Esporte

O impacto do sócio torcedor na média de público do Brasileirão

Análise da Consultoria Convocados aponta que receitas com bilheteria representaram 59% do total, enquanto receitas com sócio-torcedor corresponderam a 41%, desafiando tendência anterior

s dados gerais demonstram que nas dez primeiras rodadas cerca de 53% do público pagante foi proveniente dos sócios torcedores e 47% das receitas vieram das bilheterias (Thiago Bernardes/Getty Images)

s dados gerais demonstram que nas dez primeiras rodadas cerca de 53% do público pagante foi proveniente dos sócios torcedores e 47% das receitas vieram das bilheterias (Thiago Bernardes/Getty Images)

Vinicius Lordello
Vinicius Lordello

Especialista em Gestão de Reputação e Crises no Esporte

Publicado em 3 de julho de 2023 às 17h31.

A Consultoria Convocados divulgou seu relatório com a análise das finanças dos clubes brasileiros de 2022. Entre uma série de dados e análises relevantes, chamou a atenção a inversão da relação que vinha sendo construída entre receitas com bilheteria e sócio torcedor. Em 2022, diferente da tendência desde 2016, as receitas com bilheteria corresponderam a 59% do total e as receitas com sócio torcedor foram responsáveis por 41%.

Para comprovar este fato, Marcelo Paciello, um grande estudioso do mercado do futebol no Brasil, analisou os jogos das dez primeiras rodadas do Brasileirão 2023 para verificar se este fenômeno está se mantendo na atual temporada. Como metodologia, a soma de todos as descrições que constavam os planos de sócio torcedor nos borderôs disponíveis no site da CBF.

Presença dos sócios-torcedores para os clubes

Os dados gerais demonstram que nas dez primeiras rodadas cerca de 53% do público pagante foi proveniente dos sócios torcedores e 47% das receitas vieram das bilheterias. Esses dados demonstram que há uma divisão muito próxima entre receitas com ingressos comprados na bilheteria (física ou online) e dos sócios torcedores que vão aos jogos.

A figura abaixo traz uma visão mais clara da relação entre média de público pagante e porcentagem de sócio torcedor:

(Sócio Torcedor/Divulgação)

Com base na figura acima é possível classificar os clubes em quatro grupos:

Altamente dependentes dos sócios torcedores: Corinthians, Atlético Mineiro, Coritiba e Athletico. Neste grupo vale destacar o Coritiba, onde 91% do público pagante é proveniente de sócios torcedores, seguido do seu rival Athletico, com 79%. Atlético Mineiro e Corinthians também são muito dependentes dos sócios torcedores, com 75% cada.

Dependentes dos sócios torcedores: Fortaleza, Bahia, Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Internacional e Grêmio. Esses clubes estão na faixa onde no mínimo metade do público pagante é de sócios torcedores. Dentro deste grupo Bahia (64%), Fluminense (61%), Fortaleza (59%), Vasco e Cruzeiro (58%) são os clubes mais dependentes.

Internacional (56%) e Grêmio (53%) estão levemente abaixo mas também possuem uma dependência dos sócios torcedores.

Moderadamente dependente dos sócios torcedores:  Flamengo, Palmeiras e Botafogo.

(Sócio Torcedor/Divulgação)

Chama a atenção que dois dos quatro clubes com maiores médias de público pagante tenham a presença de 45% de sócios torcedores e 55% de ingressos de outras origens. Esse fenômeno demonstra que para os dois clubes os resultados podem estar atraindo para as arenas mais torcedores que não fazem parte da base de sócios.

O Maracanã é um estádio de alta capacidade e faz sentido que haja maior diversificação. Já o Palmeiras, que tem sua arena gerida pela WTorre, além dos 45% de sócios torcedores, tem cerca de 23% de torcedores que pagam o plano da WTorre, que são assinaturas anuais de cadeiras. Portanto, para o Palmeiras são 32% de ingressos de outras origens e 68% entre sócios torcedores e cadeiras da W Torre.

Baixa dependência dos sócios torcedores: São Paulo, América Mineiro, Red Bull Bragantino, Santos, Cuiabá e Goiás.

O São Paulo tem a segunda maior média de público pagante e apenas 17% de sócios torcedores. Como o Maracanã, o Morumbi é um estádio de alta capacidade mas, diferente do Flamengo, a base de sócios torcedores é menos que a metade do Mengão. Isso pode significar que, para o torcedor são paulino, ser sócio torcedor não é um valor percebido como para outros clubes.

Provavelmente não é coincidência que todos os clubes dessa categoria são os que possuem menos sócios torcedores que os demais clubes da série A.

Total de sócios torcedores de cada clube

Baseado no total de sócios torcedores de cada clube até a décima rodada, outro gráfico foi feito por Paciello para verificar qual a taxa de ocupação dos sócios torcedores nas respectivas arenas e estádios de cada clube. Como base, a capacidade oficial segundo estudo da CBF e não a carga de ingressos disponível por jogo. Estes dados podem distorcer um pouco o resultado final mas, mesmo assim, serve de parâmetro para análise:

O gráfico demonstra que Atlético Mineiro, Vasco da Gama (jogos em São Januário) e Corinthians são os clubes que tem maior ocupação com os sócios torcedores, acima de 60%. Esses três clubes são altamente dependentes dos sócios torcedores para ter uma elevada taxa de ocupação em seus jogos, como demonstrado no gráfico anterior.

Cruzeiro, Coritiba, Bahia e Athletico possuem entre 40% e 60% de ocupação com sócios torcedores. Esses quatro clubes ainda possuem cerca de 50% da capacidade do estádio que podem ser ocupados por torcedores que não são sócios, demonstrando que há uma oportunidade de atrair mais torcedores que não sócios aos seus jogos.

Fortaleza, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional e Palmeiras possuem entre 20% e 40% de ocupação de sócios torcedores. Com exceção do Palmeiras, os demais clubes possuem arenas com capacidade acima de 50 mil, portanto, há oportunidade de explorar torcedores que não são sócios visando aumento da taxa de ocupação. O Palmeiras, ao considerar as cadeiras da W Torre juntamente aos sócios torcedores, tem cerca de 56% de ocupação, limitando a demanda para os torcedores não sócios para cerca de 40% da sua arena.

Botafogo, São Paulo, Santos, Cuiabá, América Mineiro, Red Bull Bragantino estão com ocupação de sócios torcedores abaixo de 20%. Esses clubes dependem muito mais dos torcedores não sócios para atingir uma elevada taxa de ocupação. O Botafogo, devido a capacidade do Nilton Santos, também pode explorar os não sócios como oportunidade aumento de receita com bilheteria.

Acompanhe tudo sobre:FutebolJogadores de futebol

Mais de Esporte

30 clubes brasileiros assinam documento em prol da regulamentação das casas de apostas esportivas

'Não paga nem o ônibus': Verón ironiza premiação de campeonato argentino em comparação com Brasil