O Fla foi o primeiro clube esportivo do Brasil a investir na tecnologia DAM (Digital Asset Management) para a gestão de seus ativos digitais (Buda Mendes/Getty Images)
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Publicado em 14 de julho de 2023 às 15h00.
Última atualização em 14 de julho de 2023 às 18h32.
Clube do Brasil mais procurado em pesquisas na internet e com maior número de interações nas principais redes sociais nas mais diversas pesquisas do segmento, o Flamengo vem testando novas possibilidades de gestão.
O Fla foi o primeiro clube esportivo do Brasil a investir na tecnologia DAM (Digital Asset Management) para a gestão de seus ativos digitais — documentos, fotos, vídeos, contratos e tudo que pode ser armazenado em nuvem.
Fundamental para o trabalho de manter viva a memória centenária do clube, além de proteger todo o acervo digital do Rubro-Negro, o passo à frente em tecnologia organizacional se deu em parceria com a startup Yapoli.
Pela plataforma, mais de 120 pessoas ligadas ao clube conseguem centralizar, controlar, distribuir e acessar de forma segura todo o material digital, desde as primeiras súmulas de jogos até o último vídeo publicado nas redes sociais. Cenário este que agiliza o processo de busca por material para as peças criativas e publicitárias e dá maior autonomia às áreas, já que, quanto mais rápido conseguem buscar, mais conseguem produzir.
“O clube gera muita mídia, tem equipe própria de fotógrafos, além do suporte de uma agência, com um fluxo enorme de arte, além de documentos e relatórios dos departamentos.
Isso começou a se tornar muito pulverizado no dia a dia. Decidimos garantir que o que temos, daqui para a frente, estará sob total controle do clube, além de apostar na reconstrução do acervo histórico de um clube centenário, que é responsável por equipes esportivas de Futebol [masculino e feminino], Basquete, Ginástica Artística, Judô, Karatê, Natação, Polo Aquático, Remo, Canoagem e Vôlei”, conta Diogo Rocha, sócio-diretor da Homemade, grupo de empresas responsável pela FlaTV e conteúdo para as plataformas digitais do Flamengo.
Sem estar familiarizado com o conceito de DAM, a busca de Diogo levou a alternativas existentes no exterior, mas, desde o início, buscava uma solução nacional. “Nós queríamos algo daqui, não só pela facilidade de comunicação com toda a equipe mas também por questões contratuais. Forçando a busca para encontrar uma empresa brasileira, veio a Yapoli”, explica Rocha.
Para Adalberto Generoso, CEO da Yapoli, hoje, a bagunça digital custa milhões para instituições anualmente, pois gera gastos com má utilização e até mesmo com processos relacionados à LGPD e a outros fatores jurídicos. “Os resultados do clube no último ano passam pela capacidade que a gestão de ativos digitais tem em mitigar esses riscos e agilizar os processos internos”, explica.
Segundo o diretor de Comunicação do Flamengo, Bernardo Monteiro, a nova gestão proporciona rapidez e facilidade para que as equipes do departamento de acervo histórico e de comunicação troquem ideias e material.
“Desta forma, o sistema DAM permite uma troca de informações mais eficaz e ágil, que se exemplifica muito bem na facilidade em que as equipes dos departamentos de Patrimônio Histórico e de Comunicação do Flamengo trabalham de forma sincronizada”, ressalta.
A partir de um trabalho conjunto, assim como a Yapoli auxilia o clube a revolucionar inúmeros sistemas internos, o time rubro-negro também demandou transformações positivas para a empresa.
“O Flamengo chegou até nós com a percepção de que precisavam acelerar a comunicação do time, uma área responsável por um volume gigantesco de informação, por produzir e difundir todo o material, de todas as partidas, de todos os campeonatos, e alimentam constantemente, chegando a 60 e 70 posts por dia em todas as redes sociais.
Nós sabíamos que seria um desafio. Hoje, temos uma profissional exclusiva presente no dia a dia do Flamengo, acompanhando de perto todo o trabalho, e a cada demanda do clube, evoluímos e aprimoramos a plataforma, inclusive para que os outros clientes como Havaianas, Portobello e Habib’s, possam usufruir dos mesmos recursos e funcionalidades. É, realmente, uma ação conjunta”, comenta o CEO da Yapoli.
E o cenário também é favorável, já que, com a aceleração da transformação digital no mundo corporativo, o mercado de gerenciamento de ativos digitais não para de crescer; segundo a consultoria Market and Markets, o setor movimentou US$ 4,2 bilhões em 2022 e deve alcançar US$ 8 bilhões em 2027.
“O processo de comunicação de um clube é cíclico, quando se pensa que tem um acervo histórico, alimentando a comunicação atual. Seja aniversário do time, de título, de jogador, atleta que entrou, que saiu, movimentos que vem fazendo, o clube vive de história. E o Flamengo lida com isso muito bem, tem um setor inteiro dedicado a patrimônio histórico. Na minha visão, eles estão na vanguarda, porque entenderam, antes de todos os outros, que a comunicação acelera”, conclui o Executivo da Yapoli.
Toda essa organização auxiliou no ganho operacional e no fluxo de trabalho. Com 17,5 milhões de seguidores no Instagram, 10,3 milhões no Twitter e 7,2 milhões no TikTok, o time não apenas é destaque dentre os brasileiros mas também está à frente de todos os demais clubes do continente americano, segundo o Deportes&Finanzas.
Além disso, o faturamento de receitas recorrentes — dividido em quatro frentes: Comunicação & Marketing (comercial, patrocínios, licenciamento, royalties, streaming e etc.); Broadcast (direitos de transmissão e premiações); Matchday (receitas ligadas às realizações dos jogos, como bilheteria, alimentos e bebidas, e ao programa de sócio-torcedor) e outros (mensalidades sociais, escolas e demais itens) — em 2022 foi tão significativo que superou R$ 1 bilhão, sendo quase 90% dos R$ 1,117 bilhão em receita bruta.
Para ter noção da magnitude destes dados, em comparação ao levantamento divulgado pela Deloitte, uma das quatro maiores empresas de auditoria e consultoria do mundo, que levanta e compila dados de clubes europeus, o Flamengo estaria entre as 30 maiores receitas recorrentes do futebol mundial, ocupando o 26º lugar, caso fosse inserido no ranking.
Inclusive, em 2022 a torcida rubro-negra esteve engajada, como nunca visto antes, nas redes sociais, superando a marca de 50 milhões de seguidores/inscritos em todas as redes do clube (Facebook, Instagram, TikTok, Twitter e YouTube). Essa proximidade do clube com o torcedor é fruto de uma busca incessante por conteúdo.
“Tão importante quanto o conteúdo atual, é a consolidação do material histórico. Pense em quantos momentos importantes, ao longo desses 127 anos, ficaram espalhados por meio de periódicos, matérias esportivas e documentários.
Em períodos que antecedem a era digital, os clubes tinham recursos limitados para registro, armazenagem e organização. Isso possibilita que aquele capítulo do clube, que está no acervo histórico, seja visto por meio dos canais de comunicação do Flamengo cada vez mais. Acredito que o que estamos fazendo aqui ultrapassa até mesmo a estrutura do clube. Estamos zelando também pelas memórias históricas do esporte brasileiro”, explica Monteiro.
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