Apoio:
Parceiro institucional:
Empresas que não estiverem alinhadas aos critérios ESG terão dificuldades para receber investimentos do banco (Rodrigo Garrido/Reuters)
Rodrigo Caetano
Publicado em 24 de julho de 2020 às 18h07.
Investir em empresas intensivas em carbono é arriscado. Para Gilberto Abreu, CEO da Santander Asset Management, gestora de investimentos do banco espanhol, os impactos das mudanças climáticas nos investimentos são objetivos. “Vamos imaginar uma empresa com alta emissão de carbono. Se há uma mudança regulatória que determine um limite, o negócio pode se inviabilizar”, afirma Abreu. “A gente sempre se preocupou com a questão ambiental, mas o cenário, hoje, é mais urgente”.
O executivo assumiu o comando da Santander Asset em fevereiro. Desde então, vem liderando uma transformação nos critérios de análise dos investimentos feitos pela gestora. O objetivo é incluir critérios ESG (meio ambiente, social e governança, na sigla em inglês) em todos os produtos oferecidos pelo banco. “Caminhamos para isso”, afirma Abreu.
Por meio de uma metodologia própria, a gestora irá atribuir uma nota ESG para cada empresa investida. Essa classificação definirá o apetite em investir. “Companhias não alinhadas aos critérios, provavelmente, não vão receber investimentos”, afirma. “A análise de crédito já considera questões ambientais. Sem crédito, e sem investimento, essas empresas terão muitas dificuldades”.
O contexto global impulsiona a mudança. Este ano, o ESG ganhou um status prioritário em meio aos grandes investidores. Os investimentos responsáveis foram o assunto dominante no Fórum Econômico Mundial, em janeiro, na cidade suíça de Davos. Com a pandemia, imaginava-se que o tema perderia força. Isso aconteceu, mas por um breve momento. À medida que foi ficando claro que os fundos ESG apresentariam um desempenho melhor, ou menos pior, do que os tradicionais, a sigla voltou a dominar os debates sobre o “novo normal” do mercado financeiro.
A dificuldade de incluir os critérios ESG no Brasil está na falta de dados. Segundo Luzia Hirata, analista de investimentos e especialista em ESG da Santander Asset, o nível de transparência das empresas, em média, é menor do que na Europa e nos Estados Unidos. “Em nossas análises, utilizamos dados públicos, de balanços, relatórios de sustentabilidade e outras divulgações periódicas das empresas”, diz Hirata. “Mas, também pegamos informações de outras fontes, como notícias”.
Ethical reformulado
Para marcar o início dessa nova fase, a Santander Asset está lançando um fundo ESG, em parceria com a gestora holandesa Robeco, o Global Equity ESG Reais. Trata-se de um fundo offshore de renda variável composto por empresas “que apresentem sólidos critérios sociais, ambientais e de governança corporativa”, de acordo com o banco.
O fundo está aberto a investidores qualificados (que possuam ao menos 1 milhão de reais investidos) e vai selecionar entre 70 e 135 empresas, nacionais e estrangeiras. Para mitigar os riscos da variação cambial, uma vez que se trata de um fundo de ações do mercado internacional, o Global Equity ESG terá hedge para reais.
A novidade também marca a chegada ao País da Santander GO, uma plataforma global de investimentos que conta com 1 bilhão de euros em ativos sob gestão. Além do ESG, a plataforma conta com outras cinco estratégias de investimento: retorno absoluto, ações americanas, ações globais, renda fixa flexível global e renda fixa de curto prazo nos EUA.
Para os investidores de menor porte, a novidade é a reformulação do fundo Ethical, lançado em 2000, ainda pelo Banco Real, comprado pelo Santander. Abreu explica que o fundo, criado com o objetivo de investir apenas em empresas responsáveis, passará a adotar os mesmos critérios ESG do Global Equity. “Como ainda não havia esse conhecimento ESG, para viabilizar o fundo, foi adotado um modelo de conselho”, explica o CEO. “A partir de agora, usaremos nossa metodologia em vez dos conselheiros. Com o tempo, vamos adotar esses mesmos critérios em todos os nossos fundos”.