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Novos estudos de eventos extremos devem auxiliar não só na compreensão das causas das mudanças, mas também orientar as medidas de adaptação e de mitigação em cenários de escassez hídrica. (NELSON ALMEIDA/AFP)
Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 16h05.
Nos últimos anos, com a entrada massiva de usinas renováveis com produção intermitente, tem sido cada vez mais importante o papel das usinas hidrelétricas para fornecer potência e serviços de segurança de rede que assegurem o equilíbrio do Sistema Interligado Nacional (SIN). Portanto, é fundamental que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) disponha de informações mais precisas sobre as vazões que chegam às usinas, para que elas possam oferecer esses serviços de maneira eficiente.
A operação do sistema está assim atrelada às condições climáticas, em especial ao volume de chuvas nas bacias hidrográficas, e também ao aumento de consumo de água para outros usos, sobretudo para irrigação. O planejamento e a programação da operação dependem, por sua vez, da elaboração de cenários de vazões para todas as hidrelétricas do SIN em horizontes de curto e longo prazo.
Desse modo, a compreensão das causas associadas a qualquer mudança ou variabilidade das condições climáticas passa a ser de essencial importância, uma vez que imprecisões sistemáticas nos cenários utilizados podem elevar os custos da energia ou resultar em um gasto excessivo da água armazenada nos reservatórios, comprometendo o planejamento. O apagão de agosto de 2023 mostra as dificuldades atuais de operação do nosso sistema elétrico.
Recentemente, um projeto do ONS teve como objetivo identificar a causalidade das mudanças nos regimes de vazões e das principais variáveis meteorológicas de interesse à operação do SIN. As análises preliminares, realizadas antes da interrupção do projeto (que precisa de aval do governo para sua continuidade), ainda não tornaram possível um entendimento abrangente sobre os fenômenos associados a essas mudanças.
Cabe destacar ainda os diversos eventos extremos que evidenciam a relevância desse projeto de pesquisa: as estiagens severas na bacia do rio São Francisco entre 2013 e 2014 e na bacia Amazônica neste ano; o esvaziamento de reservatórios na região Sudeste entre 2019 e 2021; e as cheias na região Sul, em setembro de 2023 e abril de 2024.
Isto mostra como é importante ter um diagnóstico a respeito da necessidade de regionalizar as previsões para que reflitam a diversidade do clima das bacias brasileiras. Além disso, novos estudos de eventos extremos devem auxiliar não só na compreensão das causas das mudanças, mas também orientar as medidas de adaptação e de mitigação em cenários de escassez hídrica.
Por fim, somados a outros estudos mais específicos previstos para o mesmo projeto, todos os resultados obtidos poderiam ser integrados, de modo a aprimorar a metodologia para estimativa de cenários hidrológicos e meteorológicos mensais.