Apoio:
Parceiro institucional:
Painel do Brasil Climate Summit 2023 (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de ESG
Publicado em 13 de setembro de 2023 às 13h14.
Última atualização em 19 de setembro de 2023 às 12h03.
De Nova York*
A diminuição das emissões dos gases de efeito estufa são um dos grandes desafios para a mitigação dos impactos negativos das mudanças climáticas. Países e governos falam de emissões zero para, por exemplo, 2050. Contudo, ainda não há clareza de todos as práticas possíveis para atingir tal resultado.
Na corrida global pelas emissões zero, chamadas de NetZero, o Brasil tem um papel crucial, como debateram especialistas no primeiro painel do Brazil Climate Summit 2023, em Nova York. Para Paula Caballero, diretora do The Nature Conservancy para a América Latina, o primeiro passo é entender onde estamos e o que podemos fazer para até 2030.
Para isto, é preciso considerar os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), e atingi-los. "Estamos nos movendo na direção certa, mas ainda não temos olhares sistemicos para as transformações que precisamos. Ao mesmo tempo há diferentes frentes do setor privado e público para a evolução", diz.
Em relação ao setor privado, Shari Friedman, diretora de clima e sustentabilidade na Eurasia, reforça como as companhias precisam acelerar as políticas de sustentabilidade. "Foram emitidas 36,8 giga toneladas de CO2 no ano passado, sendo que em 2020, na pandemia da covid-19, as emissões diminuíram em 7%, o que mostra como é possível mudar", diz.
O desafio, de acordo com a diretora, é ter boas práticas para todos os temas necessários para frear as mudanças climáticas. "As companhias precisam trabalhar o impacto social, a biodiversidade, o uso da terra, entre outros. São muitos os temas, mas todos eles essenciais para os negócios, incluíndo o olhar atento ao que os fornecedores fazem".
Os investidores também estão mais atentos às companhias que trabalham para a aceleração da economia de baixo carbono. "Há um otimismo se pensarmos no crescimento dos green, social e blue bonds", diz Karen Fang, diretora global e head de sustainable e finanças no Bank of America. "Há cinco anos ninguém anteciparia o momento em que vivemos hoje, no qual para cada dólar investido em combustíveis fósseis outros sete são investidos em tecnologias limpas".
De acordo com a executiva, as tecnologias de descabonização, ao redor do mundo, têm atraído cada vez mais dinheiro, especialmente desde a COP26, em Glasgow. "Companhias de tecnologia verde e limpa estão atraindo investimentos e não só por ser bom para o planeta, mas por ser essencial para a sobrevivência dos negócios, inclusive nos mercados emergentes como o Brasil".
Outra boa notícia na corrida pela descarbonização é a disponibilidade de tecnologias. "Hoje temos diferentes formas de alcançar bons resultados. Temos, por exemplo, energia limpa, captura de C02 no ar e hidrogênio verde", afirma Bruce Usher, co-diretor da Tamer Center for Social Enterprise e professor na Columbia Business School.
O desafio agora é evoluir no uso das tecnologias a partir dos investimentos. "O hidrogênio verde, por exemplo, precisa superar problemas de transporte e de infraestrutura para adaptação de uso, mas se alguém quer investir em algo com grande potencial de mudança nas questões ambientias, o hidrogênio verde é uma forma", diz Usher. "Temos o dinheiro e temos as novas tecnologias. Nós sabemos o que fazer nesse ponto, e a questão é começar a executar".
Com o aumento médio da temperatura global entre 2,4°C a 2,6°C, quando comparado aos níveis anteriores à Revolução Industrial, o Brasil tem papel importante no tema. "A floresta amazônica é essencial na mudança, assim como o comprometimento do país com o desmatamento para 2030", diz Michael Stott, editor do Financial Times.
A agricultura também é um tema focal, como aponta Paula. "As soluções baseadas na natureza para setores como agricultura e carne são fundamentais para a descarbonização ao mesmo tempo que garantem soluções para a segurança alimentar e a resiliência econômica".
O que pode influenciar as mudanças são as políticas locais de cada país. "Quando cada um cria suas políticas de precificação de créditos de carbono, por exemplo, há uma influência externa por meio de importações e exportações, por exemplo. A descarbonização é algo que deve acontecer considerando as práticas globais", diz Shari.
Em seguida ao painel, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central do Brasil e sócio-fundador da Gávea Investimentos, falou virtualmente. "Estou convencido de que o Brasil pode responder ao desafio das mudanças climáticas ao endereçar temas como o fim do desmatamento, o reflorestamento e a agricultura sustentável, por exemplo. Para isto, é preciso que as mudanças climáticas sejam tão centrais no desenvolvimento do país quanto a saúde, a erradicação da pobreza, entre outros".
Veja também: