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Plástico de cartões e máquinas de pagamento dos últimos 10 anos equivalem a 20 estádios do Maracanã

Manifesto da consultoria O Mundo que Queremos traz informações sobre o impacto do mercado financeiro brasileiro na produção de plásticos

Cartões de crédito e maquininhas: Nos últimos dez anos, foram produzidos cerca de 450 milhões de cartões de débito e crédito e 95 milhões de maquininhas de pagamento no Brasil (Getty Images/Reprodução)

Cartões de crédito e maquininhas: Nos últimos dez anos, foram produzidos cerca de 450 milhões de cartões de débito e crédito e 95 milhões de maquininhas de pagamento no Brasil (Getty Images/Reprodução)

Fernanda Bastos
Fernanda Bastos

Repórter de ESG

Publicado em 21 de agosto de 2023 às 07h00.

Última atualização em 29 de agosto de 2023 às 10h08.

Em um mundo no qual os cartões e máquinas de pagamento são cada vez mais fabricados, o impacto do uso do plástico aumenta, é o que mostra o estudo Dinheiro Sem Plástico: Manifesto pelo fim dos cartões e maquininhas no mercado de pagamentos brasileiro, realizado pela agência O Mundo Queremos. Atualmente, a área ocupada pelos cartões e maquininhas dos últimos 10 anos no Brasil é equivalente a 20 vezes a do Maracanã, o Estádio Jornalista Mário Filho, localizado no Rio de Janeiro. Só no ano passado, foram produzidas 20 milhões de maquininhas no Brasil, um aumento de quase 500% se comparado ao total de 2012.

Somente nos últimos dez anos no Brasil foram emitidos cerca de 450 milhões de cartões de débito e crédito, além de 95 milhões de maquininhas de pagamento. Este contingente, que representa mais de 15 mil toneladas de plástico no mercado, equivale a 14 vezes o peso do Cristo Redentor, é o que diz o relatório. Por esse motivo, o documento ressalta a necessidade de ações mais agressivas para reduzir o uso de plástico no setor de pagamentos. 

Segundo informações do Banco Central (BC), o Brasil conta com um dos sistemas bancários mais sofisticados do mundo, porém muito material é produzido nesse processo, que não conta com o descarte e reinserção correta.  “Muitas vezes argumentam que eliminar os plásticos é impraticável. Quando uma grande empresa do setor decide mudar suas práticas, fica evidente que é possível eliminar os plásticos com a tecnologia existente, respeitando os usuários e mantendo competitividade econômica. Se uma empresa faz isso, significa que o sistema financeiro brasileiro pode rodar sem o plástico”, disse Alexandre Mansur, diretor de projetos do Mundo Que Queremos, em entrevista exclusiva à EXAME ESG.

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Segundo informações do manifesto, os cartões de crédito, feitos de plástico PVC, podem demorar mais de 600 anos para se degradar completamente, os polímeros de plástico – estruturas moleculares do material – podem ser encontrados no fundo dos oceanos ou até no leite materno. Muito já é pesquisado sobre a relação do consumo do plástico com quadros como o aparecimento de câncer e outras doenças. 

O plástico e o setor financeiro

De acordo com a Statista, uma fornecedora de dados de mercado, o número de cartões de débito, crédito e pré-pagos em circulação pode alcançar a marca de quase 30 bilhões neste ano. Dados do Serasa afirmam que cerca de 70% dos brasileiros têm três ou mais cartões.

Isso sem contar outras modalidades de cartões como cartões de plano de saúde, chips de celular e bilhetes de ônibus. Mas falando especificamente dos cartões de crédito, se eles forem enfileirados, seriam capazes de dar um pouco mais de uma volta ao redor do planeta terra na linha do Equador. 

“Hoje se discute sobre como criar plásticos biodegradáveis para que o impacto no meio ambiente seja menor. Mas quando falamos do setor financeiro, podemos ir além de simplesmente acabar com o uso do plástico no ato de pagar. Queremos a partir de dados e fatos mostrar que é possível substituir o cartão de plástico e a maquininha pelo smartphone, um aparelho que os consumidores e comerciantes usam todos os dias”, afirma Luis Silva, fundador e CEO da empresa de ecossistemas de pagamento CloudWalk e dono da InfinitePay, companhia que oferece opções smart e digitais de pagamento.

A necessidade da reciclagem de plásticos

A reciclagem e a coleta seletiva se mostram como essenciais para a gestão desses resíduos. Mas, somente essas alternativas não são capazes de resolver o desafio do plástico no setor financeiro. No Brasil, muitos locais não contam com a infraestrutura necessária para triagem e reciclagem. Os cantadores são muito importantes para o processo, mas a falta de capacidade de processar materiais tornam o trabalho com o plástico bastante complexo. 

Os plásticos não são os materiais mais fáceis de reciclar, porque contam com muitos outros materiais misturados. Por isso, a reciclagem do plástico se torna mais cara e exige outros tipos de tecnologia, o que gera um custo-benefício pouco atrativo. Segundo o relatório, a taxa de reciclagem no Brasil ainda é baixa. Também é necessário conscientizar os consumidores para o descarte correto. 

“Muitas clientes têm receio de como descartar os cartões antigos e acabam jogando aquele material com os resíduos orgânicos. Reciclar plástico é mais difícil do que outros materiais, como alumínio. Primeiro porque o valor por quilo do plástico é pequeno. Segundo porque há muitos tipos de polímeros e eles não se misturam”, diz Mansur. De acordo com ele, pela quantidade de emissão de novos cartões, apenas a reciclagem não é suficiente, é preciso repensar a cadeia de produção para produção de alternativas mais limpas e renováveis para lidar com o dinheiro. 

Alternativas de pagamento

O relatório propõe eliminar gradativamente as maquininhas e os cartões, como uma forma de revolucionar a tecnologia de pagamentos no Brasil. Um exemplo é a alternativa do “Tap to Pay” (do inglês, toque para pagar) que permite um funcionamento dos celulares como se fossem as próprias maquininhas de crédito. O uso de cartões digitais também podem diminuir o uso do plástico – que é um sistema que está ganhando proeminência nas empresas brasileiras segundo o banco de investimentos, UBS.  

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), os pagamentos por aproximação cresceram 187%, totalizando R$ 572,4 bilhões no ano passado. Para 2023, a expectativa da associação é que os pagamentos feitos por essa modalidade cheguem a 60%.

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