Apoio:
Parceiro institucional:
Um dos projetos que está em curso é na refinaria de Três Marias (MG), onde a empresa desenvolveu um bio-óleo a partir de resíduos de eucalipto e o utiliza como combustível verde para a produção de óxido de zinco (Divulgação / Nexa )
Repórter de ESG
Publicado em 14 de agosto de 2024 às 07h00.
Última atualização em 14 de agosto de 2024 às 11h04.
Economia circular, produtividade, impacto positivo e descarbonização: estes são os quatro principais legados que a Nexa Resources – mineradora de zinco que faz parte do Grupo Votorantim – quer deixar para a sociedade. O desafio é conciliar este propósito com a mineração, atividade de enorme impacto ambiental e social. Para o gerente de inovação da empresa no Brasil, Caio Moreira Van Deursen, o caminho existe e passa por transformar a cadeia de produção para torná-la mais sustentável e atraente, o que pode ser obtido por meio da inovação.
Engenheiro de minas, Van Dursen reconhece a má reputação do setor. “No nosso inconsciente coletivo, muitos relacionam a atividade com a tragédia de Brumadinho ou Mariana, ou a uma mineração de baixa tecnologia e ao garimpo”, disse o executivo à EXAME. “Mas isso não conversa com processos feitos de forma profissional”. É fato que a mineração está por trás de muitos produtos do cotidiano – afinal, todo metal vem de algum minério. A pergunta a se fazer, então, não é se a mineração é boa ou ruim para o planeta, é como reduzir ao máximo o impacto dessa atividade necessária. “Tudo que existe, ou veio do petróleo, ou da mineração, ou da agricultura, e eventualmente da combinação dos três. Não tem saída”, afirma.
À frente da área de inovação desde 2019, Van Deursen contou que o maior desafio é fazer com que a mineradora seja uma catalisadora do desenvolvimento social, econômico e ambiental nos locais onde está inserida.
Em 2017, a Nexa buscava alavancar este impacto e lançou uma plataforma de inovação aberta, batizada de Mining Lab. A proposta é encontrar soluções em parceria com startups, universidades, pesquisadores e grandes companhias, e compartilhá-las com toda a indústria, sem patentes.
O dilema da febre do lítio na Argentina: geração de emprego e falta de águaEm 2021, foi lançada a primeira edição do programa "Mining Lab Beginnings", que busca todos os níveis de maturidade para resolver desafios complexos. É o caso de materiais provenientes das suas operações, como a Jarosita -- mineral gerado na unidade de Juiz de Fora. Seis ideias foram avaliadas e três seguem para serem escaladas, em parceria com a empresa de materiais e engenharia Geeco e a WEG Tintas, e apoio da FINEP. Atualmente, a principal parceira da plataforma é a WXO (antiga Bioware).
O laboratório já produziu inovações que são usadas em larga escala. Em parceria com a WXO (antiga Bioware), especialista em resíduos e biomassa, o Mining Lab desenvolveu um bio-óleo a partir de resíduos de eucalipto, produto que substitui o combustível fóssil na produção de óxido de zinco, matéria-prima utilizada na fabricação de pneus, por exemplo.
O projeto está em curso na refinaria de Três Marias, em Minas Gerais. Em 2023, 12 fornos, um quarto do total, foram modificados para receber o combustível renovável, e a previsão é concluir os trabalhos até 2026. Este ano, a mineradora bateu a marca de 1 milhão de litros de bio-óleo utilizado, com a produção de 3 mil toneladas de óxido de zinco.
A ideia é que a solução se torne vitrine para outros players do mercado. “Estamos buscando desenvolver contratos com fornecedores e fazer com que outras empresas usem o combustível, estabelecendo escala suficiente para que se torne um padrão na indústria. É um movimento de coragem, de compartilhar as inovações. Não queremos apenas ser descarbonizados, mas também fomentar a transformação”, disse Van Deursen.
O projeto é estratégico para atingir a meta de descarbonização da empresa, que tem o compromisso público de reduzir em 20% as emissões, o equivalente a 52 mil toneladas de CO2, até o final da década. Em 2023, a intensidade de emissões da Nexa foi de 0,44 tCO2 por tonelada de zinco produzido, cerca de oito vezes menor do que a média global do setor. Somente o projeto do bio-óleo pode gerar um corte de 25 mil toneladas de carbono equivalente.
Em meio a essa transformação do negócio, a Nexa busca compreender seu impacto nas localidades em que atua, e minimizá-lo. Como exemplo, o executivo cita a operação em Vazante, cidade com 20 mil habitantes e onde a mineração emprega 2 mil pessoas – 10% da população. “O que buscamos é uma construção de valor que vai muito além da mineração. Estamos potencializando fortalezas econômicas. E a questão é: como eu consigo desenvolver essas cadeias para que esta não seja a principal fonte de economia das regiões e diminuo essa dependência a vários contextos desfavoráveis”, explicou.
Segundo o executivo, isso é possível graças à união entre diversos atores por meio do Mining Lab e entendendo que há mais conhecimento fora, do que dentro da Nexa.