Redação Exame
Publicado em 8 de março de 2025 às 11h00.
Última atualização em 8 de março de 2025 às 13h07.
Cada vez mais atuantes na sociedade, as mulheres têm assumido maior protagonismo no cenário dos esportes nos últimos anos. No Brasil, em que o futebol feminino vem apresentando crescimento de visibilidade e de receitas, a presença das mulheres em cargos de liderança tornaram-se mais comum.
Em um esporte que por mais de 40 anos, entre 1941 e 1983, a prática foi proibida entre as mulheres, algumas das figuras mais notáveis em cargos de liderança nos clubes, como na função de presidente, começaram a surgir esporadicamente nos grandes clubes, a partir dos anos 90, com Marlene Matheus na presidência do Corinthians, entre 1991 e 1993, Patrícia Amorim à frente do Flamengo, em 2010, e, mais recentemente, com a atual presidente do Palmeiras, Leila Pereira.
Já entre os demais cargos de destaque, entre clubes e entidades ligadas ao esporte, você confere, a seguir, as histórias e depoimentos de algumas das principais protagonistas que atuam nos bastidores do futebol nacional.
Veja alguns depoimentos de pessoas que estão nesses bastidores e ajudam a construir um papel de liderança e gestão dentro da área esportiva no Brasil:
Eryca Bastos, Psicóloga do Esporte pelo Cuiabá - Imagem: Divulgação (Divulgação)
Psicóloga do Esporte, Eryca Bastos, 36, chegou há três anos no Cuiabá. Atualmente trabalha com os jovens das categorias de base e vê entre os principais desafios do dia a dia enfrentar a quebra de paradigmas e conscientizar as pessoas sobre a importância do trabalho psicológico para o desenvolvimento integral do atleta.
"Ainda existe uma visão que associa o acompanhamento psicológico apenas a situações de crise ou problemas emocionais, quando, na verdade, o trabalho é fundamental para a preparação mental, construção de habilidades psicológicas e fortalecimento da saúde mental ao longo de toda a trajetória do atleta", explica. "Mas aos poucos a área ganha espaço e vem sendo reconhecida", acrescenta.
Um episódio pessoal durante sua passagem pelo Cuiabá acabou sendo marcante. "Quando estava há um ano e meio no clube, fui diagnosticada com câncer de mama, hoje já superado", conta. "Todas as comissões, colaboradores, gestão, todos me ajudaram muito e colaboraram", lembra, dizendo que se manter ativa foi uma das principais armas que teve durante o tratamento para vencer a doença.
"Continuar o meu trabalho me ajudou muito porque eu até dizia para os meus médicos se eles me afastassem eu iria me sentir doente. Estar ativa, ter uma rotina com os atletas fazia com que eu me motivasse. Aquilo me mostrou o propósito de vida e me fez sentir viva", finalizou.
Fabíola Guedes, Diretora Jurídica do Fortaleza EC (Divulgação)
Também no Nordeste do país, o Fortaleza é um dos clubes do país que conta com maior variedade de profissionais de peso em áreas específicas. São os casos de Fabíola Guedes (Gerente Jurídica), Manu Melo (Gerente Financeira), Lara Carvalho (Sec do CEO e SAF), Fátima Batista (Sec. da Presidência), Bruna Vasconcelos (Nutricionista do Futebol Profissional) e Juliana Menezes (Gerente de RH).
“É inegável que nós mulher ainda encontramos um cenário de muito preconceito no âmbito desportivo, principalmente no futebol que sempre foi um esporte predominantemente masculino. Por outro lado, vivenciamos uma crescente representatividade feminina no futebol com mulheres ocupando diversos cargos e funções, o que sem dúvidas é um avanço essencial para a igualdade no esporte. Com mais mulheres ocupando espaços dentro e fora de campo, fortalecemos não apenas a modalidade, mas também inspiramos novas gerações a acreditarem que o futebol é para todos. Neste Mês da Mulher, é fundamental enaltecer o trabalho, a contribuição, competência e a representatividade de todas as mulheres no esporte, que diariamente desafiam barreiras e constroem um futuro mais inclusivo e diverso para o futebol."
No Botafogo-SP desde 2016, Laura diz ter orgulho de vivenciar o crescimento da participação feminina no clube. No departamento administrativo, afirma que as mulheres são maioria, com participação de 66% no quadro de colaboradores.
"Ocupamos cargos de liderança, participamos ativamente de decisões estratégicas, operação de jogo, relacionamento com parceiros e patrocinadores. Já entre as sócias-torcedoras e seguidoras nas redes sociais, ainda somos minoria (13,5% e 18%, respectivamente), mas temos projetos em andamento que devem melhorar esse cenário ainda em 2025".
Cintia Laport, Gerente de Comunicação do Avaí FC - Imagem: Divulgação (Divulgação)
"Acredito que o esporte é um espaço para todos, e fico feliz em representar o Avaí na Comunicação, onde me sinto ouvida e respeitada. Cada dia tem sido uma experiência incrível, potencializada por uma equipe que, inclusive, é 50% feminina. Profissionais talentosas e dedicadas, que me motivam a trabalhar ainda mais para abrirmos cada vez mais espaço para que outras tantas ocupem seus lugares no futebol"
Médica e nutricionista, especialista em performance de atletas, Flávia Magalhães trabalha com esporte há mais de 20 anos e acumula passagens por clubes como Atlético-MG, América-MG e Seleção Brasileira. Pioneira, ajudou a quebrar tabus, sendo uma das primeiras mulheres do país a atuar como médica no futebol masculino. Para ela, embora exista uma notável evolução da participação da mulher no esporte, o cenário ainda não é o ideal.
“Sem dúvidas, o esporte, como um todo, ainda é um meio que impõe diversas barreiras e que acabam por atrapalhar uma maior presença feminina. Por mais que a participação das mulheres no futebol tenha aumentando, ainda sim é um ambiente desigual, com muito preconceito e falta de oportunidades. Gradualmente temos conquistado nosso espaço, mas é preciso uma mudança de mentalidade. O que deve prevalecer para clubes e entidades é a qualificação do profissional, o conhecimento técnico e prático, e não o gênero”, afirma Flávia, que foi Presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Esporte de 2022 até fevereiro de 2025.
Em projetos que unem o entretenimento e o futebol, a preocupação com o empoderamento femino e a representatividade é destaque. Na Dançar Marketing, empresa que traz ao Brasil a exposição “The Messi Experience - A Dream Come True”, realizada em São Paulo entre abril e agosto de 2025, a Vice-Presidente de Novos Negócios, Adriana Marchetti, destaca a força da mulher, desde elementos da exposição sobre o craque argentino à presença feminina em cargos de liderança na empresa.
"Quando comecei a trabalhar na TV Esporte Interativo (atual TNT Esportes da Warner), há 15 anos, a presença das mulheres era mais forte frente às câmeras, porém em cargos de alta liderança ainda limitada, pois ainda era um ambiente muito masculino. Rapidamente isso mudou e hoje temos exemplos de mulheres que fazem história na gestão do futebol, como Leila Pereira, à frente do Palmeiras. Em 2025, a Dançar Marketing traz ao Brasil a 'The Messi Experience', um projeto que une cultura e futebol, feito para família, amantes ou não do futebol, e um ponto alto da exposição é quando ressalta a importância que a avó de Messi teve na vida dele, mostrando mais uma vez a força das mulheres e da família.
Em 42 anos de história, a Dançar Marketing sempre fez questão de fomentar a presença de mulheres em cargos de liderança em sua equipe. Muito antes de se falar em empoderamento feminino o presidente da empresa, Pedro Bianco, criou um projeto com uma orquestra formada somente por mulheres , o 'Avon Women in Concert', que aconteceu de 1999 a 2006, com performances de grandes artistas. conjuntos e orquestras femininas".
Elisa Mussolino, Gerente de Projetos Estratégicos da Paag, techfin que oferece soluções tecnológicas para o segmento iGaming - Imagem: Divulgação (Divulgação)
Ainda no universo das apostas esportivas, a participação feminina também tem sido de grande importância no âmbito das empresas que fornecem tecnologia para o setor. Elisa Mussolino, Gerente de Projetos Estratégicos da Paag, techfin que oferece soluções tecnológicas para o segmento iGaming, destaca a participação feminina no setor de fintech e tecnologia e conta sobre os principais desafios que as mulheres ainda enfrentam no setor.
"Significa estar em um espaço desafiador e, ao mesmo tempo, cheio de oportunidades. Representa uma jornada de perseverança, aprendizado contínuo e superação de obstáculos que, muitas vezes, envolvem neutralizar estereótipos de gênero. As mulheres nesse espaço podem se tornar grandes agentes de mudança, contribuindo para soluções mais criativas, inclusivas e inovadoras. Acredito que nossa forma de pensar e decidir será cada vez mais reconhecida, agregando valor nas empresas destes setores", pontua.
Com 120 meninas, os treinamentos acontecem todos os dias e o programa chama a atenção de grandes clubes. No total, mais de 3 mil atletas já foram impactadas e cerca de 70 foram encaminhadas para times e universidades, nacionais e internacionais. Entre as principais entidades a receberem jogadoras do projeto estão Corinthians, São Paulo, Santos, Palmeiras, Red Bull Bragantino, Ferroviária e até faculdade dos Estados Unidos.
“O ‘Estrelas’ vem evoluindo de maneira exponencial desde que começamos, em 2022. O projeto apresenta grande relevância no cenário do futebol feminino. Observamos o interesse de equipes gigantes do Brasil e do exterior nas meninas formadas pelo nosso trabalho, o que atesta a alta qualidade do programa”, celebra Camila Estefano, gerente geral do projeto.
Sara Carsalade, co-founder e head de cultura e de pessoas da Somos Young, empresa que realiza o atendimento a sócios e torcedores de clubes como Vasco, Coritiba, Cruzeiro, Vitória e Peñarol - Imagem: Divulgação (Divulgação)
"É gratificante ver cada vez mais mulheres ocupando cargos importantes em clubes, entidades e empresas ligadas ao esporte. Tenho orgulho de falar sobre esse tema e, sempre que possível, debatemos internamente os desafios que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho, com o intuito de entender as diferentes realidades e encontrar caminhos que fortaleçam a presença feminina no meio corporativo e esportivo".
A profissional trabalha com esportes há muitos anos. Formado Publicitária (ESPM), com MBA em Marketing Digital (ESPM), Especialização em Gestão de Futebol (CBF) e Managing Innovation (HEC Paris), esteve à frente da área de Relacionamento com o Fã no Vasco da Gama durante sete anos. Liderou projetos estratégicos e de produção de conteúdo para o COB e Time Brasil, incluindo os Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e Paris 2024. Desenvolveu ações para Dazn, Coca-Cola, Globo, Rio Gastronomia, Meta, Mercado Bitcoin, MAG, Assaí, entre outras.
"A ascensão das mulheres no futebol caminha lado a lado com o empoderamento feminino em diversas esferas, transformando o esporte em um espaço mais plural e inclusivo. O protagonismo feminino no futebol não é apenas uma tendência, mas uma realidade construída com conhecimento, resiliência, dedicação e mérito. Cada mulher que conquista seu espaço na modalidade não apenas rompe barreiras, mas também abre portas para muitas outras que virão, consolidando um cenário antes restrito e provando que o futebol pertence a todas", afirma.
A Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva e da Atividade Física (Sonafe Brasil), por sua vez, conta com a presidente Priscila Cândido, além de ter um quadro de fisioterapeutas composto por mais de 230 profissionais mulheres, que representam 27% do total. Membro da entidade desde 2015, a fisioterapeuta foi subindo de cargo até receber o convite para ocupar a presidência.
“Atualmente eu me divido em várias frentes, tento encaixar e organizar minha vida para nunca deixar passar uma oportunidade, pois nós mulheres lutamos muito para ter essas chances. Na Sonafe temos a “Carta de Fortaleza”, que assegura pelo menos 30% de palestrantes mulheres em todos os eventos da entidade, sempre buscando dar esse espaço e valorizar as profissionais que aqui estão. Por enfrentarmos alguns desafios, acredito que temos que trabalhar mais e mostrar mais para ter as oportunidades, por isso, temos que estar sempre prontas”
Vanessa Pires é CEO e fundadora da Brada, ESGTech que conecta empresas e investidores a projetos de impacto positivo. Seu trabalho é voltado no direcionamento da companhia e suas ações, com foco no desenvolvimento de soluções que unam incentivos fiscais, impacto social e governança responsável, participando ativamente do planejamento de projetos, desde os diagnósticos tributários até a criação de estratégias que promovam o ESG.
"Trabalhar em um cargo de liderança no segmento esportivo é desafiador e inspirador. Na Brada, somos movidos pela missão de conectar empresas a projetos esportivos que gerem valor social, utilizando as Leis de Incentivo Fiscal. É um ambiente muitas vezes dominado por homens, mas a presença de mulheres é fundamental para trazer novas perspectivas, especialmente em cargos estratégicos. Mulheres em posições de liderança ajudam a quebrar estereótipos, a promover a diversidade e a gerar mais oportunidades de inclusão no esporte. Acredito que quanto mais mulheres ocuparem esses espaços, mais conseguiremos criar um ecossistema esportivo inclusivo e sustentável, onde o impacto social realmente acontece"