Apoio:
Parceiro institucional:
Evento de lançamento da iniciativa reuniu a Diretora de Pesquisa e Inovação da FGV, Goret Paulo; a Diretora da FGV EESP, Lilian Furquim; a Coordenadora Executiva e Cofundadora do FGV Clima, Amanda Schutze e a Coordenadora Científica e Cofundadora do FGV Clima, Clarissa Gandour, além de representantes do governo (Piti Reali/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 4 de setembro de 2024 às 14h12.
“Não é possível ter desenvolvimento socioeconômico sem falar em meio ambiente, sustentabilidade e mudança climática”, disse a diretora de pesquisa e inovação da Fundação Getulio Vargas (FGV), Goret Paulo. Foi com essa missão que a instituição de ensino lançou, em evento nesta segunda-feira, 2, o FGV Clima, um centro de pesquisa voltado à produção científica com foco na economia do clima e que se propõe a ser um impulsionador de soluções para um futuro mais sustentável e justo.
A ideia é trazer a expertise de economistas, cientistas e especialistas da área para gerar conhecimento técnico sobre o tema e disseminá-lo para todos os atores envolvidos no combate à emergência climática: governo, empresas, instituições de pesquisa e sociedade civil. “É deixar claro o benefício da ciência para cada um de nós”, complementou Goret.
Amanda Schutze, Coordenadora Executiva da FGV e uma das cofundadoras da iniciativa, explica que as duas palavras-chave do projeto são: conhecimento e disseminação. “Passar informação clara e acessível a todos os setores é fundamental para fortalecer a ação climática. Quando compartilhamos nossas análises e dados, aumentamos a transparência e facilitamos o monitoramento e implementação de políticas públicas mais eficazes”, destacou.
Clarissa Gandour, também cofundadora, acredita que o diferencial do centro em meio a tantas outras iniciativas que vêm surgindo nesta direção é justamente seu foco na convergência entre as duas áreas. “É mais economia em clima e mais clima em economia. O centro foi concebido para aproximar esses dois mundos e colocá-los a serviço da sociedade brasileira”, disse.
Uma das lacunas que a iniciativa quer resolver é o fato de a imensa produção acadêmica existente nem sempre conversar com a questão climática, ao mesmo tempo que deveria ser tratada de forma interdisciplinar e estar no cerne do debate. “Os economistas também não têm participado ativamente da discussão e das tomadas de decisões, é muito aquém do seu potencial”, acrescentou Gandour.
Entre os benefícios que a economia do clima poderia trazer estão o aprimoramento da política pública para torná-la mais efetiva, a gestão mais adequada dos riscos climáticos e a precificação de seus custos.
As pesquisas serão integradas para abranger os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), em especial os de saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de gênero, cidades sustentáveis, redução das desigualdades, trabalho, ação contra a mudança global do clima e paz e justiça.
Como primeiro projeto, o FGV Clima firmou uma parceria com o Governo Federal para fornecer apoio técnico na elaboração do Plano Nacional de Transição Energética, em temas como justiça climática, preservação da Amazônia, fontes de energias renováveis e uso sustentável da terra.
Ana Toni, Secretária Nacional de Mudança do Clima, do Ministério do Meio Ambiente e de Mudança do Clima (MMA), celebrou a iniciativa e destacou que o fato de o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima estar atualmente alinhado com o da Fazenda acontece pelo mesmo entendimento do clima como peça essencial para o desenvolvimento socioeconômico. “Há uma consciência de que os temas andam abraçados e, com esse mesmo espírito, estamos desenvolvendo o novo Plano Clima, que debate tanto mitigação como adaptação”, disse.
Embora o governo tenha modelos climáticos que dialogam com a economia, Toni explica que o vocabulário do clima ainda fica muito limitado a custo. “Ainda gira muito em ‘quanto custa, quem paga’, perguntas para as quais nem sempre temos as respostas, pois faltam estudos específicos – eu diria em todos os setores”. Ainda segundo ela, é preciso pensar não só em nível de descarbonização, mas também em novos mecanismos econômicos que começam a surgir. “Estamos fazendo esforços, mas certamente podemos pensar em conjunto com a academia e monitorar por institutos, como o agora FGV Clima. Talvez se estivéssemos fazendo isso há 6 ou 7 anos, estaríamos muito mais robustos no nosso plano”.
Thiago Barral, Secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento, do Ministério de Minas e Energia (MME), acrescentou que o Brasil precisa estar à frente para liderar a transição energética e que a discussão passa a ser também um processo competitivo de posicionamento nesta nova economia.
“Precisamos reconhecer que a transição energética é de extrema complexidade. Se nos deixarmos levar pela ideia de que é fácil e rápido e que não há tensões e conflitos, estaremos sabotando o processo e atrasando as respostas para os desafios”, destacou.
Para Walter Figueiredo De Simoni, Gerente de Política Climática, Instituições e Direito no Instituto Clima e Sociedade, o Centro do Clima surge como ferramenta poderosa e também pode melhorar o posicionamento do Brasil na COP30. “A urgência que o clima demanda depende da transversalidade. Temos desafios peculiares como país para lidar, como a desigualdade. E o ponto é que não temos tempo para fazer estudos que vão ficar numa gaveta. O que produzimos precisa ser comunicado ao tomador de decisão, seja qual for o setor, e também para a população”, defendeu.
Para além do combate à crise climática, o novo centro busca novas oportunidades econômicas. “Pensar também nas vantagens dos investimentos e não esquecer que o custo da inação, de perdas e danos, é muito maior que o investimento em mitigação e adaptação”, concluiu Toni. A jornada é longa e árdua, mas é possível fazer uma transformação duradoura, acredita a FGV.