O mês de julho, em especial o dia 25, data que celebra o Dia da Mulher Negra Latino Americano e Caribenha e também de Teresa de Benguela, é um marco para mulheres negras (Jonathan Erasmus/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 25 de julho de 2022 às 07h00.
Última atualização em 25 de julho de 2022 às 14h03.
*Por Viviane Elias Moreira e Jandaraci Araújo
O mês de julho, em especial o dia 25, data que celebra o Dia da Mulher Negra Latino Americano e Caribenha e também de Teresa de Benguela, é um marco para a nossa jornada enquanto mulheres negras, data que lembramos a trajetória de luta das líderes negras que foram invisibilizadas durante séculos, décadas. Líderes como Tereza, Dandara, Tia Ciata e tantas outras, que nos inspiram a seguir movimentando as estruturas que de forma contínua insiste e persiste em nos colocar na base da pirâmide social.
A data é momento de reflexão, e não uma comemoração. Apesar de ser comemorada há 30 anos, o impacto na realidade das mulheres negras, é muito baixo. As estatísticas oficiais, estudos e diversos levantamentos refletem os pouquíssimos avanços. É apenas a constatação de uma sociedade que insiste em manter o status quo. No entanto, nós não aceitamos passivamente o “sistema” e vamos criando espaços e redes para hackeá-lo e transformar a realidade que ainda nos oprime.
Proponhamos fazermos um exercício, não só para o mês de julho, mas para as demais passagens do ano, que é olhar para nós, mulheres negras, e a tudo o que desenvolvemos há décadas, seja no corporativo ou em outras instâncias. Destacamos também a importância de reconhecer para pertencer. A importância de ter outras mulheres negras, lado a lado, em jornadas que modifiquem o atual cenário.
Acreditamos que essa rede de apoio é necessária e cirúrgica, uma vez que o sentimento de pertencimento desempenha um papel fundamental no desenvolvimento das grandes cadeias, ainda mais no interior de uma lógica racista e colonial, que atua na invisibilização de histórias que devem ser valorizadas e contadas, tal como a das mulheres negras.
Queremos não apenas sonhar, mas estar em espaços que possamos ocupar de forma coletiva. Uma de nós, para representar o todo, não é e nunca será diversidade no ato. Essa é a mudança que tanto queremos e de forma assertiva, uma vez que a construção de uma nação melhor, só terá eficácia quando mulheres negras tiverem suas vozes ouvidas nos espaços de decisões, já que a criatividade, inovação e idealização de modelos disruptivos estão no cerne de tudo o que fazemos e não é de hoje.
Ao galgarmos dentro de uma empresa, a níveis hierárquicos mais altos, estamos viabilizando que a inovação decorrente de olhares plurais seja refletida em seus processos, produtos e serviços, criando um círculo virtuoso de ideias e propostas alinhadas com diversidade de gênero e racial. No entanto, para que isso aconteça, é necessário sair do discurso, e se colocarem como agentes de transformação.
Hoje, em 2022, não temos nenhuma mulher negra CEO de empresa no Brasil, salvo as mulheres negras que fundaram ou co-fundaram as suas próprias empresas. Temos, inclusive, poucas mulheres negras em conselho e, quando estão, estão em conselhos consultivos e/ou comitês ligados aos temas sociais. Este é um exemplo de como precisamos agir de forma mais rápida. Não adianta acelerarmos somente a base, precisamos também pensar em média e alta gestão.
Precisamos mudar a rota, e colocar o trabalho como um espaço de crescimento profissional e não uma forma de substância para nós mulheres negras. Nossa esperança é mantida por diversos programas de aceleração, materiais e suportes realizados, em sua grande maioria de mulheres negras para mulheres negras, que contam com suporte de aliados não negros e empresas de relevância nacional que notam o tamanho da desigualdade existente.
O ponto chave para a reflexão é: se pessoas negras, especificamente mulheres negras, são parte de sua rotina somente para te servir, você está sendo conivente com o racismo e precisa agir prontamente para a mudança deste cenário. O tempo é agora.
* Viviane Elias Moreira é Chief process and innovation officer na 99 jobs/ mais de 12 anos de experiência em resiliência Corporativa, com atuação em cargos executivos em multinacionais do segmento financeiro, seguros e saúde, prof de cursos de mba e integrantes de cursos de formação em conselhos.
*Jandaraci Araújo é com mais de 25 anos de carreira, atualmente é CFO da 99 jobs, é co-fundadora do Conselheira 101, programa que visa a inclusão de mulheres negras em conselhos de administração, é executiva do mercado financeiro com atuação na área de sustentabilidade.