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Botafogo e Atlético-MG na final da Copa Libertadores fortalece modelo SAF no Brasil

Transformação em modelo empresarial deu novo rumo para alguns clubes brasileiros

SAFs: futuro do futebol? (Gerado por Inteligência Artificial)

SAFs: futuro do futebol? (Gerado por Inteligência Artificial)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 1 de dezembro de 2024 às 12h10.

Última atualização em 2 de dezembro de 2024 às 20h19.

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A transformação dos clubes em Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que completou três anos de vigência neste mês de agosto, comprova que a mudança de gestão, a injeção financeira por meio de novos reforços, e o encurtamento das dívidas já se tratam de uma realidade positiva.

Os dois finalistas da Copa Libertadores, Botafogo e Atlético-MG, contemplam esse modelo, e soma-se a eles o Cruzeiro, que disputou a final da Copa Sul-Americana na última semana.

"Desde a implementação das SAFs, observamos um aumento significativo nos aportes de capital local e internacional nos clubes brasileiros. A rentabilidade potencial é imensa, dado o mercado brasileiro de futebol, que é um dos mais apaixonados e engajados do mundo", afirma Fernando Lamounier, Head de Marketing da Multimarcas Consórcios, empresa que é uma das patrocinadoras do Galo.

Como funciona a SAF no Brasil?

A lei, que passou a vigorar no Brasil em agosto de 2021, teve como um dos autores o advogado José Francisco Manssur, atualmente sócio da CSMV Advogados. Autor do livro 'Futebol, Mercado e Estado', ao lado de Rodrigo Monteiro de Castro, ele detalha o projeto de recuperação, estabilização e desenvolvimento sustentável do futebol brasileiro.

A partir deste projeto de pesquisa e estudo, é possível afirmar que essa é a primeira vez que três dos quatro finalistas são empresas constituídas e no modelo SAF dentro da América do Sul.

"Sempre dissemos que a SAF é um instrumento para atrair dinheiro novo para os clubes que escolherem esse modelo. Já na janela do meio do ano foi possível perceber que o nível de investimento dos clubes em geral teve um crescimento relevante impulsionado pelas SAFs. É gratificante ver clubes que estavam em situação difícil no cenário nacional nos últimos anos, como Cruzeiro e Botafogo disputando títulos internacionais e recuperando a auto estima dos seus torcedores", afirma Manssur.

Gestão dos times brasileiros

De fato, ele tem razão. Gerido pelo empresário norte-americano John Textor, o Botafogo gastou cerca de R$185 milhões com as chegadas de Thiago Almada e Matheus Martins. O meia argentino foi a maior contratação da história do futebol brasileiro e custou R$ 124 milhões aos cofres alvinegros.

Já o Cruzeiro investiu R$ 184 milhões na janela do meio do ano, com a compra em definitivo de Matheus Pereira e com as chegadas de Kaio Jorge, Lautaro Díaz, Jonathan Jesus, Fabrizio Peralta, Matheus Henrique, Wallace e João Marcelo. Estas movimentações mais agressivas no mercado são reflexo da gestão de Pedro Lourenço, empresário que é o novo dono da SAF do Cruzeiro desde o final de abril.

"São clubes que estão colhendo os frutos da coragem e do pioneirismo, sem dúvida. O Botafogo vê, claramente, um investidor de vários clubes pelo mundo que cada vez mais está aumentando a importância do investimento em seu clube brasileiro. Tudo isso é positivo", complementa Manssur.

Segundo o advogado, essa deve ser uma tendência ainda maior para a próxima temporada, influenciada pelo desempenho técnico das equipes que obtiveram sucesso neste ano.

"Sem dúvida teremos um aumento nas SAFs em 2025, pois o resultado esportivo influencia na decisão das pessoas que comandam os clubes. E a SAF somente pode ser adotada se os associados do clube aprovarem. A tendência que esse número de mais de 70 SAFs que temos hoje no Brasil aumente ainda mais ano que vem", diz.

Para Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa de entretenimento norte-americana, comandada pelo cantor Jay-Z, o dinheiro somente não garante sucesso.

"Já tivemos muitas provas de que os aportes das SAFs podem gerar resultados já no curto prazo no Brasil, mas nem sempre isso vai acontecer. O Vasco, que está muito próximo do Botafogo, é um ó exemplo disso. Muito foi gasto, e com um retorno esportivo no mínimo questionável. Dinheiro muda o número de pessoas às quais você tem acesso. Se não souber as escolher, pode fracassar com muito. Mas ter um "dono" já faz com que o clube deixe de se planejar como uma prefeitura", aponta.

Finalista também da Copa do Brasil, além da Copa Libertadores, o Atlético-MG fechou a segunda janela de transferências com cinco chegadas e investimentos na casa dos R$ 65 milhões. Na temporada, os valores ultrapassam os R$ 100 mi, e entre os principais, estão as chegadas do meia Gustavo Scarpa, que estava na Inglaterra, por R$ 27 milhões; o zagueiro Lyanco, que também estava no futebol inglês, por 9 milhões de euros (R$ 18 milhões), e o volante Fausto Vera, que foi contratado junto ao Corinthians por R$ 24,7 milhões.

Em vigor há três anos, a Lei das Sociedades Anônimas do Futebol foi publicada no Diário Oficial da União no dia 9 de agosto de 2021, com a previsão de incentivos para que os clubes de futebol se transformem em empresas e possam pedir recuperação judicial, podendo negociar as dívidas por meio da Justiça. Também estabeleceu normas de governança e instituiu meios de financiamento da atividade futebolística.

"Havia quem tivesse receio de que a constituição em empresa poderia causar o desaparecimento de marcas tradicionais do futebol brasileiro. Estamos vendo exatamente o contrário, a SAF de alguma forma recuperou clubes tradicionais para que voltassem a ter a relevância que tiveram no passado, mais vivos do que nunca e, muito importante, equalizando também as suas dívidas anteriores à constituição da SAF", acrescenta José Francisco Manssur.

Na temporada atual, outra das SAFs que tem sido protagonista dentro de campo é o Fortaleza, que faz sua melhor campanha na história do Brasileirão por pontos corridos, ao ocupar o 3º lugar na tabela, atrás apenas de Botafogo e Palmeiras. Mais recente em comparação com as outras equipes, a criação da Sociedade Anônima do Futebol do Leão do Pici se deu em 2024. CEO da SAF do Fortaleza, Marcelo Paz, explica que o novo modelo de gestão do Tricolor foi pensado para impulsionar o momento de crescimento que o clube vive, com campanhas de destaque nos cenários nacional e internacional.

“Optamos por realizar essa mudança para o modelo de Sociedade Anônima do Futebol porque entendemos que seja um caminho que renderá grandes frutos à instituição, e que poderá fortalecer ainda mais o grande momento que vivemos. O Fortaleza busca se atualizar constantemente para seguir crescendo e brigando por grandes conquistas em todos os cenários possíveis, a partir de uma gestão saudável, responsável e uma profissionalização da estrutura”, destaca.

Com a possibilidade de mudança na maneira de administração de instituições do futebol, algumas delas se destacaram não só pelo investimento em contratações, mas também em áreas como infraestrutura e profissionalização. Nesse sentido, especialistas avaliam como a transformação de clubes em SAFs mexe com a indústria do maior esporte do país e impacta no mercado brasileiro.

“Além dos impactos positivos que observamos no departamento de futebol de alguns times no Brasil, as SAFs têm obtido êxito em influenciar a indústria do esporte no país como um todo. Quando observamos a valorização financeira de clubes ao adotarem esse modelo de gestão, não estamos vendo apenas um único benefício a essas instituições. O que realmente estamos presenciando é uma movimentação em todo ecossistema, desde o engajamento com o público até a reformulação estrutural do clube”, avalia Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports e especialista em marketing esportivo, destaca alguns dos ganhos.

O discurso acima vai de encontro ao que pensa Claudio Fiorito, CEO da P&P Sport Management, empresa que atende centenas de jogadores em todo o mundo, entre eles o zagueiro Bastos, com passagens pelo futebol europeu e que hoje é um dos principais destaques do Botafogo.

De acordo com o executivo, a modernização do clube carioca, estruturando e modernizando seus departamentos por meio da SAF, fez o clube descobrir o defensor. Segundo ele, essa deve ser uma nova tendência para aqueles que se tornaram Sociedade Anônima do Futebol e seguem estruturando seus departamentos.

"Todas as áreas passam pelo processo de modernização com a SAF, e isso tem a ver com a profissionalização em análise de desempenho e scout, que conhece de forma ampla o mercado nacional e internacional. O Botafogo se encaixou exatamente dentro desta filosofia e o mérito é todo do clube, que enxergou essa oportunidade", conta.

Disparidade com a Argentina ficou evidente

Nas últimas seis edições de final única, quatro delas foram disputadas entre brasileiros (2020, 2021, 2022 e 2024), e somente em duas ocasiões os argentinos chegaram, mas foram derrotados nas finais (2019 e 2023). É a clara comprovação de disparidade entre os países nas questões econômicas dentro e fora de campo.

Para especialistas, essa mudança de rota no futebol argentino só deve mudar quando a introdução das SAFs for permitida no pais, algo que ainda vem sendo discutido entre as autoridades.

“Hoje existe uma disparidade econômica do futebol brasileiro em relação ao argentino,” comenta Sara Carsalade, co-founder e responsável pela vertical de esportes da Somos Young. Segundo ela, o mercado brasileiro está em evolução, com iniciativas como as SAFs, a profissionalização da gestão, e o uso de tecnologia e dados para melhorar processos. “Essas medidas extracampo influenciam no resultado de campo e isso fica nítido quando você observa que, em 2024, o Brasil chegará a seis títulos consecutivos da Copa Libertadores,” acrescenta Carsalade.

"Assim como já ocorreu em todos os principais países do futebol mundial, ora por organização do próprio mercado, como na Inglaterra, ora por determinação do governo, por meio de lei, como em Portugal e Brasil, a migração do modelo associativo para o empresarial causaria um grande impacto positivo na Argentina. Uma mudança certamente proporcionaria a chegada de investidores, especialmente estrangeiros - o MCOs - e, com isso a distância entre os orçamentos dos clubes argentinos e brasileiros poderia diminuir", afirma Marco Loureiro, sócio dos CCLA Advogados e responsável pela área de Direito Societário.

"Assim como já ocorreu em todos os principais países do futebol mundial, ora por organização do próprio mercado, como na Inglaterra, ora por lei, como em Portugal e Brasil, a migração do modelo associativo para o empresarial causaria um grande impacto positivo na Argentina. Uma mudança certamente proporcionaria a chegada de investidores, especialmente estrangeiros - o MCOs - e, com isso a distância entre os orçamentos dos clubes argentinos e brasileiros poderia diminuir", afirma Marco Loureiro, sócio dos CCLA Advogados e responsável pela área de Direito Societário.

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