A Conferência dos Oceanos, realizada este ano em Lisboa, deveria acontecer em 2020, mas foi adiada por causa da pandemia (Leandro Fonseca/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 30 de junho de 2022 às 14h11.
Última atualização em 30 de junho de 2022 às 14h38.
*De Lisboa, Portugal
E a guerra chegou à Conferência dos Oceanos, evento da ONU realizado nesta semana em Lisboa. John Kerry, enviado especial para o clima da Casa Branca, lembrou dela no início de sua primeira participação na plenária do evento. “Este é um momento crítico”, disse Kerry. “Para os oceanos, sim, mas também para nossos valores e princípios. Ninguém pode ignorar a ameaça à ordem internacional que a guerra brutal da Rússia contra a Ucrânia representa.”
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A fala de Kerry ilustra o principal desafio do evento, que deveria ter acontecido em 2020, mas foi adiado por causa da pandemia. Há nítida urgência em se tratar a questão da degradação oceânica, sob risco de inutilizar todo o esforço de descarbonização que os países e as empresas se envolveram, com patrocínio do mercado financeiro. Os oceanos são responsáveis por um quarto da captura de carbono global – nesse aspecto, são mais importantes do que a Amazônia.
Os oceanos desempenham um papel crucial na economia. Dados da UNCTAD, braço da ONU para o comércio, apontam que as vendas de produtos relacionados aos mares movimentam quase 700 bilhões de dólares ao ano. Esse mercado inclui desde produtos oriundos dos oceanos, como peixes, até equipamentos para atividades marinhas.
Há também um papel social. Estima-se que 3 bilhões de pessoas dependam dos mares para se alimentar, e existem cerca de 150 milhões de empregos ligados diretamente às atividades oceânicas. Durante a pandemia, o setor demonstrou enorme resiliência ao se manter num patamar acima do comércio em geral.
“As ações russas na Ucrânia são repreensíveis, porém, não podem servir de desculpa ou ficar no caminho do trabalho que precisamos fazer nesta semana”, continuou John Kerry. “O meio ambiente e o clima não param subitamente por causa de uma invasão. Vidas estão em jogo, e os oceanos tocam em todos os aspectos da nossa, do ar que respiramos à comida que comemos.”
O enviado especial da Casa Branca ainda ressaltou que o problema dos oceanos transcende a vida marinha. Para ele, não há como falar em combate às mudanças climáticas sem incluir os oceanos, e qualquer medida que se tome nessa direção depende do resultado das conversas dessa semana, que devem terminar na COP 27, a Conferência do Clima da ONU, que será realizada no Egito. “Se o setor de transporte marítimo fosse um país, ele seria o oitavo maior emissor do mundo”, disse o diplomata. “Precisamos incentivar a transição para um transporte verde.”
As parcerias público-privadas para soluções contra poluição marinha foi tema de um debate na Conferência dos Oceanos, em Lisboa, na manhã desta quarta-feira, 29. Na ocasião, representantes de governos apresentaram soluções já em andamento, além de propor parcerias.
Ministro do Pacífico e do Meio Ambiente Internacional no Reino Unido, Lord Goldsmith, reforçou a importância do cumprimento do acordo internacional pelo fim da poluição plástica, que se baseia em três propostas iniciais de várias nações e estabelece um Comitê Intergovernamental de Negociação, com funcionamento a partir deste ano.
A meta é concretizar uma proposta para um acordo global até o fim de 2024. "Não podemos falhar, esse é o momento de agir e temos muito a fazer", disse o ministro.
Já Duarte Cordeiro, Ministro do Ambiente da Ação Climática de Portugal, reforçou o dano que a poluição causa. "Precisamos de soluções inovadora e financeiramente viáveis. A economia circular do plástico é um caminho", afirmou. Em entrevista exclusiva para a EXAME, Duarte lembrou que Portugal é o país que mais limpou praias em 2021.