Dorival Junior: com o “sim”, CBF encerrou uma novela que já se arrastava há 396 dias (Daniel Castelo Branco/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 8 de janeiro de 2024 às 10h55.
A dúvida que pairava nos últimos dias chegou ao fim. Dorival Júnior aceitou o convite para ser o novo técnico da seleção brasileira. Com contrato definitivo — e não de interino, como era Fernando Diniz —, caberá ao paulista de 61 anos a missão de conduzir o time no ciclo para a Copa de 2026. Mas outras perguntas se impõem agora. O que espera pelo treinador ao assumir o cargo em momento de crise política na CBF? E, claro, o que esperar dele?
Com o “sim” de Dorival, a CBF encerrou uma novela que já se arrastava há 396 dias (confira a linha do tempo no fim da matéria). Em 9 de dezembro de 2022, quando o Brasil foi eliminado da Copa do Catar e Tite confirmou que deixava o cargo, a seleção passou a conviver com a ausência de um treinador efetivo. Desde então, dois provisórios passaram (Ramon Menezes e Fernando Diniz), e Carlo Ancelotti nunca deixou de ser só uma sombra. Mas foi só com o acerto de ontem que esta indefinição acabou.
Só que, agora, a própria entidade é uma novela em si. Se Ednaldo Rodrigues, que está contratando Dorival, não tem garantias de que seguirá na presidência da CBF, qual segurança o treinador possui? Esta questão, aliás, chegou a alimentar as esperanças dos são-paulinos de que o técnico pudesse recusar o convite.
Ednaldo se movimentou para dar uma garantia mínima ao técnico. Antes de procurá-lo, entrou em contato com a Federação Paulista de Futebol. O presidente da entidade, Reinaldo Carneiro Bastos, é considerado favorito a vencer eventuais novas eleições da CBF e suceder o atual mandatário caso ele seja novamente retirado do cargo. O dirigente baiano ouviu do paulista que a escolha por Dorival conta com seu apoio.
Ednaldo então fez contato com o presidente do São Paulo Julio Casares e com o próprio técnico. Parece ter sido o suficiente para convencê-lo, já que ontem mesmo ele comunicou sua escolha à diretoria e ao elenco do tricolor paulista.
Contudo, caso esta eleição ocorra Reinaldo não será candidato único. Ednaldo já avisou que não vai participar do pleito. Mas Flávio Zveiter, ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, irá. E ele está do lado oposto ao do atual grupo no poder, o que pode indicar discordância no entendimento de quem seria o melhor nome para a seleção.
A CBF ainda não anunciou Dorival. Mas o próprio São Paulo tratou de fazê-lo. No domingo mesmo, divulgou nota comunicando que o treinador deixava o cargo para assumir a seleção.
— O convite feito ao Dorival é mais uma prova de que estamos no caminho certo — afirmou Casares.
Dorival também comentou a saída do clube pelo qual conquistou a Copa do Brasil do ano passado. Ele ressaltou o fato de treinar a seleção ser um sonho, o que certamente pesou para aceitar o cargo mesmo num contexto de incertezas.
— É a realização de um sonho pessoal, que só foi possível porque tive o reconhecimento do trabalho desenvolvido no São Paulo. Por isso tenho de agradecer por ter feito parte desse importante período de reconstrução — disse o treinador. — Agradeço também à torcida por todo o carinho e apoio.
A CBF irá pagar ao São Paulo a multa rescisória, equivalente a três salários do técnico. Já a assinatura do contrato e o anúncio devem sair só a partir do meio da semana. É que hoje começa a passagem dos membros da comitiva da Fifa e da Conmebol pelo Brasil. A visita vai até quarta-feira.
Eles irão se encontrar com Ednaldo Rodrigues e com o agora antigo interventor da CBF José Perdiz de Jesus. Também pretendem ir à Brasília para se reunirem com membros do governo.
O objetivo é se inteirar da crise política que tomou a entidade e entender se houve violações às regras que proíbem intervenção externa nas confederações. Ednaldo chegou a ser destituído do cargo por uma decisão da Justiça que anulou as eleições vencidas por ele, em 2022, e determinou que um interventor assumisse e convocasse novo pleito em até um mês.
O baiano só retornou após liminar expedida pelo ministro do STF Gilmar Mendes na última quinta. Mas esta decisão precisa ser avaliada pelo pleno do órgão, em data a ser marcada.
Já a outra incógnita — o que esperar de Dorival na seleção — é mais fácil de prever. Após período sabático entre 2019 e 2022, quando ficou sem comandar clubes por dois anos e sete meses para tratar um câncer e cuidar de problemas pessoais, Dorival atingiu um auge superior ao da primeira parte de sua carreira como técnico. Foi campeão da Libertadores e da Copa do Brasil com o Flamengo em 2022 e de novo da Copa do Brasil com o São Paulo.
Nos dois clubes, apresentou soluções táticas que não eram consideradas arrojadas, já que seus times jogam num 4-4-2 clássico (ou em variações dele, como o losango do Flamengo de 2022 que podia ser lido como 4-3-1-2). Mas sempre eficientes. Gosta de saídas em três, muitas triangulações e liberdade para os laterais avançarem. Que o digam Rodinei, no rubro-negro, e Caio Paulista, no São Paulo. Uma “simplicidade” importante em contextos de equipes que vivem mau momento e precisam reagir rapidamente, como é a seleção.
Outra característica que pode contar a favor é a capacidade de lidar com estrelas. Seja no sentido de saber usá-las em campo, como no Flamengo de Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Gabigol e Pedro. Seja deixando-as de fora sem prejuízo para o ambiente, como fez com James Rodríguez no tricolor. Um contraponto ao bate-boca com Neymar em campo, no já longínquo 2010, pelo Santos.
Saber o que esperar, contudo, não é sinal de que dará certo. Só o tempo irá dizer. Os próximos jogos da seleção são os amistosos contra Inglaterra e Espanha, em março, respectivamente em Londres e em Madri.