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Se depender das empresas, meta do Acordo de Paris não será alcançada

Levantamento com 6 mil companhias abertas mostra que nível de emissões aponta para um aumento de 4 graus na temperatura, o dobro da meta de Paris

Apesar da demanda dos investidores por empresas e fundos ESG, mercado ainda não está correspondendo (Lukas Schulze/Getty Images)

Apesar da demanda dos investidores por empresas e fundos ESG, mercado ainda não está correspondendo (Lukas Schulze/Getty Images)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 8 de novembro de 2020 às 15h46.

As consequências do aquecimento global são conhecidas. Temperaturas impróprias para a vida humana, alta do nível dos oceanos inundando cidades inteiras e catástrofes naturais recorrentes são algumas delas. Apesar dos riscos, o setor empresarial parece não estar preocupado. 

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Um levantamento feito pelo banco suíço J Safra Sarasin, com 6 mil companhias abertas, aponta que, no atual nível de emissões, o mundo caminha para um aumento de 4 graus Celsius na temperatura, o dobro do estipulado como seguro no Acordo de Paris. 

Na Europa, a preocupação parece ser maior. Mesmo assim, considerando as emissões das empresas europeias, a elevação da temperatura, nos próximos 30 anos, ficaria em 3,5 graus Celsius, uma leve melhora, mas insuficiente para evitar as consequências negativas das mudanças climáticas.

 “Há uma onda de investimentos ESG (ambiental, social e governança, na sigla em inglês), mas o mercado não está correspondendo às demandas dos investidores”, afirmou Sasja Beslik, líder da área de sustentabilidade do banco, em entrevista ao jornal Financial Times. 

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A eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos promete jogar mais atenção a essa questão. Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Biden afirmou que o combate às mudanças climáticas será uma de suas prioridades no governo. O democrata afirmou que vai reincorporar os Estados Unidos ao Acordo de Paris no primeiro dia do seu governo.

Essa lentidão das empresas em cortar suas emissões é um dos argumentos em favor da criação de um imposto sobre carbono. Em entrevista à EXAME, o economista do Fundo Monetário Internacional Ian Parry defendeu a ideia. “Há duas maneiras de precificar o carbono, via taxação ou mercado. A criação de um imposto é a mais natural”, afirmou Parry.  É um mecanismo assertivo, capaz de prover uma estimativa de preço de longo prazo, o que é importante para os investimentos em tecnologias desse tipo.

Os empresários e a maioria dos governos defende um caminho mais liberal, com a criação de um mercado de carbono, o que, na prática, significaria a mesma coisa que um imposto, já que emissores acabariam pagando uma taxa pelo carbono. Mas, para Parry, esperar o mercado funcionar só vai custar mais tempo e dinheiro.

Emissões brasileiras disparam com desmatamento

O Brasil aumentou sua contribuição no ano passado com o aquecimento global. As emissões de gases de efeito estufa, como o gás carbônico, subiram 9,6% em 2019. No primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, a alta de desmatamento, principalmente na Amazônia, foi a principal responsável pelo aumento de emissões.

Os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), ligado ao Observatório do Clima. De acordo com o levantamento, o país lançou no ano passado na atmosfera 2,17 bilhões de toneladas brutas de dióxido de carbono equivalente (CO2e), ante 1,98 bilhão de toneladas de CO2e em 2018. Com o aumento, fica mais difícil para o Brasil cumprir sua meta interna de redução de emissões até 2020, que tinha sido estabelecida na Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), de 2010.

“O PIB nacional no mesmo ano subiu 1,1%, o que sugere que as emissões no Brasil, diferentemente das da maioria das outras grandes economias, estão descoladas da geração de riqueza”, indicaram os pesquisadores responsáveis pela análise.

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