Esporte

CBF identificou 139 jogos com movimentações atípicas em sites de apostas em 2022

Entidade e federações investem no combate à manipulação, mas número de partidas suspeitas cresce no Brasil

CBF: jogos com movimentações suspeitas saltaram de 89, em 2021, para 139, em 2022 (Lucas Figueiredo / CBF/Agência Brasil)

CBF: jogos com movimentações suspeitas saltaram de 89, em 2021, para 139, em 2022 (Lucas Figueiredo / CBF/Agência Brasil)

Agência o Globo
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Publicado em 18 de fevereiro de 2023 às 10h40.

Última atualização em 18 de fevereiro de 2023 às 12h21.

A operação do Ministério Público de Goiás que revelou uma quadrilha de manipulação de resultados na Série B de 2022 mostrou o funcionamento das instituições de investigação e, ao mesmo tempo, como estes esquemas já conseguem atuar mesmo em competições de maior visibilidade. Esta aparente contradição simboliza o que tem sido o trabalho de combate: uma corrida de gato e rato. Ao mesmo tempo em que Fifa, CBF e federações aumentam seus esforços, também cresce o número de partidas com indícios de adulteração.

Os jogos no Brasil com movimentações suspeitas nos sites de apostas saltaram de 89, em 2021, para 139, em 2022.

A CBF tem contrato com a agência Sportradar, que mapeia as movimentações nos sites esportivos de jogos nacionais e estaduais e alerta quando encontra aquelas fora do padrão.

Os jogos considerados suspeitos são encaminhados para órgãos de investigação esportivos e policiais.

No mundo, partidas com movimentações suspeitas saltaram de 905, em 2021, para mais de mil no ano seguinte; os números se referem a 12 modalidades esportivas.

Apenas no futebol, o salto foi de 697 (2021) para 776 (2022).

No Rio, a Ferj ampliou a filmagem de jogos para tentar captar jogadas anormais; qualquer membro de arbitragem pode relatar lances considerados suspeitos.

Crescimento de jogos suspeitos no Brasil foi de 56% entre 2021 e 2022

A Sportradar, agência de monitoramento de apostas esportivas em âmbito mundial, identificou 139 jogos sob suspeita no Brasil em 2022. No ano anterior, foram 89. Um aumento de 56%. Os dados foram compartilhados com o GLOBO pela CBF, que tem contrato com a empresa, uma das principais nesta área de atuação, com clientes como a Conmebol, a Uefa e a Fifa.

Diante do crescimento de um problema que ameaça a credibilidade do negócio, o futebol brasileiro tenta se proteger. A CBF renovou seu contrato com a Sportradar no ano passado. O novo vínculo, até 2025, prevê não só o uso do sistema de monitoramento de apostas nas partidas das competições da entidade como dos Estaduais. Só este ano, 23 jogos já foram relatados.

As partidas são consideradas suspeitas pela agência a partir do momento em que é identificada uma movimentação anormal de apostas nos sites. Pode ser o número de escanteios no primeiro tempo, o número de gols etc. Contudo, isso não é suficiente para apontar a manipulação. A partir daí, é preciso apuração tanto dos órgãos esportivos quanto dos criminais.

— Assim que a CBF recebe os relatórios, há um procedimento padrão de encaminhamento para as autoridades desportivas competentes tomarem as devidas providências. Suspeitas sobre jogos de competições nacionais são encaminhadas ao STJD e sobre as estaduais para as respectivas federações, que enviam aos seus Tribunais de Justiça Desportiva — afirma o advogado Pedro Trengrouse, assessor jurídico da CBF.

A entidade também disponibiliza o banco de dados gerado por este trabalho de monitoramento para os órgãos de investigação. Além disso, dá suporte nos treinamentos feitos nos estados.

— Organizações esportivas e governos precisam trabalhar juntos. Este é um problema global. A Unesco tem discutido nas reuniões com os ministros de Esporte do mundo inteiro a possibilidade de criação de uma agência para tratar das apostas esportivas, a exemplo da Agência Mundial Antidoping — acrescenta Trengrouse.

A reportagem procurou as principais federações do país para perguntar como lidam com a ameaça da manipulação. A Paulista é a única que trabalha com uma empresa diferente: a StatsPerform, contratada no ano passado e que também emite alertas sobre jogos com movimentações atípicas.

No Rio, a Ferj informou que, além do monitoramento das apostas e da realização de seminários, ampliou as filmagens de jogos para documentar prováveis desvios de conduta. Ela ainda incluiu no seu Regulamento Geral de Competições um dispositivo em que autoriza qualquer membro da arbitragem a relatar jogadas anormais que possam ser consideradas suspeitas.

Perguntadas se já acionaram os órgãos de investigação para denunciar indícios de manipulação em algum jogo, apenas a federação gaúcha informou um número: dez partidas. A Ferj confirmou já tê-lo feito sem entrar em detalhes. A Mineira disse não ter tido nenhum jogo suspeito no seu Estadual. Já a Paulista não respondeu.

Crescimento de partidas suspeitas é maior no Brasil que no mundo

A dificuldade de conter o avanço destes esquemas não é exclusividade do Brasil. O monitoramento da Sportradar identificou, no mundo inteiro, movimentações atípicas em mais de mil jogos de 12 modalidades esportivas no ano passado contra 905 em 2021. Só no futebol, foram 776 casos suspeitos em 2022 contra 697 no ano anterior.

Importante notar que o crescimento de um ano para o outro de jogos com anormalidades nas apostas foi maior no Brasil do que no cenário global. O que sugere o país como novo alvo para a expansão da área de atuação dos manipuladores, tradicionalmente mais concentrados na Ásia. Mais um sinal do quão urgente é reforçar os esforços no combate.

— O Brasil está ainda mais vulnerável pela falta de regulação do setor de apostas esportivas — lembra Trengrouse.

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