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Portobello transforma casca de molusco em produtos e gera renda para marisqueiras

Lançado em 2020, Projeto Sururu já reaproveitou 200 toneladas do resíduo e gera renda superior a R$ 100 mil para famílias do Nordeste, apostando em impacto social e ambiental

As marisqueiras desempenham um papel crucial na economia local e cultura da região  (Portobello/Divulgação)

As marisqueiras desempenham um papel crucial na economia local e cultura da região (Portobello/Divulgação)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 14 de abril de 2025 às 17h06.

Última atualização em 14 de abril de 2025 às 20h23.

No litoral do Brasil, as marisqueiras desempenham um papel crucial na economia local e cultura da região. Essas mulheres, que tradicionalmente se dedicam à coleta de mariscos, caranguejos e outros crustáceos em manguezais para consumo próprio ou comercialização, dominam técnicas específicas de extração e são aliadas na preservação do ecossistema costeiro.

Mas este trabalho ainda é bastante precarizado e carece de reconhecimento formal, e o Portobello Grupo encontrou uma solução para gerar impacto socioambiental positivo.

A companhia de revestimentos cerâmicos ressignificou a casca de moluscos que seriam descartadas como resíduo e transformou em matéria-prima para o desenvolvimento de novos produtos e cerâmicas.

O projeto Sururu escolheu as marisqueiras do Vergel, em Alagoas, no Nordeste, para resolver dois problemas: a geração de lixo e a desvalorização histórica da profissão. Lançada em 2020, a ação contou com um investimento de R$ 1 milhão e já reciclou mais de 200 toneladas de cascas.

Os novos produtos são desenvolvidos por uma empresa social dentro da comunidade e a Portobello os compra e revende em suas lojas. Dessa forma, a atividade passou a gerar uma renda superior a R$ 100 mil para as marisqueiras e R$ 400 mil em empregos diretos.

Em entrevista exclusiva à EXAME, Scheila de Souza Orlandi, coordenadora de sustentabilidade do grupo, disse que o projeto é um exemplo perfeito de como um negócio pode gerar impacto social, ambiental e econômico.

"As cascas de sururu, que antes eram vistas como lixo, hoje se tornam um novo produto de valor. Não só ajudamos a reduzir resíduos e promovemos a economia circular, como oferecemos uma nova fonte de renda para as marisqueiras. É como uma moeda social, criamos um ciclo econômico local", disse.

Entre os produtos criados, estão peças premiadas, como o Cobogó Mundaú em 2022 e a linha Fita, em 2024. Segundo Scheila, o início foi repleto de desafios para garantir a qualidade e o padrão da companhia e os processos foram ajustados ao longo da jornada.

"Hoje, estamos muito satisfeitos com o sucesso do projeto e o impacto positivo que geramos", destacou.

Em compromisso com o desenvolvimento e fortalecimento de comunidades locais, a Portobello também aposta na construção de um centro cultural no Bairro Jardim Progresso, em Tijucas (SC), com inauguração prevista para 2027.

A estrutura modular e sustentável, originalmente projetada para o estande da empresa na Expo Revestir 2024 e 2025, será adaptada para abrigar um ecossistema focado em educação, cultura e geração de renda para a população vulnerável.

“Será um espaço de conexão, onde não só a comunidade local poderá se beneficiar, mas também outras que queiram se qualificar. Queremos ajudar essas pessoas a se sentirem empoderadas e parte de um processo", acrescentou Scheila.

Estratégia de sustentabilidade

O Portobello Grupo tem mais de 160 lojas espalhadas por diversas regiões e uma forte presença no e-commerce. Sua principal fábrica fica localizada na cidade de Tijucas, em Santa Catarina, e é um dos maiores complexos de produção de revestimentos cerâmicos da América Latina. Além disso, há uma unidade fabril nos EUA, em Tennessee, com foco em atender o mercado americano.

Em 2023, o plano ESG da companhia passou por uma revisão para um olhar mais amplo até 2030 e atua hoje em três frentes prioritárias: eficiência, pessoas e governança.

“A sustentabilidade permeia todos os corredores da empresa. A alta liderança defende o tema com tanta força que passou a fazer parte da cultura e tem sido fundamental para fortalecer a nossa trajetória", contou Scheila.

O varejo é usado como "laboratório" para testar novos projetos, com algumas ideias sendo expandidas para franquias. Para a executiva, a inovação não está apenas em equipamentos mais eficientes, mas também no desenvolvimento destes novos produtos mais sustentáveis. "Criamos, por exemplo, porcelanatos que imitam madeira e mármore, substituindo os materiais naturais", ressaltou.

Outra aposta é a economia circular com a reutilização de resíduos, como cacos de cerâmica e argila. Hoje, a taxa de reciclagem na produção é de mais de 99%. Em Tijucas, são 40 toneladas de resíduos de papelão gerados e reciclados mensalmente, totalizando cerca de 480 toneladas ao ano.

A Portobello Shop Jardim Social (Curitiba-PR) é um dos destaques, após conquistar a certificação LEED O&M (que avalia critérios de sustentabilidade na operação e manutenção) — com a maior nota no mundo na categoria.

Atualmente, a maior fonte de emissão da companhia é pelo uso de gás natural para geração de energia em sua produção. Até 2030, a meta é atingir 50% de energia renovável em todas as fábricas. Na unidade em Tijucas, já foi possível alcançar 70% de fontes eólicas, por meio de uma parceria com a Enel.

Segundo Scheila, o maior desafio para mudar a matriz energética ainda é financeiro, visto que alternativas como biodiesel e biogás ainda não são viáveis em escala no setor.

Outra preocupação é em reduzir ao máximo os resíduos nas entregas. Pensando nisso, há sistemas para recolher as embalagens dos produtos na casa do consumidor e encaminhar para a reciclagem.

No pilar social, o foco está em promover mais inclusão e diversidade como motor de impacto nas comunidades em que atuam. Em 2024, a companhia atingiu marcos expressivos: 44% de mulheres em cargos de liderança e a formação da segunda turma de aceleração feminina na indústria.

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