(Bloomberg / Colaborador/Getty Images)
Laura Pancini
Publicado em 8 de abril de 2021 às 19h40.
Última atualização em 9 de abril de 2021 às 09h02.
Para Celso Luiz Moretti, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), “não há dúvidas” de que a produção de alimentos no Brasil irá dobrar na próxima década. Com tecnologia e sustentabilidade, Moretti acredita que o crescimento da produção está relacionada ao das agritechs no país, que trabalham para aumentar a produção no país de maneira sustentável.
A importância das agritechs foi discutida durante o painel “Agritech com foco em boas práticas” no fórum "Super Agro Brasil 2021", evento organizado pela EXAME nesta quinta-feira, 8, e que reúne especialistas do setor para debater o futuro do agronegócio no Brasil (veja a programação completa e os painéis acontecendo neste momento).
“O Brasil deixou de ser um país importador de alimentos para se tornar um dos maiores players globais na produção ao longo dessas últimas cinco décadas, porque investiu pesadamente em ciência, tecnologia e inovação. A agricultura brasileira é movida a ciência”, avalia Moretti, que ressalta que o Brasil exporta para mais de 160 países em todo o mundo e que, em cinco anos, “nós vamos nos tornar o maior exportador de commodities” e ultrapassar os Estados Unidos na exportação de grãos.
Além de Moretti, também participou Márcia M. Amaral, Gerente de Inovação Aberta em LEAP/KPMG e Co-Fundadora da ALLUAGRO, startup agritech que trabalha com geolocalização de máquinas e implementos agrícolas.
“Estamos agora num processo onde empresas tradicionais estão se juntando com startups para criarem processos de transformação agrícola”, avalia Márcia Amaral. Ela observa uma sinergia entre fazendeiros e agritechs, que devem “impactar ainda mais” na próxima década e tornar o Brasil um exportador de inteligência. “As empresas e startups precisam unir propostas de valor para que juntas elas criem uma inteligência tecnológica agrícola de exportação para o mundo. Nós temos potencial para dominar essa área”, diz a executiva.
“Nós vamos aumentar a produção no Brasil de forma sustentável”, analisa Moretti. Ele diz que o país tem em torno de 60 milhões de hectares de pastagens degradadas que, com tecnologia, poderão ser utilizadas na próxima década para a produção de, aproximadamente, 260 milhões de toneladas de grãos, quantidade que foi produzida com 68 milhões de hectares de terra.
“Não estou falando de abrir novas áreas ou derrubar uma árvore sequer, e sim trazer 60 milhões de hectares de pastagens degradadas para a matriz produtiva brasileira. Nós vamos crescer, e muito, a produção no Brasil. Vamos nos tornar o maior produtor de alimentos do mundo de maneira sustentável e os indicadores estão aí”.
Ao falar sobre o que as agritechs estão fazendo hoje, Amaral deixa claro que todo processo conta com startups que já tentam gerar um impacto na cadeia produtiva. Elas trabalham em análises de solo; processos de inteligência de plantio e da colheita; análises de clima; eficiência logística; análises da folha e algumas conseguem até fazer chover através de processos químicos com aviões.
Indo além da sustentabilidade, Amaral também comenta que percebe muitas empresas entendendo a importância dos dados para a agricultura. Ela exemplifica o uso de drones para analisar a qualidade do solo, falhas no plantio, previsibilidade de pragas ou distribuição organomineral, e Moretti complementa: “Isso já está acontecendo em fazendas de algodão no Mato Grosso, por exemplo. Por meio de drones, é possível mapear uma determinada doença e o pulverizador vai atingir somente aquelas plantas onde existe a doença.”
“Também vejo plataformas que fazem gestão de risco de lavoura através de satélites, ou gestão de pecuária e irrigação”, continua Amaral, que diz que a gestão da irrigação é essencial quando falamos sobre poder plantar em qualquer lugar do planeta. No Brasil, por exemplo, existem 300 mil hectares de trigo na região do cerrado graças a um esforço de melhoramento genético realizado pela Embrapa e parceiros. Normalmente, o trigo pertence ao clima frio e cresce em regiões temperadas, como o Canadá.
“Para nós consumirmos um pão de boa qualidade, alguém precisa produzir um trigo, adaptado a uma determinada região, que está adaptado ao solo e que resiste a pragas e doenças para usarmos menos pesticidas”, diz Moretti. “O agro brasileiro é o setor mais inovador da nossa economia de longe. A quantidade de tecnologia e conhecimento que se tem no grão de milho ou em uma maçã é maior do que no smartphone que está na sua mão”.
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