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No campo da medicina e da biotecnologia, avanços constantes são fundamentais na busca por tratamentos mais eficazes e menos invasivos para combater doenças complexas, como o câncer (Getty Images/Reprodução)
Colunista
Publicado em 17 de dezembro de 2023 às 08h51.
Por Valentina Gessinger*
No campo da medicina e da biotecnologia, avanços constantes são fundamentais na busca por tratamentos mais eficazes e menos invasivos para combater doenças complexas, como o câncer. Entre essas abordagens inovadoras, destaca-se a Terapia Fotodinâmica (PDT - do inglês Photodynamic Therapy), uma promissora técnica que utiliza luz para destruir células cancerígenas. Essa abordagem, que já está se consolidando, representa uma “luz no fim do túnel” para pacientes e profissionais da saúde em todo o mundo.
Mas o que é Terapia Fotodinâmica? A Terapia Fotodinâmica é um procedimento médico que combina a aplicação de um fotossensibilizador e luz para induzir a morte seletiva de células doentes. O processo ocorre em três etapas: a administração do agente fotossensibilizador, sua absorção pelas células-alvo e a ativação por luz de uma determinada frequência. Essa combinação resulta na produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), que levam à uma destruição seletiva das células cancerígenas [1].
No entanto, a prática da Fototerapia remonta a séculos. Na Grécia Antiga, Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental, já incentivava o uso da luz solar para auxiliar na recuperação de atrofias musculares. Essa referência específica sugere que, mesmo na antiguidade, reconhecia-se o potencial terapêutico da exposição à luz para melhorar condições de saúde específicas.
Atualmente, o desenvolvimento de produtos e o número de estudos nessa área aumentaram consideravelmente.O principal foco do uso da Terapia Fotodinâmica no campo da biotecnologia tem sido a saúde humana e animal. Áreas como dermatologia, oncologia e urologia despertam grande interesse nesse tipo de tratamento, uma vez que possuem resultados estéticos excelentes, eficácia superior e menos efeitos adversos em comparação com outras formas convencionais de tratamento [2,3].
Outra vantagem importante da Terapia Fotodinâmica refere-se aos resultados práticos na área clínica, os quais destacam o quão atraente essa terapia é, tanto do (ponto de vista médico quanto financeiro. E esses fatores atrativos se dão pela capacidade da PDT de minimizar a resistência aos fotossensibilizadores, ao contrário do que é comum na quimioterapia convencional [2].
Por conta desses fatores, essa abordagem terapêutica já está disponível para o tratamento de diferentes tipos de câncer em todo o mundo, principalmente para câncer de pele não melanoma, segundo dados do National Cancer Institute (NCI). No entanto, o entendimento e conhecimento dessa terapia ainda não é amplamente difundido entre o público [4].
Hoje em dia, o foco primordial dos cientistas e pesquisadores nessa área está na identificação de novos fotossensibilizadores, compostos que são ativados apenas na presença de luz e que desempenham um papel essencial na eficácia da Terapia Fotodinâmica. Sendo assim, os alvos são novos sistemas de distribuição de medicamentos que estão surgindo para aumentar a biodisponibilidade do método fotodinâmico [5]. Em outras palavras, estão sendo criados sistemas para melhorar a entrega e a disponibilidade dos medicamentos usados na PDT, tornando o tratamento mais eficiente.
Como exemplo de moléculas muito utilizadas para a Terapia Fotodinâmica, podem ser citadas as porfirinas, um grupo de compostos orgânicos que têm uma estrutura característica chamada de anel porfirínico. Elas são substâncias naturais encontradas no corpo humano, sobretudo como componentes da estrutura das hemoglobinas, que são responsáveis pelo transporte de oxigênio no sangue. Além disso, essa substância tem propriedades fotossensíveis, o que as torna úteis em aplicações como a Terapia Fotodinâmica.
Como mencionado anteriormente, as porfirinas desempenham um papel significativo no tratamento de certos tipos de câncer, sendo o Photofrin® um medicamento muito utilizado dessa classe de moléculas. Para administrar o Photofrin®, o paciente recebe o medicamento por via intravenosa, possibilitando que ele atinja a corrente sanguínea e seja absorvido por células cancerosas e outros tecidos afetados. Após essa administração, o paciente é exposto a uma luz específica para ativar o medicamento e iniciar a reação fotodinâmica. Essa abordagem é empregada no tratamento de diversos tipos de câncer, incluindo câncer de esôfago, pulmão e determinados tipos de câncer de pele.
Vários estudos estão em andamento para aprimorar os efeitos das porfirinas, especialmente com o suporte da nanotecnologia. Em um artigo liderado por Lamch et al., a pesquisa visa aprimorar o Photofrin® usando nanopartículas conhecidas como micelas. O estudo se concentrou em células ovarianas e mamárias específicas, que são desafiadoras de tratar com medicamentos convencionais. Os resultados destacam que a combinação de porfirinas e micelas resultou em uma atividade mais robusta e eficiente, sugerindo que encapsular o medicamento pode ser uma estratégia promissora para potencializar seus efeitos. [6]
Apesar dos avanços notáveis, a Terapia Fotodinâmica enfrenta desafios notáveis em relação ao tratamento do câncer, como a complexidade em lidar com grandes massas tumorais e a limitação na profundidade de tratamento [2]. Contudo, a PDT continua a atrair considerável atenção devido aos resultados promissores que já apresenta. Sua eficácia a torna uma aliada significativa na busca por terapias mais eficientes para neoplasias, emergindo como uma potencial "luz" no horizonte do tratamento contra o câncer.
Referências:
[1] Brown SB, Brown EA, Walker I. The present and future role of photodynamic therapy in cancer treatment. Lancet Oncol. 2004 Aug;5(8):497-508. doi: 10.1016/S1470-2045(04)01529-3. PMID: 15288239.
[2] Couto GK, Seixas FK, Iglesias BA, Collares T. Perspectives of photodynamic therapy in biotechnology. J Photochem Photobiol B. 2020 Dec;213:112051. doi: 10.1016/j.jphotobiol.2020.112051. Epub 2020 Oct 9. PMID: 33074140.
[3] Patel G, Armstrong AW, Eisen DB. Efficacy of photodynamic therapy vs other interventions in randomized clinical trials for the treatment of actinic keratoses: a systematic review and meta-analysis. JAMA Dermatology 2014;150:1281–8.
[4] Tipos de tratamiento - NCI (cancer.gov)
[5] L.B. Josefsen, R.W. Boyle, Photodynamic therapy: novel third-generation photosensitizers one step closer? Br. J. Pharmacol. 154 (2008) 1–3, https://doi.org/10. 1038/bjp.2008.98.
[6] Lamch Ł, Kulbacka J, Pietkiewicz J, Rossowska J, Dubińska-Magiera M, Choromańska A, Wilk KA. Preparation and characterization of new zinc(II) phthalocyanine - Containing poly(l-lactide)-b-poly(ethylene glycol) copolymer micelles for photodynamic therapy. J Photochem Photobiol B. 2016 Jul;160:185-97. doi: 10.1016/j.jphotobiol.2016.04.018. Epub 2016 Apr 16. PMID: 27113446.
*Valentina Gessinger é do Jovens Cientistas