Olimpíadas de Paris 2024: a delegação brasileira voltou para casa com 20 medalhas (Miriam Jeske/COB/Divulgação)
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Publicado em 14 de agosto de 2024 às 11h35.
Última atualização em 14 de agosto de 2024 às 12h05.
Quem acompanhou as Olimpíadas de Paris 2024 vibrou com as conquistas dos medalhistas brasileiros ao longo dos jogos. Nesta edição, o Brasil terminou sua trajetória com 20 medalhas. Nessa mesma onda, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) foi impactado pelo crescente interesse pelas disputas e passou a marca dos 3 milhões de seguidores no perfil do Time Brasil no Instagram.
O alcance desse número representou um grande êxito não apenas para o comitê, como também para o cenário esportivo do país, pois o perfil do Brasil já ultrapassou o do Team USA (delegação dos Estados Unidos), que atualmente tem 2,4 milhões.
De acordo com os dados registrados até sábado, 10 de agosto, foram 2,1 milhões de novos seguidores no Instagram. Além de 77 milhões de contas alcançadas, 770 milhões de impressões e 55 milhões em engajamentos no perfil da delegação brasileira.
Ao explicar o fenômeno à EXAME, Paulo Conde, diretor de comunicação do COB, admitiu sua surpresa com o resultado das redes sociais do Time. O executivo clasifica o momento como a nova valorização dos esportes olímpicos e dos atletas medalhistas, que agora avançam para outro status.
"Esses números mostram que os brasileiros passaram a enxergar as Olimpíadas de maneira diferente. Quem consome conteúdo esportivo quer torcer pela Rebeca Andrade nas provas de ginástica, para a Rayssa Leal no skate e muitos outros talentos. Com as redes sociais, o público quer saber mais sobre esses atletas e acompanhar de perto a jornada deles. Algo que não era possível no passado".
Paulo Conde considera que o maior desafio do comitê foi fugir da ideia de que sua utilidade dependia unicamente de um evento global que acontece a cada quatro ano. O trabalho desenvolvido com as mídias sociais ajudaram a organização a descobrir outras possibilidades de operação.
"Com as redes sociais temos uma interação direta com os fãs de esporte, por meio de conteúdos oferecidos diariamente. Em 2023, nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, nós batemos a marca de 1 milhão de inscritos, o segundo comitê olímpico do mundo a chegar nessa marca. Os EUA ficaram em primeiro lugar na época", conta. "Com os Jogos Olímpicos, nós explodimos, com um aumento de mais de 2,5 milhões de seguidores em nossas redes".
Além do Instagram, o COB também celebrou avanços em outras plataformas. No X (antigo Twitter), o perfil do Time Brasil ganhou mais de 130 mil seguidores. Com isso, chegou a 1,5 milhão no total e ocupou a liderança em engajamento durante as três semanas das Olimpíadas de Paris, superando novamente o perfil do Team USA. Além de 2,3 milhões no Facebook, 1,5 milhão no TikTok, 719 mil no X (antigo Twitter) e 340 mil no Youtube.Os números se resultam de uma estratégia de longo prazo traçada pelo COB e que contou com hashtag "TorcidadeOuro" para dar impulso ao perfil no Instagram. Mas, para dar ao Time Brasil o seu lugar ao sol, o Comitê não trabalhou sozinho. A organização firmou parceria com uma empresa especializada em redes sociais, mirando posição competitiva na internet antes e durante as competições .
"Os trabalhos foram feitos com a End to End, uma agência de mídias sociais, que ficou encarregada do gerenciamento dos perfis do Time Brasil. Isso começou no primeiro trimestre, por meio de uma licitação, para que os preparativos para Paris saíssem do papel o mais rapido possível para não perdermos as oportunidades do evento", explicou.
Nessa jornada, o COB também uniu forças com os maiores detentores de direitos de transmissão, a CazéTV e Grupo Globo. "Nós desenvolvemos vários conteúdos em colaboração com eles. A maioria foi direcionada ao Instagram, onde temos mais relevância. A equipe da Cazé, inclusive, fez um multirão e com a participação do público na campanha, crescemos em quase 400 mil seguidores em um dia".
A cooperação com diferentes players do mercado também deu ao COB uma olhar mais estratégico para suas plataformas. "Os planos de gestão foram elaborados de acordo com as especificações de cada rede social, porque cada plataforma exige algo, necessita de uma linguagem e interação distintas. Para cada uma delas, adotamos diferentes tipos de provocação".
Embora o entusiasmo com o potencial do Brasil em esportes olímpicos pareça recente, Paulo Conde sinaliza que esse movimento começou bem antes de Paris, com a crescente visibilidade de jovens talentos em torneios regionais até os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021.
"Naquele momento, tivemos um crescimento muito grande no Instagram, de 300 mil a 900 mil seguidores. Nossa aposta no TikTok também foi bem-sucedida, com alcance de 1 milhão de inscritos durante os jogos no Japão".
Com as lições aprendidas nesse super evento, o executivo explica que sua missão foi conquistar a fidelização do público e manter essa taxa de crescimento do interesse e engajamento nas redes sociais do Time Brasil.
"Esses foram os maiores desafios. É muito difícil atrair esse público antes das Olimpíadas, segurá-los e expandir durante as disputas. Somando todas as nossas redes sociais, tinhamos em torno de 4,7 milhões de seguidores, em janeiro de 2022. Entre esse período e junho de 2024, houve aumento de 900 mil inscritos e nos tornamos número 1 em engajamento. Quando os jogos de Paris começaram, tivemos crescimento de até 40%, superando a marca de 8 milhões de seguidores em todas as nossas redes e nos aproximamos do time dos EUA, que está na liderança com 11 milhões de seguidores em todos os seus perfis".
A decolagem das redes sociais do Time Brasil também abriu portas para novas oportunidades de negócios e parcerias comerciais. "A proposta é continuar crescendo. Não apenas pela relevância entre o público, mas também para atrair marcas e potenciais patrocinadores".
O triunfo do Time Brasil em suas redes sociais vai ao encontro com as vitórias dos atletas nos Jogos Olímpicos. Nesse sentido, Paulo Conde defende o conceito de que as redes sociais expressam - para o bem ou para o mal - uma mudança de comportamento entre os torcedores, fazendo com que o Brasil deixe de ser apenas o país do futebol.
"Na mentalidade de muitas pessoas, o futebol é tratado como uma religião. Mas, descobrimos que é possível uma coexistência com as modalidades olímpicas, que também precisam dos mesmos investimentos e interesses das empresas envolvidas com o esporte. Uma coisa não anula a outra. E com isso, mostramos que não somos apenas o país do futebol", argumenta.
Outro fenômeno ressaltado pelo executivo é o modo como as redes sociais transformam atletas como Rayssa Leal e Rebeca Andrade em grandes celebridades, em uma era na qual os influenciadores movimentam a opinião pública, impactam os costumes e se tornam referências.
"Décadas atrás, a notoriedade de ícones como Guga e Daiane dos Santos dependia apenas da grande imprensa. Hoje, as redes encurtaram o caminho, deixando os novos atletas mais próximos de seus fãs. A Rebeca Andrade é um bom exemplo, pois passou de 3 milhões para 11,7 milhões de seguidores, com conteúdos que geram identificação com seus esforços e valores. A relação do público com atleta mudou radicalmente".
Paulo Conde acredita que o entusiasmo pelas Olimpíadas também se deve à representatividade das diversidades e minorias. A prova disso é a verossimilhança com mulheres vitoriosas, como a sergipana Duda (medalhista no vôlei de praia), a Rayssa Leal (medalhista no skate), Rebeca Andrade (quatro vezes medalhista em ginástica artística) e Beatriz Souza (medalhista em judô).
"Isso aponta para a consolidação do papel das mulheres, inclusive as pretas, no cenário esportivo brasileiro. Infelizmente levou muito tempo para que seus talentos fossem reconhecidos e que entrassem em uma Olimpíada em uma posição equivalente a dos homens", avalia. "A capacidade feminina para a conquista de medalhas começou nos Jogos de Atlanta, em 1996, e desde então o protagonismo não parou de crescer e Paris foi o ápice".