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Sebrae: instituição de serviços para pequenos e micro empreendedores lança comitê ESG (Erivelton Viana/Reprodução)
Repórter de ESG
Publicado em 23 de junho de 2023 às 09h16.
Última atualização em 23 de junho de 2023 às 09h42.
O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) anunciou, nesta terça-feira, 21, o lançamento de um comitê interno voltado para os parâmetros ESG (do inglês, ambiental, social e governança). O evento contou com presidentes, diretores e líderes nacionais e regionais da organização, assim como palestrantes convidados para discutir sustentabilidade, de acordo com o tema “Sendo a mudança no mundo”.
“A sigla ESG é um conceito permanente sobre o que a nossa geração tem vivido. Falar de sustentabilidade tem total ligação com os processos econômicos do empreendedorismo e da vida, tem tudo a ver com os desafios que temos e somos pertencentes", disse à EXAME Décio Lima, presidente do Sebrae, na abertura do evento. "Sustentabilidade significa gerar emprego e fazer a economia crescer sem causar mudanças irreversíveis para a vida na Terra.”
Lima ressaltou a importância da inovação e do uso de inteligência artificial como tendência para os empreendedores, e o compromisso da organização com a inclusão. “São 94 milhões de pessoas com fragilidade alimentar, precisamos sustentar o planeta e garantir o seu equilíbrio de um mundo inclusivo para toda a humanidade, esse é o grande desafio da nossa geração: a garantia da humanização da vida”, afirmou.
Algumas unidades regionais do Sebrae já contam com iniciativas voltadas à sustentabilidade, como é o caso de Alagoas, Rio de Janeiro e Mato Grosso – essa última é referência, pois conta com um Centro de Sustentabilidade. “Por que criar um comitê ESG? Para lutar contra o greenwashing e o diversity washing, em fina sintonia com a atuação regional do Sebrae”, explicou Margarete Coelho, diretora da administração e finanças do Sebrae.
É importante, diz Margarete, ter ações de letramento para evitar vieses inconscientes, principalmente sobre as questões sociais. Os projetos Sebrae Delas, Sebrae Inova Amazônia e Sebrae de Plurais são alguns exemplos. “Devemos nos perguntar como estamos, quando o assunto é em diversidade e inclusão, por isso, a ideia é aproveitar as boas práticas que as unidades estão fazendo. Quantas mulheres temos em cargos de liderança? Quantas pessoas com deficiência? Nossos compromissos e ações nos fazem representativos”, reforçou a diretora.
“Seja você a mudança que você quer no mundo” – a frase de Mahatma Gandhi foi citada por Bruno Quick, diretor técnico do Sebrae, em sua apresentação no evento. Ele ressaltou que o papel do Sebrae tem plena ligação com os verbos presentes indiretamente no nome da organização: servir e apoiar. “É isso que a gente deve se ater. O Sebrae é uma casa de prática”, disse.
Quick cita pontos de atenção como a preservação e a restauração do planeta, assim como, a bioeconomia e a importância da floresta em pé e de cuidar dos amazônidas – além de igualdade de gênero e da união gerada pelo pilar da governança.
O evento contou com especialistas para comentar as suas percepções sobre o impacto ambiental, social e de governança da sustentabilidade, como Daniel Munduruku, ativista, escritor e professor indígena, Karine Oliveira, palestrante e CEO da Wakanda Educação, escola de empreendedorismo periférico, e Renata Faber, head de ESG da EXAME.
Os povos indígenas são empreendedores há centenas de anos, é o que comentou Munduruku durante a sua fala no evento. Ele discorreu sobre como a cultura dos povos originários pode contribuir para a construção dos pilares ambientais e sociais das empresas e, ainda, lembrou como a sociedade rotula os povos indígenas.
“A gente tem que pensar na sustentabilidade de dentro para fora, sempre. Como parte da própria natureza, como agentes da própria natureza e não como aqueles que vão olhar para a natureza e tirar dela outras coisas, arrancar simplesmente para muitas vezes satisfazer a nossa própria vaidade. A gente tem que se sentir parte da natureza se quisermos efetivamente que ela jogue o mesmo jogo que a gente”, disse Munduruku.
O ativista ainda fez uma provocação: “Eu queria sugerir ao Sebrae – se me permitem – trazer os povos indígenas para conversar com vocês. Os indígenas estão em todos os estados. Esses povos têm o que dizer, o que ensinar, o que mostrar, o porquê apresentar, e sabem como ajudar a ganhar dinheiro. Mas é preciso ouvir, compreender esses povos como experiências criativas, que sempre tiveram que encontrar respostas para o que ia acontecendo, para que as falas repercutissem nas ações”, concluiu o ativista
Já Karine Wakanda trouxe a perspectiva que a ação social tem um ar bastante assistencialista, e para ela, a diferença acontece quando é possível ter uma estratégia sobre as iniciativas sociais que metrifica, ouve, entende a lógica e aplica, ou seja, executa ações palpáveis.
A palestrante disse que pessoas iguais não mudam o imaginário de um ambiente. “Inclusão é andar com o diferente”, afirmou. Segundo ela, é preciso mudar a lógica, mudar às vezes a linguagem para tornar o conhecimento acessível para grupos minorizados, como mulheres, pessoas pretas, LGBTQIAPN+ e com deficiência. “Se o Sebrae é composto de homens e de mulheres, por que na hora de falar, a maior parte dos que falam são homens”, questionou ela.
Para Wakanda, é importante se cercar de pessoas diferentes, admitir que os gestores erraram sobre inclusão no passado, assumir responsabilidade e comprometimentos para mudar e evitar resoluções rápidas para problemas complexos porque não se conhecem as verdadeiras necessidades. “Para o Sebrae começar a ter caras diferentes em ambientes diferentes, é preciso um compromisso de todos, mas embasado na lógica. Não acho que pensar ESG vai ser mais um trabalho”, disse ela. Para a palestrante, o ‘S’ é sobre oportunidade para pessoas que já existem, não só construir portas, mas construir pontes.
Já para dividir um pouco sobre as experiências com governança, Renata Faber, head de ESG da EXAME, fechou as falas dos palestrantes. Segundo a head, “governança é sobre valores, como a empresa se comporta, os códigos de ética e de conduta”. Faber comenta que, apesar de algumas vezes negligenciada, a governança é pilar essencial para a aplicação da sustentabilidade, visto que sem ela a empresa deixa de causar os impactos ambientais e sociais positivos.
Faber ressaltou a solidez dos relacionamentos e o capitalismo de stakeholders, ou seja, para o lucro existir as relações com os clientes, fornecedores, funcionários e sociedade precisam ser boas. A governança é também uma ferramenta para antecipar problemas, reduzir riscos e trazer ganhos a longo prazo.
“Quando eu vejo uma instituição com o peso do Sebrae abraçando essa agenda, é uma alegria imensa. É muito animador ver que o Sebrae entende o poder e a responsabilidade que tem. O Sebrae do século 21 que será sustentável, inclusivo e competitivo”, conclui a head.