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Com a mudança do papel das empresas, consquência do capitalismo de stakeholder, as áreas de humanas e exatas precisam trabalhar juntas (XiXinXing/Getty Images)
Rodrigo Caetano
Publicado em 28 de outubro de 2020 às 11h29.
Última atualização em 28 de outubro de 2020 às 12h13.
Há dois tipos de estudante nas universidades, o pessoal de humanas e o de exatas. Um não gosta muito do outro. Para filósofos, comunicólogos e artistas em geral, buscar o sentido da vida nos números é coisa de bitolado. Já os matemáticos, físicos e engenheiros acham que pensar em coisas imateriais, como a natureza do ser, é perda de tempo.
Ninguém percebe, porém, que uma área se alimenta da outra, num ciclo interminável de teoria e prática. “As duas áreas precisam trabalhar juntas”, afirma Antonio Batista, diretor executivo da Fundação Dom Cabral (FDC), uma das mais importantes escolas de negócios do País. Batista foi o convidado do sexto episódio do podcast ESG de A a Z, produzido pela EXAME.
A questão é que o mundo dos negócios está cada vez mais complexo. O papel das empresas, nos últimos anos, mudou. Antes agentes de promoção econômica, as corporações estão se tornando agentes de promoção de bem-estar social. Nessa nova postura, os números, por si só, não garantem o desenvolvimento de uma boa estratégia. É preciso pensar filosoficamente, inclusive, no que significa bem-estar social e como as empresas podem contribuir para melhorar esse indicador.
Agora, se o pessoal de exatas precisa “abrir a cabeça” e começar a ler Proust, Kant e Hannah Arendt, a turma de humanas deve de tratar o mundo corporativo como “inimigo” e aceitar uma maior colaboração. “Há uma resistência, nas academias, de se colaborar com outras áreas. Mas, isso não faz sentido”, diz Batista, que sempre pensou em seguir uma carreira de humanas. Porém, a disponibilidade de trabalhos bem remunerados o fez optar por um meio termo e se formar em administração de empresas.
A ideia de que o lucro é o objetivo principal de uma empresa dominou a administração nos últimos 50 anos. Mas, isso vem mudando, na visão de Batista. Esse pensamento passou a ser contestado pelos que defendem o chamado capitalismo de stakeholder, cujo mote principal é que as empresas existem para dar retorno a todas as partes interessadas (stakeholder) e não apenas ao acionista.
“O capitalismo não foi inventado para as pessoas ganharem mais dinheiro, mas para melhorar a distribuição e dar acesso a produtos e serviços”, afirma Batista. “Antes, o que existia era o escambo. O capitalismo trouxe a especialização, que gerou eficiência e um padrão de bem-estar inédito. O pobre, hoje, tem uma vida melhor do que o pobre há 300 anos.” O problema do capitalismo, diz o professor, é que ele acabou gerando um abismo entre o topo e a base da pirâmide. No Brasil, a situação é ainda mais grave. “A desigualdade por aqui é criminosa”, define o professor.
As escolas de negócios também estão buscando se adaptar a esse cenário, com mais diversidade e colaboração entre as disciplinas. “A academia terá de fazer um mergulho na base da pirâmide”, afirma Batista. “Na FDC, formamos 30.000 pessoas em nossos cursos de MBA. A maioria brancos de classe média alta. Não há negros, não há diversidade.” Para um novo mundo, uma nova escola.