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Eduardo Ricotta, CEO da Vestas: investimento ajuda a manter 25 mil empregos diretos e indiretos na operação da empresa (Vestas/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 9 de agosto de 2024 às 16h36.
Última atualização em 12 de agosto de 2024 às 14h16.
De Aquiraz, Ceará
A Vestas, companhia de infraestrutura para o setor de energia eólica, acaba de anunciar um pacote de iniciativas para desenvolver a modalidade no Brasil. Ao todo, R$ 130 milhões serão investidos para fabricar e utilizar novos modelos com maior capacidade, o que pode acelerar a transição energética no país.
Uma turbina de última geração, a V163-4,5, passará a ser construída na fábrica da empresa em Aquiraz, no Ceará. O local, a pouco mais de 45 quilômetros da capital, Fortaleza, recebeu o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o governador do Ceará, Elmano de Freitas, nesta sexta-feira, 9, para a inauguração do novo plano de negócios sustentável.
As pás necessárias para a utilização da nova turbina serão fabricadas em Caucaia, outro município cearense. Mais de 80% dos materiais serão produzidos no Brasil, assegurando o desenvolvimento de tecnologias no país. De acordo com o CEO da Vestas, Eduardo Ricotta, o investimento ajuda a manter 25 mil empregos diretos e indiretos na operação da empresa.
A empresa ainda fechou um acordo com o Banco Santander, firmado inicialmente em R$ 1 bilhão, mas que pode ser ampliado em até R$ 2,5 bilhões, para disponibilizar condições competitivas de liquidez aos fornecedores do setor eólico. O critério estipulado é a performance ESG de cada empresa. O programa busca aumentar as estratégias financeiras para a cadeia de suprimentos do setor de atuação da Vestas, com a possibilidade de antecipar recebíveis com vantagens progressivas.
“Quanto mais ESG forem as empresas, maiores as possibilidades de financiamento”, aponta Eduardo Ricotta. “É essa agenda que vai possibilitar a transição energética, mas é importante que o governo também faça esse movimento, criando incentivos e subsídios para empresas verdes”, comenta.
“O setor tem passado por uma desindustrialização acelerada. Nós vivemos um momento difícil na indústria, onde vários fabricantes hibernaram ou deixaram o Brasil, e isso teve efeito em toda a cadeia produtiva. Não faz sentido que o Brasil, com todas as suas vantagens naturais, viva apenas como comprador da energia de outros países”, aponta Leonardo Euler, vice-presidente de Relações Governamentais e Institucionais da Vestas.
Neste tema, a Vestas também assinou um protocolo de intenções com o governo do Estado do Ceará para incentivar empresas do setor energético a investirem no desenvolvimento de projetos no estado. O CEO explica que a iniciativa surgiu a partir da dificuldade da companhia em utilizar seus créditos fiscais com o estado, gerados entre 2019 e 2021. “Temos créditos de impostos com o governo do Ceará, e é uma burocracia usar esses créditos. O acordo assinado hoje vai incentivar nossos clientes que buscam colocar seus parques eólicos no estado”, afirma.
O ministro de Minas e Energia apontou como o investimento se conecta com a estratégia da pasta em garantir energias limpas de forma mais barata e acelerar investimentos na busca pela transição energética. “Nós sabemos que o Brasil é líder na transição energética pelo seu vento que sopra forte, pelo sol que tanto castigou o povo e hoje é uma grande fonte de energia, pela biomassa e as políticas públicas estruturadas por muitos anos”, declara.
O ministro ainda apontou o andamento das decisões sobre o leilão de reserva de capacidade energética, que buscam atender às necessidades de potência requeridas. “O leilão ainda depende de demanda. Estamos calculando, e assim que estiver apurada, vamos decidir, para que não se contrate acima do que se precisa. O objetivo é manter o custo o mais baixo possível para que a gente crie um ciclo virtuoso da economia nacional”, explica Silveira.
O ministro também comentou sobre a assinatura do marco legal do hidrogênio verde, formalizado nesta semana pelo Governo Federal. “Espero que a Lei de Hidrogênio Verde gere demanda no próprio Nordeste, o que pode incentivar até mesmo a cadeia de fertilizantes do Brasil, já que a partir da produção do hidrogênio verde geramos ureia”, explica.
O hidrogênio verde também foi debatido pelo CEO da Vestas como uma alternativa para o problema atual da sobrecarga de energia. “É uma fonte super potente, mas que é muito concentrada também. Acredito que, quando olhamos a transição energética inteira, vemos um volume de crescimento muito maior do que quando se faz a projeção sobre a sobrecarga de energia”, explica.
As possibilidades de energia eólica offshore também entraram nas discussões. Apesar da redução de custos, o executivo acredita que a qualidade da fonte onshore no Brasil ainda afastará os investimentos em offshore para os próximos anos. “Nos últimos três anos, o custo tem caído muito, e mais rápido do que a maioria das tecnologias. No Brasil, o vento onshore é muito bom. A transição aqui ainda depende muito do onshore. Acreditamos que haverá um atraso na entrada do offshore no Brasil porque as condições onshore são muito boas”, comenta.
As questões regulatórias também seriam um problema para a atração de investimentos, aponta Ricotta. “O arcabouço regulatório ainda não foi completamente finalizado, com projetos de bilhões de investimentos não concretizados por conta desse arcabouço regulatório indefinido. Pensando em indefinições como o pagamento de royalties a longo prazo, há uma discussão muito grande ainda que vai definir o preço da energia. A vantagem do offshore é estar próximo da demanda, mas faltam definições”, conclui.