatro linhas, a equipe é a atual tetracampeã do Campeonato Mato-Grossense, além de se manter na elite do futebol nacional desde 2021.

"Para o Cuiabá, a Lei da SAF foi um grande instrumento de viabilização do nosso projeto. Esse modelo de gestão possui um incentivo fiscal para as empresas que entram no futebol e nós reduzimos nossa carga tributária em 75%. Isso permitiu que o Cuiabá se tornasse viável financeiramente e nos tornamos competitivos em função dessa lei", afirma Cristiano Dresch, presidente do Dourado.

A gestão do Cuiabá também tem realizado importantes investimentos em infraestrutura. No total, o novo Centro de Treinamento Manoel Dresch, contará com investimento superior a R$ 50 milhões e terá todos os departamentos integrados com objetivo de facilitar o fluxo de informações. O terreno escolhido pela diretoria da equipe apresenta mais de 100 mil metros quadrados.

"O Cuiabá teve um resultado positivo nos últimos dois anos e esse valor tem retornado para o clube em aportes, infraestrutura, compra de atletas e investimentos nas categorias de base. Hoje, o clube tem uma categoria de base que está em franco crescimento. A lei da SAF, no caso do nosso time, veio a ser um divisor de águas na questão financeira. Obviamente, que também existe o impacto de uma boa gestão", conclui Cristiano.

Por fim, o especialista em marketing esportivo e CEO da agência Heatmap, Rene Salviano, comenta como a chegada das SAFs é capaz de aumentar a profissionalização no futebol brasileiro. “A adoção do modelo SAF permite que clubes sejam administrados como sociedades anônimas, o que facilita a captação de recursos e a transparência e sustentabilidade financeira. Esse modelo também possibilita um planejamento esportivo estratégico de longo prazo, com reinvestimento em infraestrutura e desenvolvimento de talentos, além de atrair investidores que podem influenciar positivamente a estratégia dos clubes, para que os frutos possam ser colhidos no futuro.”

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